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Cidades

“Gostei muito da democracia”, diz médico cubano que vai ficar em MS

Em entrevista ao repórter Kleber Souza da rádio Rio Pardo News, Frank Salomon elogiou o regime político brasileiro e o SUS (Sistema Único de Saúde)

Izabela Sanchez | 08/12/2018 14:42
Médico cubano, Frank Solomon trabalhou no Mais Médicos em Ribas do Rio Pardo (Foto: Divulgação/Prefeitura de Ribas do Rio Pardo)
Médico cubano, Frank Solomon trabalhou no Mais Médicos em Ribas do Rio Pardo (Foto: Divulgação/Prefeitura de Ribas do Rio Pardo)

No dia 14 de novembro Cuba anunciou que deixaria a parceria firmada com o Brasil e com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) no âmbito do programa Mais Médicos. Com a decisão, mais de 8 mil profissionais deixaram os anos de aprendizado no Brasil e voltaram ao país de origem. Em Mato Grosso do Sul, no entanto, ao menos um deles decidiu ficar. É o médico que atuou no programa em Ribas do Rio Pardo, a 103 km de Campo Grande, Frank Salomon.

Por amor à esposa brasileira com quem divide a rotina há dois anos, e também, com sonhos de fazer uma carreira no Brasil, o médico decidiu ficar na cidade do interior do Estado. Em entrevista ao repórter Kleber Souza no site local Rio Pardo News, o médico elogiou a democracia brasileira que, segundo ele, demonstrou ser pacífica.

“Gostei muito da democracia do Brasil, sobretudo naquele ano, segunda eleição de Dilma, do jeito pacífico. A Dilma ganhou por pouca diferença de votos, e o jeito pacífico que transcorreu tudo. Eu comentava com a minha mulher a diferença de outro país onde morei que a eleição foi com bastante violência, por exemplo a Venezuela. Na Guatemala vivi tempos de eleição e a violência era a toda hora na rua e foi muito diferente aqui no Brasil. Sempre gostei do jeito democrático desse país. Quando precisou sair nas ruas saiu na rua e quando precisou de paz teve paz e gostei desse estilo da democracia”, elogiou.

Outro ponto positivo do país, para ele, é o SUS (Sistema Único de Saúde). Na entrevista, ainda assim, Frank pontuou que o Sistema precisa deixar de ser uma teoria e se tornar uma prática. “O SUS está muito bem desenhado no papel, falta só levar a prática tudo que está escrito no SUS”, comentou.

O médico Frank Solomon (Foto: Kleber Souza/Rio Pardo News)
O médico Frank Solomon (Foto: Kleber Souza/Rio Pardo News)

Dificuldades – O médico cubano afirma não ter encontrado muitas dificuldades durante o trabalho. Os problemas, no entanto, existem, citou ele, a exemplo da falta de medicamentos e da demora para encaminhar um paciente para consulta com médicos especialistas.

“A demora, principal problema, de meses para marcar uma consulta. Sempre o remédio que chega no postinho, tem meses que chega mais um pouco, outros escasseia um remédio ou outro dos mais comuns, mas acredito que não sejam grandes problemas na hora de comparar com outras cidades”, contou.

Além disso, o profissional também relatou que certas patologias, a exemplo da hanseníase e da leishmaniose, representaram desafios, já que em Cuba, afirmou, essas doenças estão controladas.

“Aqui no Brasil não deixa de ser uma grande experiência, ainda mais pelas características do Brasil, um grande país com tamanho continental, com climas de todo tipo, com doenças que não tive oportunidade de trabalhar com elas anteriormente em Cuba e em outros países e foi uma experiência boa. No final toda a aprendizagem é bem recebida. Foi bem bonito. Embora sempre fique o desejo de fazer um pouco mais, sobretudo pela população humilde do nosso posto de saúde”, disse.

Mais Médicos – Em Mato Grosso do Sul 115 profissionais atuavam em todo o Estado. A saúde indígena é mais afetada pela saída dos médicos do país caribenho. O Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) de Mato Grosso do Sul contava com 11 profissionais. Além do Distrito, a saúde básica em Corumbá tinha 10 profissionais e Dourados, 9.
O comunicado de Cuba ao anunciar o fim da parceria cita "referências diretas, depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) à presença dos médicos cubanos no Brasil.

O país caribenho envia profissionais para trabalhar nas regiões mais carentes do país desde 2013, quando a gestão de Dilma Rousseff (PT) criou o Mais Médicos. A nota do governo cubano não informa a data que médicos deixarão o Brasil.

O presidente eleito, que em agosto, durante a campanha, havia falado em “expulsar” os cubanos do Brasil, reagiu. “Condicionamos à continuidade do programa Mais Médicos a aplicação de teste de capacidade, salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias. Infelizmente, Cuba não aceitou”, publicou no Twitter.

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