ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 31º

Capital

Alagamento de condomínios é resultado de falhas no projeto e falta de drenagem

Reforço na drenagem interna e nivelamento de terreno poderiam evitar alagamentos nos residenciais, avalia secretário

Silvia Frias | 15/02/2021 16:09
No dia seguinte, lama, pedras e muita sujeira deixada pela chuva (Foto: Marcos Maluf)
No dia seguinte, lama, pedras e muita sujeira deixada pela chuva (Foto: Marcos Maluf)

“Conforto, requinte e segurança. Essas são as principais características do Residencial Guaicurus por um preço mais do que acessível. Quer conhecer melhor a sua futura casa própria? Confira no vídeo e torne este sonho realidade!”

O anúncio em rede social, publicado em 2017, que precede o vídeo produzido para atrair compradores, soa hoje como deboche para moradores dos residenciais Guaicurus I e II, no Jardim Monumento.

Pela 6ª vez desde que as casas foram entregues, a enxurrada invadiu o condomínio, levando lama e causando destruição. A prefeitura diz que a solução definitiva passa pela drenagem e pavimentação de bairros próximos, mas aponta falhas na construção como parte do problema.

“A construtora quando fez deveria ter pensado em reforço na drenagem por baixo do condomínio, mas fez como se tivesse em um nível acima”, disse o secretário Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, Rudi Fiorese.

Buracos foram abertos para escoamento da água (Foto: Marcos Maluf)
Buracos foram abertos para escoamento da água (Foto: Marcos Maluf)

Esta ausência de nivelamento do terreno é outro problema no planejamento da obra, de acordo com Fiorese: os residenciais Guaicurus I e II foram construídos abaixo do nível da avenida. Aliado à falta do reforço dessa drenagem para captar e escoar a enxurrada, o condomínio se torna um caminho para as águas da chuva, atingindo, principalmente, as casas que ficam ao fundo, na área mais baixa do terreno.

“A gente sabe que alguém tem culpa, mas é um empurrando para o outro e ninguém se responsabiliza, desabafou a síndica do Residencial Guaicurus II, Juliana Ferreira de Aquino.

Desta vez, 8 das 19 cadas desse residencial foram atingidas pela enxurrada, todas, localizadas na parte mais baixa. A chuva inundou a avenida Guaicurus que não suportou a enxurrada e fez do corredor do condomínio um “rio”, desembocando nas casas dos moradores. Eles perderam móveis, roupas e vão ter que arcar com limpeza e conserto de veículos que ficaram praticamente submersos.

Na máquina de lavar, a sujeira mostra onde água chegou (Foto: Marcos Maluf)
Na máquina de lavar, a sujeira mostra onde água chegou (Foto: Marcos Maluf)

No Guaicurus II, com 28 casas, também houve estragos. O Residencial Guaicurus III, vizinho aas outros, fica em parte mais alta e não foi atingido.

Esta, contabiliza Juliana, é a 6ª vez que a chuva inunda imóveis no local. Na última, em outubro de 2019, a enxurrada também atingiu 8 casas, mas duas localizadas na entrada, perto do portão e outras 6 nas ruas de baixo.

Naquele período, Rudi Fiorese foi até o local, acompanhado do advogado Guilherme Cury, representante da Schwab e Balbino Construção e Incorporação, empresa com sede no Rio de Janeiro, responsável pelos residenciais.

À época, a solução paliativa encontrada pela prefeitura foi a limpeza das bocas de lobo e abertura de outras nas ruas do entorno. A definitiva, que é a drenagem e pavimentação dos bairros adjacentes dependeria de verbas, o que não estava previsto em 2019.

Também naquele período, o advogado Guilherme Cury havia dito que “não havia inconsistências” com o projeto, idelizado em 2013 e que o problema dependida de solução da prefeitura.

Em entrevista nesta segunda-feira,  Fiorese avalia que o problema poderia ter sido evitado ainda na planta. “Acredito que caberia ao empreendedor, a empresa que fez aquilo [residencial] analisar um pouco melhor, não sei se foi questão de custo, ou fica limitado”, disse.

Água invadiu carros dos moradores (Foto: Marcos Maluf)
Água invadiu carros dos moradores (Foto: Marcos Maluf)

A solução definitiva, ou seja, a implantação de drenagem nas vias transversais à Avenida  Guaicurus, que formam os bairros da margem direita, sentido Gury Marques/Lagoa da Prata, depende de verba que ainda não está prevista no orçamento. Fiorese explica que o prefeito tem reunião com a bancada federal no dia 23 de fevereiro e deve discutir destinação de recursos para serviços como esse.

Inclinação - O engenheiro civil Ricardo Schettini Figueiredo, colaborador do Crea-MS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de MS) disse mesmo com as obras executaas no condomínios – drenagem própria, bocas de lobo, galerias e caixas de amortecimento de água – e a drenagem em frente ao local, da prefeitura, na Avenida Guaicurus, deve se levar em conta a inclinação do terreno.

“É uma inclinação fortíssima”, disse Schettini, calculando que são cerca de 30 metros de desnivelamento a partir de onde a água começa a descer, na rua Eva Peron, no Jardim Centenário até aquele ponto da avenida Guaicurus.

É caminho de aproximadamente um quilômetro em que a chuva começa percorre, levando lixo e pedra até desembocar na parte mais baixa, em frente aos residenciais. “Essa água passa por várias ruas sem asfalto e vai levando tudo”.

O engenheiro disse que o projeto tem “lombadinha” na frente do residencial para tentar conter a água, mas a força da enxurrada pode acabar sendo mais forte. Embora acredite que a empresa responsável pela obra tenha feito o que foi possível na drenagem dos residenciais, o problema, enfatiza, assim como o secretário, só se resolve com a pavimentação e drenagem das ruas no entorno.

Estrutura – A síndica do residencial mora há 3 anos e meio no local e não chegou a ser afetada com os outros vizinhos com a enxurrada. Mas, segundo ela, isso não quer dizer que os demais moradores não tenham problemas por conta das chuvas.

“Meu problema é estrutural: infiltração, rachadura e vazamento no telhado”, lista. O último, tornou-se problema crônico que os reparos feitos não conseguiram resolver.

A síndica conta que vários moradores desistiram de morar no residencial e colocaram à venda, mas, com a situação, é missão quase impossível. No site de vendas, em 2017, consta que o imóvel de 65 m², garagem coberta, muros nas laterais e fundos era avaliado em R$ 135 mil e, que hoje, já estaria em R$ 165 mil, segundo foi dito à Juliana.

“Mas eu não acredito que seja verdade, tem gente que tá com casa a venda desde o segundo alagamento e não vende; já baixaram o preço, ultimamente, faz qualquer negócio para se desfazer da casa”.

Morador olha estragos causados no 6º alagamento (Foto: Marcos Maluf)
Morador olha estragos causados no 6º alagamento (Foto: Marcos Maluf)


Nos siga no Google Notícias