"Vídeo vergonhoso" e prova plantada são citados em acusação contra Moon
Vídeo que circulou nas redes sociais desqualificava pontos do inquérito; promotoria desqualificou ponto a ponto
Em uma hora de sustentação oral, a promotoria apontou erros na versão dada pela defesa do policial rodoviária federal Ricardo Hyun Su Moon e desqualificou vídeo que circulou nas redes sociais, que desconstruía a imagem da vítima, o empresário Adriano Correia do Nascimento.
Moon está sendo julgado pela morte de Adriano Correia, 33 anos, ocorrida na manhã de 31 de dezembro de 2016, em Campo Grande. Na versão dele, os sete tiros foram disparados em legítima defesa, porque o empresário tentou fugir depois que Moon se identificou como policial. Na acusação, houve briga de trânsito e o policial agiu em excesso, executando o rapaz.
“Esse vídeo é vergonhoso (...) expor uma pessoa com inverdade não é correto”, disse a promotora Lívia Carla Guadanhim Bariani. O vídeo foi divulgado pelo sindicato dos policiais rodoviários e mostra cinco pontos que seriam contraditórios na acusação contra Moon.
A promotora exibiu o vídeo e pausava a cada item para expor as contradições ao corpo de jurados, formado por cinco homens e duas mulheres. Entre os pontos mencionados, a tentativa de desqualificar a vítima, dizendo que ele estava embriagado, usado medicamentos e respondia a processo por agredir funcionária.
“Adriano bebeu, mas só descobriram depois que ele morreu”, disse a promotora. Sobre os processos, um deles, de furto de energia, a promotoria disse que Adriano havia sido beneficiado com suspensão condicional processo, por ter bons antecedentes. Neste caso, obedece regras determinadas pela Justiça e, em caso de descumprimento, a ação volta a tramitar.
Em relação a agressão da funcionária, disse que a pessoa havia desistido da ação. No vídeo, são listadas as qualificações e condecorações de Moon. “Se for assim, os que mataram a Marielle também tinham várias condecorações”, citou, lembrando o envolvimento de policiais na morte da vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro.
A acusação também questionou a versão em que Moon alega ter tido pouco tempo entre a abordagem e a ação. Lívia Bariani disse que, somente a ligação dele à PM (Polícia Militar) durou sete minutos.
A tese de legítima defesa também é desqualificada pela conduta de Moon na ação. “Quem procura o perigo, não pode alegar legítima defesa”, avaliou.
Prova plantada – além da promotora, a sustentação também foi feita pelo assistente da acusação, Irajá Messias Pereira. Para ele, o caso foi “um banal acidente de trânsito, ocorrido pelo temperamento agressivo do réu”. Pereira disse que Moon sofre de “síndrome de autoridade”.
O assistente questiona a versão de que Moon estava posicionado na frente do veículo de Adriano Correia e seria atropelado se não atirasse. “Ele não teria condições de dar pulo para o lado e atirar, tudo ao mesmo tempo”, disse. Se isso ocorresse, teria que dar pulo grande para poder efetuar os disparos.
Pereira também lembrou do episódio dos dois flambadores encontrados no veículo de Adriano Correia, atestado posterioremente que foram provas plantadas para abalizar a versão de Moon, de que teria visto objeto na mão de terceira pessoa na caminhonete. A prova plantada foi descoberta, mas, até agora, sem autoria definida.