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Capital

À procura do irmão, mulher sai pelos becos da noite de Campo Grande

Mariana Lopes | 29/03/2012 19:13
Sem perder a esperança de encontrá-lo, ela sai toda semana, durante a noite, em busca do irmão. (Foto: João Garrigó)
Sem perder a esperança de encontrá-lo, ela sai toda semana, durante a noite, em busca do irmão. (Foto: João Garrigó)

Com o irmão desaparecido desde o dia 11 de janeiro de 2012, Sandra Pimenta, 38 anos, iniciou uma saga em busca de Rodrigo Wanick Miranda Ferreira, 33 anos, pelas ruas de Campo Grande. Sem perder a esperança de encontrá-lo, ela sai toda semana, durante a noite, junto com uma equipe do Cetremi (Centro de Triagem e Apoio ao Migrante), por praças e becos da cidade.

“Muita gente diz que viu o Rodrigo perambulando pela cidade, mas em regiões diferentes. Isso me faz ter a certeza de que estou perto de encontrar meu irmão”, conta Sandra, com os olhos que chegam a brilhar quando fala da expectativa.

Na noite desta quarta-feira (28), a reportagem do Campo Grande News acompanhou um pouco da saga de Sandra. O percurso começou às 18h, em frente ao Mercadão, onde um jovem identificou Rodrigo através da foto do cartaz que estava nas mãos dela.

Tiago Evangelista dos Santos, 26 anos, trabalha junto com as índias que vendem produtos regionais ali e disse que viu o homem há cerca de uma semana, sentado em um bar em frente ao prédio da rodoviária antiga de Campo Grande. “Sou bom de fisionomia, tenho certeza de que é ele”, diz. Tiago conta que ele está mais magro, barbudo e com o cabelo maior do que na foto.

Becos – A próxima parada da Kombi do Cetremi foi debaixo da ponte na entrada da Vila Nhá-Nhá, lugar de refúgio para muitos moradores de rua. Corajosa e determinada, Sandra não se intimida ao ter de enfrentar este tipo de situação, quando, muitas vezes, encontra pessoas sob efeito de drogas e álcool.

“No começo eu tinha um pouco de medo, mas o meu desejo de achar o Rodrigo é tão grande que até esqueço que pode ser perigoso”, declara.

Rodrigo não estava ali. Mas a noite estava apenas começando, e a cada parada, em vez de desanimar, Sandra renovava as esperanças. O percurso continuou dentro do bairro, onde eles passavam com os olhos sempre atentos às ruas.

De lá, o próximo destino foi a região da rodoviária antiga, novamente sem sucesso. No caminho, a equipe do Cetremi parava em locais específicos, os chamados "mocós". Geralmente são casas abandonadas que os moradores de rua utilizam para dormir ou se proteger do frio durante a noite.

Rodrigo e Sandra (Foto: arquivo de família)
Rodrigo e Sandra (Foto: arquivo de família)

Fim da noite – A procura por Rodrigo se estendeu até por volta das 21h. O último local foi em frente à igreja Santo Antônio, na rua 15 de Novembro, onde ela distribui os cartazes com a foto do irmão e encontrou mais uma pessoa que afirmou ter visto Rodrigo.

Mesmo tendo que voltar para a casa sem o caçula, Sandra entrou na Kombi com um sorriso no rosto e se despediu da reportagem do Campo Grande News afirmando que logo entrará em contato com boas notícias.

Início da saga - Caçula de 5 irmãos, Rodrigo sofre de esquizofrenia e em outubro havia recebido alta do Hospital Psiquiatra, em Paranaíba, onde mora com a mãe. Segundo Sandra, durante o período em que ele estava internado, ela havia prometido que assim que recebesse alta, o traria para a Capital para morar com ela.

“Entre todos os irmãos, eu sempre fui a mais apegada ao Rodrigo, mas não tinha condições de trazê-lo para cá no momento, precisava primeiro organizar minha casa e minha família para recebê-lo”, explica.

Sandra ainda conta que o irmão havia parado de tomar os medicamentos pouco antes de desaparecer. Após o sumiço, a família teve a primeira notícia dele por um caminhoneiro, que afirmou ter visto Rodrigo pedindo carona em Água Clara.

A segunda informação chegou de um senhor que havia dado carona a Rodrigo até Inocência. O itinerário levou a família a acreditar que Rodrigo estivesse a caminho de Campo Grande. “Tenho certeza de que ele veio para cá porque eu não fui buscá-lo”, conta Sandra, deixando escapar o sentimento de culpa que carrega por não ter cumprido a promessa que fez ao irmão.

Embora a procura seja longa e Sandra tenha terminado muitas noites com a frustração de não encontrar o irmão durante suas andanças noturnas, a esperança não se apaga no coração da família. “Desde o dia que Rodrigo sumiu, minha mãe dorme todos as noites com a porta de casa aberta, porque ela acredita que ele vai voltar”, diz Sandra.

Contato - Quem tiver informações do paradeiro de Rodrigo, pode entrar em contato pelo telefone 8150-4999.

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