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Capital

“Fui pega de surpresa”, conta dona de casa que alugava quarto para “hacker”

Locadora diz que perdeu contato com Eurico dos Santos Matos, de 28 anos, quando ele foi levado pela polícia para depor

Anahi Zurutuza e Clayton Neves | 21/11/2019 10:48
Eurico dos Santos Mota, testemunha-chave de investigação sobre execução atribuída à milícia alvo da Operação Omertà preso (Foto: Direto das Ruas)
Eurico dos Santos Mota, testemunha-chave de investigação sobre execução atribuída à milícia alvo da Operação Omertà preso (Foto: Direto das Ruas)

“Uma situação muito constrangedora”, descreve a moradora das Moreninhas que alugava quarto para Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, preso nessa quarta-feira (20) em Joinville (SC) por envolvimento com a milícia investigada na Operação Omertà. A frase da dona da casa se refere ao dia 23 de abril, quando segundo ela, a polícia cercou a residência atrás do técnico em informática.

“Fui pega de surpresa”, completou. Com medo da repercussão da prisão e de tudo o que se ouviu até agora sobre o grupo de extermínio investigado, ela quis falar pouco. “Não tenho nada a ver e tenho criança pequena”, disse à equipe do Campo Grande News.

A locadora, contudo, deu algumas informações sobre o inquilino, que desde abril não teve mais notícia. “Eu não ficava perguntando para onde ele ia, o que ia fazer, mas era uma pessoa tranquila. Não era de sair muito, tinha uma paquerinha aqui, outra ali”.

Ela revela que alugou o quarto para Eurico em dezembro de 2018. Ele era de Rondonópolis (MT) e tinha vindo a Campo Grande para fazer curso de vigilante e por causa de uma proposta de emprego. O técnico em informática ficou na casa dela até abril, quando foi levado pela polícia para depor e teve o quarto vasculhado.

“Ele era apenas um inquilino e infelizmente isso aconteceu dentro do meu território”, completou a entrevista.

Perícia trabalhando na Rua Antônio da Silva Vendas, no Jardim Bela Vista, em Campo Grande, onde Matheus foi fuzilado (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Perícia trabalhando na Rua Antônio da Silva Vendas, no Jardim Bela Vista, em Campo Grande, onde Matheus foi fuzilado (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Peça-chave – Segundo a polícia, o homem é peça-chave na investigação sobre o assassinato de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, morto com tiros de fuzil que eram destinados ao pai dele, no dia 9 de abril deste ano.

Conforme a investigação, Eurico foi “contratado” para hackear o celular de Paulo Roberto Teixeira Xavier, capitão da PM e pai de Matheus, e rastreá-lo em tempo real. O serviço não chegou a ser executado, segundo o depoimento do técnico de informática, mas foi ele quem deu à polícia o nome de Juanil Miranda Lima, um dos executores do jovem estudante de Direito, de acordo com a apuração.

O técnico em informática foi ouvido pela DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) no dia 23 de abril, 14 dias depois da execução de Matheus. À época, ele disse à polícia que tinha medo de morrer e foi liberado após prestar depoimento porque se comprometeu a colaborar com as investigações.

Eurico disponibilizou acesso integral às suas conversas do WhatsApp, Facebook, Instagram, Menssenger, e-mail e deixou para a polícia seu celular desbloqueado. Ele também não pediu para depor acompanhado de advogado e nunca respondeu a processo criminal.

O pedido de prisão, porém, é embasado na tese de que quem contribui para a execução de um crime, deve responder pelo mesmo, previsto no artigo 29 do Código Penal. A polícia também constatou que Eurico mantinha contato frequente com os pistoleiros, informação que não foi relatada por ele no depoimento dado antes de desaparecer.

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