“Cidade à venda”? Placas tomam bairros após paralisia na procura por imóveis
Nos 4 km da Avenida Zahran, dezenas de placas de “vende-se” e “aluga-se” surgem no caminho
No Bairro Carandá Bosque, em Campo Grande, imóvel de alto padrão exibe cinco placas de “vende-se” e “aluga-se” na fachada. A cena é sintomática de um mercado imobiliário paralisado. Desta forma, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, as placas se espalham e dão a impressão de que “a cidade está à venda”.
No Carandá, bairro localizado na região urbana do Prosa, um festival de vendas acontece ao longo da Rua Vitório Zeolla. As placas ofertam casas, pontos comerciais, oficina mecânica e galeria.
Pelos quatro quilômetros da Avenida Eduardo Elias Zahran, entre as rotatórias da Rua Joaquim Murtinho e Avenida Costa e Silva, dezenas de placas de “vende-se” e “aluga-se” surgem no caminho. O perfil é principalmente de imóveis comerciais.
“Na realidade, não é que houve mais oferta, mas menor procura”, afirma o corretor Airton Alves Pinto, da Airton Imóveis. De acordo com ele, os imóveis ficam mais tempo à venda, portanto é placa atrás de placa espalhada por Campo Grande.
Para Airton, só está comprando imóvel quem realmente precisa de uma moradia. Já quem é construtor ou tem dinheiro para investir pisou no freio, fruto também de querer ver o desenrolar da economia no novo governo federal. “O investidor está bem tímido, bem cauteloso”, avalia.
No caso da Avenida Zahran, o trânsito também dificulta o aluguel dos imóveis comerciais, devido à falta de estacionamento e retorno viário. No setor imobiliário, as compras online ainda resultam na migração das lojas para pontos mais afastados das áreas comerciais "tradicionais".
O segmento de alugueis, por sua vez, teve como salvação Ribas do Rio Pardo, a 103 km de Campo Grande. Com a falta de moradias na cidade vizinha, onde é construída a fábrica de celulose, a Capital se tornou dormitório para os trabalhadores.
O Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) avalia que o mercado segue aquecido. “O mercado imobiliário segue aquecido e com a cartela de imóveis dentro da normalidade. As placas são estratégia de venda, que podem ser ou não utilizadas no anúncio de imóveis”, afirma Eli Rodrigues, presidente do conselho.
Para o Sindimóveis (Sindicato dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul), houve aumento da oferta de imóveis devido à verticalização, com as pessoas migrando para apartamentos.
“O perfil do cliente mudou e a verticalização trouxe a melhor ocupação de áreas, tudo com a devida permissão da nossa legislação. Isso acontece devido ao crescimento e expansão da cidade, a necessidade de mais qualidade de vida e a procura por mais segurança”, afirma a presidente do sindicato, Luciana de Almeida.
Gigantes à deriva – No Centro de Campo Grande, a realidade é de muitos imóveis comerciais sem uso. Locais que já foram clubes, lojas, casas noturnas, restaurantes e bancos agora são milhares de metros quadrados vazios.
O local recebeu investimentos no programa Reviva Campo Grande. Primeiro, a Rua 14 de Julho, principal corredor comercial, foi revitalizada e entregue de “cara nova” em 29 de novembro de 2019.
Os trabalhos foram em 1,4 quilômetro da via, entre as avenidas Fernando Corrêa da Costa e Mato Grosso, com recursos de R$ 49,2 milhões, financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Na segunda etapa, o Reviva contemplou toda a extensão da Rui Barbosa, Cândido Mariano, 13 de Maio e o entorno da antiga estação rodoviária.
Presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Adelaido Vila traça uma linha do tempo para ilustrar que o Centro foi perdendo “apelos” ao longo dos anos. Como o fim do transporte ferroviário, a desativação da rodoviária (que garantia muita circulação de pessoas) e, mais recentemente, o fim do chamado público bancarizado.
“Com a pandemia, perdemos o público bancarizado, As pessoas não vão mais ao banco, resolvem tudo por Pix. Veja, são perdas bastante significativas de público”, afirma Adelaido.
Os valores dos alugueis também expulsam os comerciantes do Centro. “Os imóveis ali estão com valores estratosféricos. Muitos são administrados por espólios e os donos moram em São Paulo, em grandes centros. Não conhecem a nossa realidade mercadológica”, enfatiza o presidente da CDL.
Na Afonso Pena, imóvel onde funcionava agência bancária está disponível para aluguel. A área é 1,2 mil metros quadrados, contendo duas salas e três banheiros, além do estacionamento.
Adelaido também é titular da Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio) e destaca que há projetos para que o Centro seja opção de moradia. As funções na secretaria e na CDL são cumulativas porque a presidência da câmara não é atividade remunerada.
Para o presidente do Creci, faltam políticas públicas para a região central. “O Centro é uma ótima opção para se morar, pois é uma ótima localização com uma média de valor muito boa, muitas vezes parecida com a dos bairros. O que tem afastado as pessoas de morar no centro é a falta de segurança. São necessárias políticas públicas voltadas para o centro, para povoar a região”, diz Eli Rodrigues.
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