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Capital

Chuva não dá trégua, piora problema antigo e deixa moradores ilhados

Flávia Lima | 11/01/2016 15:26
Esquina da rua João Nogueira Vieira com a Avenida Sete se transforma em um rio. (Foto: Gerson Walber)
Esquina da rua João Nogueira Vieira com a Avenida Sete se transforma em um rio. (Foto: Gerson Walber)
Moradores jogam entulho nas ruas na tentativa de conter a enxurrada. (Foto:Gerson Walber)
Moradores jogam entulho nas ruas na tentativa de conter a enxurrada. (Foto:Gerson Walber)

As chuvas que atingem Campo Grande há uma semana, de forma incessante, estão alterando a rotina de moradores dos bairros Nova Campo Grande e Jardim Carioca, duas das regiões mais prejudicadas com alagamentos. A situação se agravou de tal forma, que muitas pessoas não conseguem sair de casa há pelo menos cinco dias, sendo obrigadas a cancelar compromissos profissionais e até consultas médicas.

O caos que toma conta da região não é novidade. De acordo com moradores, há mais de dez anos as ruas se transformam em verdadeiros piscinões, com a água invadindo casas. "Moro aqui há 14 anos e só ouvi promessas. Nunca vieram aqui asfaltar ou resolver o problema dos alagamentos", ressalta a aposentada Maria Teodora da Silva, moradora da Rua João Nogueira Vieira, no Jardim Carioca.

Mesmo com dificuldade de sair de casa, já que sua rua não é asfaltada, ela conta que precisa enfrentar os alagamentos, já que vende panos de prato e utensílios domésticos para reforçar o orçamento e precisa sair quase todos os dias para receber contas.

"Pego uma sombrinha e vou. No fim de semana cheguei a ficar presa na igreja porque a água subiu tanto que não tinha como sair de lá", revela. Quanto a limpeza de casa, a aposentada desistiu de se preocupar, já que a lama trazida da rua invade a garagem da casa e só pode ser removida quando as chuvas cessarem.

Sem condições de trafegar pelas ruas, os moradores chegaram a colocar uma placa de madeira na esquina das ruas João Nogueira Vieira com a Avenida Sete, em frente a uma igreja evangélica, para facilitar a passagem das pessoas. No entanto, o temporal do final da manhã desta segunda-feira (11) a madeira acabou sendo levada pela enxurrada.

Também moradora na Rua João Nogueira, a dona de casa Jociane Dias da Silva conta que para chegar ir trabalhar, coloca um chinelo até para ir até o ponto de ônibus, trocando o sapato quando entra no veículo. "Minha rua vira um lamaçal. Não dá para sair de carro", reclama.

Quem também sofrer para chegar ao trabalho é o serralheiro Erivaldo Pereira. Morador na Rua 37 há três anos, ele conta que precisa caminhar em meio a enxurrada por quase dois quilômetros até chegar na avenida onde há linha de ônibus.

"Tem dias que nem consigo sair com tanta lama. A gente chega todo sujo no  trabalho", diz. Os alagamentos constantes na região têm dificultado tanto a locomoção dos moradores, que o pedreiro Luciano Pereira Gomes deixou de levar o filho de dois anos ao posto de saúde do bairro devido a lama e ao rio em que se transformou a rua onde reside.

"Ele estava passando mal, mas como só tenho uma bicicleta, fiquei com medo de cair porque a enxurrada estava forte", conta.

O receio é o mesmo da operadora de caixa Maria de Fátima Santos Oliveira. Apesar de ter moto, ela diz que o volume de água nas ruas é tanto, que ela prefere ir a pé para o mercado onde trabalha para evitar danos em sua moto. Tenho medo de estragar o motor e fica presa no meio da água", ressalta.

Maikon Quinhão diz perder R$ 2 mil por cada período que precisa fechar o açougue. (Foto:Gerson Walber)
Maikon Quinhão diz perder R$ 2 mil por cada período que precisa fechar o açougue. (Foto:Gerson Walber)
Maria Teodoro conta que sai de casa mesmo com as ruas alagadas. (Foto:Gerson Walber)
Maria Teodoro conta que sai de casa mesmo com as ruas alagadas. (Foto:Gerson Walber)

Portas fechadas - As ruas alagadas e intransitáveis também vêm causando prejuízo aos comerciantes do bairro. No fim da manhã desta segunda-feira (11), várias lojas não abriram a portas na faixa que alaga da Avenida Sete, já que era impossível entrar em algum estabelecimento.

Um dos mais prejudicados é o comerciante Maikon de Souza Quinhões. Dono de um açougue em um dos trechos mais alagados da Avenida Sete, ele diz que na semana passada precisou fechar as portas por três dias, já que a água invadiu seu estabelecimento.

"Como os moradores também não conseguem sair de casa, os lucros não compensam", explica o comerciante, que diz perder pelo menos R$ 2 mil poe cada período que o açougue precisa ser fechado.

O prejuízo também é amargado pelo proprietário de um mercado, localizado na pista da avenida onde o alagamento é mais brando. Sem querer se identificar, o dono diz que a água não chega a entrar em seu estabelecimento, mas o movimento cai devido aos clientes que ficam ilhados em casa.

A operadora de caixa Maria de Fátima, que trabalha no local, conta que muitas pessoas tem deixado de fazer compras, à espera de uma trégua das chuvas. O problema é que mesmo após a estiagem as águas levam um mês para baixar totalmente porque aqui perto tem uma mina d'água que jorra direto na avenida", diz o açougueiro Maikon Quinhões.

Mesmo nas faixas da avenida onde não há alagamento, os problemas persistem, já que o asfalto, devido as constantes enxurradas, está repleto de buracos. Já perdi a roda do meu carro três vezes por causa das crateras. Quando chove, o risco de acidente é maior, porque não dá para ver os buracos", ressalta Maikon.

A situação precária dos bairros, aliada ao tempo chuvas, também deixa os moradores em alerta quanto a epidemia de dengue que assola a Capital há dois meses.

Em novembro, quando teve início o trabalho de coleta de pneus em borracharias da cidade pelas equipe do Exército, o Jardim Carioca foi um dos primeiros bairros a receber a ação. Na ocasião, também foram realizados mutirões para a retirada de entulho, porém, já é possível observar restos de obras, lixo e até móveis jogados em algumas esquinas, o que contribui com a proliferação de focos do mosquito Aedes aegypti.

"Difícil encontrar algum morador do bairro que nunca teve dengue", diz Maria de Fátima. Já Maikon é consciente de que a população deve fazer sua parte, evitando o acúmulo de lixo nas ruas, mas reclama que os agentes de saúde e a prefeitura cobram a limpeza das vias, mas não resolve o problema das enchentes.

"Você cuida sua casa, seu comércio, mas se não tiver obras para conter esse alagamento, fica impossível evitar focos do mosquito", reclama.

O Campo Grande News entrou em contato com a assessoria da Prefeitura para saber se há algum projeto de obra para solucionar o problema do bairro. Mas, até o fechamento desta matéria não obteve resposta.

Sem alternativa, moradora enfrenta alagamento para atravessar a via. (Foto:Gerson Walber)
Sem alternativa, moradora enfrenta alagamento para atravessar a via. (Foto:Gerson Walber)
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