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Alta surreal do aluguel “expulsa” diarista de Ribas: “Era morar ou comer”

Ela foi obrigada a se mudar para Campo Grande, mas trabalha na cidade vizinha

Aline dos Santos | 10/08/2023 11:58
Ribas do Rio Pardo fica a 103 km de Campo Grande e vive o boom dos dólares da celulose. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ribas do Rio Pardo fica a 103 km de Campo Grande e vive o boom dos dólares da celulose. (Foto: Henrique Kawaminami)

Morando em Ribas do Rio Pardo há três décadas, a diarista Simone Cristina Vieira, 54 anos, foi obrigada a trocar a cidade por Campo Grande diante de alta surreal do valor do aluguel. Num breve resumo, se viu numa encruzilhada: “O que é melhor para mim: morar ou comer?”.

Enquanto muito se fala do investimento bilionário da celulose no município, localizado a 103 km da Capital, Simone ligou para o Campo Grande News com a intenção de dar voz aos trabalhadores que ficam na parte de baixo da pirâmide salarial e acabam sem lar diante da alta vertiginosa dos alugueis.

“Morei em Ribas por 33 anos, sempre morava em casa alugada. Há dois anos, morava em uma edícula grande, com lavanderia, banheiro, quarto, sala e cozinha, foi quando a Suzano chegou. Depois, o povo perdeu o juízo, essa edícula agora está alugada por R$ 3 mil para pessoas que vieram de fora. Mas, poxa, nem todo mundo é engenheiro”, diz.

Numa segunda tentativa, noutro imóvel, ela passou a dividir aluguel de R$ 2.300 com uma amiga. Contudo, não teve condições de pagar os R$ 1.150 que lhe cabiam na partilha, diante de uma renda mensal de R$ 2.800. “Não consegui mais casa por preço acessível”.

Há oito meses, a solução forçada foi se mudar para Campo Grande, num bairro na saída para Três Lagoas, onde conseguiu aluguel de R$ 650. Agora, se desloca toda a semana para Ribas de Rio Pardo, onde fica na casa de uma amiga e se divide entre o trabalho de diarista e num restaurante.

Somente aos fins de semana ela vem a Campo Grande, cidade onde conseguiu um lar que não lhe custe todo o salário. “A semana toda, de segunda a sexta, fico trabalhando em Ribas. Só poso na casa da colega, mas ajudo comprando as coisas. Por conta da idade, a gente não consegue mais serviço registrado”, afirma Simone.

Nesta quinta-feira (dia 10), diante de uma placa de “aluga-se”, uma nova frustração, a casa com cozinha, quarto e banheiro, custa R$ 2.300 por mês. “E falam isso na maior cara de pau, é um absurdo”, reclama.

Com o pico da obra de construção da fábrica da Suzano, projeto que já teve investimento de R$ 14,2 bilhões e fica pronto até junho de 2024, a cidade teve acréscimo de 10 mil habitantes.

Na lógica de lucrar o que for possível enquanto o dinheiro jorrar, moradores saem da área urbana e vão morar com os pais, residentes nas chácaras. Em alguns casos, o   aluguel de R$ 6 mil pelo imóvel vira poupança para os filhos, já contando que o boom dos preços nas alturas um dia passará.

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