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Capital

“Não vou assumir um crime que não cometi”, diz comparsa de Nando

Claudinei Augusto Orneles Fernandes prestou depoimento nesta tarde, durante audiência no fórum de Campo Grande

Geisy Garnes | 29/10/2018 18:25
Escavações no local em que ficou conhecido como "cemitério do Nando" (Foto: Adriano Fernandes/Arquivo)
Escavações no local em que ficou conhecido como "cemitério do Nando" (Foto: Adriano Fernandes/Arquivo)

“Não vou assumiu um crime que não cometi. Nada disso saiu da minha boca. Se fosse eu, ia chegar e colocar tudo na mesa, porque já estou preso doutor”. Foi defendendo sua inocência que Claudinei Augusto Orneles Fernandes, de 26 anos, prestou depoimento na sala de audiência da 1ª Vara do Tribunal do Júri nesta segunda-feira (29).

Apontado como um dos comparsas de Luiz Alves Martins Filho, o Nando, em uma série de assassinatos no Bairro Danúbio Azul, Claudinei falou pela primeira vez em juízo sobre a morte de Aparecida Adriana da Costa. Malu, como era chamada, foi morta aos 37 anos no local em que ficou conhecido como "cemitério do Nando", no Jardim Veraneio.

Diante do juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida, Claudinei desmentiu dez páginas de confissão feitas na DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crime de Homicídio). Ele afirmou em depoimento nunca ter dito nenhuma palavra sobre a morte de “Malu”, ou qualquer um dos outros cinco crimes em que é réu.

“Nada disso saiu da minha boca”, reforçou mais de uma vez. Para o juiz, ele narrou que se apresentou à delegacia especializada no início de dezembro, após descobrir que era procurado pela polícia. No mesmo dia, foi levado a uma sala de interrogatórios, onde afirma ter negado todos os crimes.

Claudinei não saiu mais, ficou preso e foi transferido para uma cela da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico). “Eles iam todos os dias lá, fechavam a delegacia e iam. Antes do natal chegaram com os papéis e falaram “você não vai assinar?”. Eu assinei, tava apanhando há 18 dias, cuspindo sangue. Tossia e saia sangue”, relatou.

Segundo ele, as dez páginas de depoimento foram assinadas sem ler. Dias depois foi transferido ao IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), onde recebeu ajuda de outros presos. “Os outros presos que foram me dando remédio e eu fui melhorando”, contou Claudinei, que ainda lembrou ter tomado antibiótico.

Diante do Ministério Público Estadual, do juiz e do defensor público, ele reforçou que jamais confessou crime algum, que nunca sentou para prestar depoimento e o depoimento detalhado entregue à justiça “não tem nada a ver”.

Claudinei também negou ligação com Nando. Para o juiz ele contou que conheceu o serial killer no trabalho e que os dois conversavam muito pouco. “Não tenho nada a ver com esse cara. Não considero ligação, nem amizade. O que ele fazia depois que entra no carro dele eu não sei”, destacou.

“Queria saber porque esse cara fala essas coisas ai. Ele tá mentindo. Deve estar escondendo outra pessoa e não quer falar”.

Nando está preso desde dezembro de 2016 (Foto: André Bittar)
Nando está preso desde dezembro de 2016 (Foto: André Bittar)

Confissão - Também prestou depoimento nesta tarde o adolescente de 16 anos, que teria participado do crime. Ao contrário de Claudinei, ele confessou participação na morte de “Malu” e confirmou o envolvimento dos outros dois comparsas.

Claudinei justificou as acusações explicando que teria uma rixa com o adolescente. “Eu emprestei a minha bicicleta para ele e ele vendeu. Ai virei a cara para ele”.

Após ouvir Claudinei, o defensor público Gustavo Henrique Pinheiro Silva também pediu para que os presos que socorreram o réu no presídio e familiares dele, que supostamente estariam com ele no dia do homicídio de Malu, fossem chamados para depor. 

Durante a audiência, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida ainda determinou que o laudo psiquiátrico de Nando, feito em fevereiro deste ano pelo médico psiquiatra Rodrigo Abdo, seja anexado no processo. No documento, o serial killer é diagnosticado com transtorno da personalidade dissocial grave e transtorno da personalidade paranoica grave, ou seja, psicopatia grave.

O laudo, defende ainda que o réu era inteiramente capaz de entender o caráter criminoso de cada caso, e por isso deveria continuar “afastado da sociedade”. O próximo depoimento sobre o caso deve ser o de Nando, no dia 14 de novembro. Ele será ouvido por videoconferência, já que passa por tratamento contra tuberculose.

O crime - Segundo as investigações da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), no dia 2 de agosto de 2014, Nando e Claudinei, com a ajuda do adolescente de 16 anos, atraíram “Malu” para a região do Jardim Veraneio e lá à mataram asfixiada com um correia da máquina de lavar.

Na época com 37 anos, a vítima também foi ferida com golpes de uma barra de ferro e depois de morta, amarrada pelo pés em um carro e arrastada por cerca de 350 metros, até o local em que foi enterrada, na região conhecido por servir de “cemitério clandestino” para o grupo.

Para à polícia, Nando e Claudinei alegaram que a vítima foi morta por cometer furtos contra os moradores do Bairro Danúbio Azul. Já o adolescente afirmou que participou do crime para vingar a morte do irmão, que aconteceu em 2006. Segundo ele, “Malu” estaria envolvida no homicídio.

Na denúncia do MPE, feita pela promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani, da 19º Promotoria de Justiça de Campo Grande, os suspeitos respondem por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e corrupção de menores.

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