Com 10 mil novos habitantes, Ribas vive “boom” de criminalidade com só 30 PMs
Aos finais de semana, Secretaria de Segurança envia até 4 equipes para reforçar as rondas na cidade
Escolhida como sede do maior investimento privado de Mato Grosso do Sul, Ribas do Rio Pardo, a 103 quilômetros de Campo Grande, viu a rotina até então pacata se transformar drasticamente com a chegada de milhares de trabalhadores empenhados na construção da fábrica de celulose da Suzano. Em 2021, quando começaram as obras, o IBGE apontou população de cerca de 25 mil habitantes, mas atualmente com os trabalhos no “pico”, cerca de 10 mil novos habitantes dividem a cidade com os locais, causando fortes impactos na segurança pública.
Ocorrências de diversas naturezas, que até então não eram habituais, passaram a ser rotina no cotidiano dos rio-pardenses. Conforme estatísticas da Sejusp (Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública), desde maio de 2021, quando começaram as obras da fábrica, o município registrou 34 casos de mortes violentas, sendo 10 homicídios dolosos, 3 feminicídios, 1 lesão corporal seguida de morte, 1 latrocínio e 19 mortes no trânsito. Além disso, foram registradas 27 tentativas de homicídios e 51 estupros na cidade.
Exemplo recente dessas situações que reforçam a sensação de insegurança na cidade aconteceu no último final de semana. Operação realizada pelo Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) flagrou 20 condutores embriagados e outros 20 sem CNH (Carteira Nacional de Habilitação) trafegando pela cidade.
No mesmo fim de semana, uma mulher foi flagrada, em plena luz do dia, mostrando os seios para '”atrair clientes” em frente a uma boate. No vídeo, a garota de programa aparece com meia nos pés, mas mostrando os seios próxima de várias pessoas que trafegavam pela rua. O gesto foi classificado como obsceno pela prefeitura que “lacrou” o local por 30 dias em caráter pedagógico. (Vídeo abaixo)
Todas essas situações esbarram na falta de efetivo policial lotado na cidade, que não acompanhou o crescimento populacional da cidade. De acordo com a prefeitura, o único pelotão da PM (Polícia Militar) existente na cidade conta com o efetivo de 30 policiais. Aos fins de semana, dias com alta incidência de ocorrências, a Secretaria de Segurança envia quatro viaturas para reforçar as rondas.
Apesar da situação enfrentada, o prefeito de Ribas do Rio Pardo, João Alfredo Danieze (PSOL), avalia que “o estado não está ausente” e que em breve a cidade contará com uma companhia independente da Polícia Militar, que deverá aumentar em até 4 vezes o efetivo da cidade.
“O governador está bastante preocupado em nos atender. Inclusive, já passou pelo conselho municipal de infraestrutura a doação de um terreno de 10 mil metros quadrados onde será construída a companhia independente da PM. Serão investidos quase 12 milhões de reais. Então, sairemos de um pelotão para uma companhia independente, onde teremos de 80 a 120 policiais militares. Hoje, temos o pelotão com 25 a 30 homens. Além das 4 viaturas com policias que são deslocadas para reforçar a segurança aos finais de semana”, explicou o chefe do Executivo.
Outro fator, citado pelo prefeito, que impede o aumento do efetivo lotado na cidade é a falta de moradias para as forças de segurança, que devido à especulação imobiliária fez disparar os valores de aluguéis dos imóveis. Com a situação, a prefeitura está construindo, com recurso próprio, 12 residências para abrigar policiais militares, civis e bombeiros.
“Não tem como trazer policiais para morar em Ribas porque eles não teriam condições de pagar aluguéis altíssimos com os salários, 60% do salário seria para aluguel. Por conta disso, a prefeitura está construindo 12 residências para acomodar a segurança pública, tudo com recursos próprios, que dariam para abrigar 4 famílias de militares, 4 de civis e 4 de bombeiros”, anunciou o prefeito.
Outro fator que deverá contribuir para a diminuição das ocorrências relacionadas à segurança pública é o avanço das obras da fábrica, que atualmente está no “pico” com aproximadamente dez mil trabalhadores. “Haverá uma diminuição de trabalhadores porque a parte de construção civil praticamente acabou, vão ficar os profissionais da montagem, isso vai diminuir nos próximos 90 dias, cerca de 2.500 a 3.000 trabalhadores”, comentou Danieze.
Ciente do “boom” populacional e aumento nas ocorrências relacionadas à segurança, a Sejusp (Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública) informou à reportagem que têm feito diversas operações na região e designado policiais militares para atuar na cidade.
De acordo com a comandante da 6ª Companhia de Policiamento, que atende a região, tenente-coronel Cleide Maria da Silva, apesar no reforço do efetivo, muitos estabelecimentos comerciais iniciam atividades na cidade sem alvarás, criando ambientes de extrema bagunça e perturbação em razão das grandes aglomerações e ocorrências policiais.
“A Polícia Militar tem feito sua parte, tanto nas questões preventivas, com rondas nestes locais, inclusive com orientações aos comerciantes devidamente registrados, quanto com ações de policiamento ostensivo e repressivo”, destaca a comandante.
Em relação ao efetivo de policiais na cidade, a Sejusp informou que “por motivo de segurança orgânica, não podemos informar a quantidade exata do efetivo empregado nas escalas extras da Polícia Militar e da Polícia Civil”.
Em maio deste ano, foi anunciada uma parceria com a diretoria da Suzano para a construção da nova delegacia do município. As obras tiveram início e tem previsão para conclusão ainda este ano. A execução das obras de construção da nova delegacia terá 635,65 m² de área construída, incluindo infraestrutura, instalações e drenagem. Além disso, a Polícia Civil do município recebeu cinco novas viaturas, sendo duas do Governo do Estado e outra três a partir de parceria com a Suzano.
“Tem sido uma preocupação constante da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, atender ao aumento da demanda da população local quanto à segurança pública. Não tem sido medido os esforços por parte da atual gestão para que essa população seja atendida”, comentou o delegado João Reis Belo, que responde pela comunicação da Polícia Civil.
Sobre a responsabilidade sobre os impactos na segurança da cidade causados pela quantidade de trabalhadores empenhados na construção da indústria fabril em Ribas do Rio Pardo, a Suzano elencou uma série de medidas, programas e ações realizadas no município, além das contrapartidas e investimentos voltados à segurança pública.
“Assim que iniciamos o projeto de construção da nova fábrica, a empresa reuniu a sociedade para iniciar a construção de um plano de investimentos em melhorias em diversas áreas no município, dentre elas a segurança pública. As iniciativas estão previstas no Plano Básico Ambiental (PBA), que são consolidadas em uma lista de 18 programas”, informou a multinacional em nota.
Dentro dos programas citados, consta o investimento de R$ 48 milhões para as áreas de saúde, educação, desenvolvimento social, habitação, segurança pública e segurança no trânsito do município. Nas ações voltadas à área de segurança pública está a implantação de uma nova delegacia da Polícia Civil, já citada na matéria e com término previsto para janeiro de 2024; uma nova base para a PRF (Polícia Rodoviária Federal) na BR-262; além do apoio na melhoria da estrutura física da Polícia Militar para comportar o aumento do efetivo, o que possibilitará a transformação do batalhão em companhia, também citado anteriormente.
Ainda de acordo com a empresa, em junho de 2022, foram repassados R$ 200 mil em equipamentos para o Batalhão de Choque da Polícia Militar, e, em outubro do mesmo ano, a Polícia Civil recebeu da empresa uma viatura, tipo van, para transporte de presos.
Nos próximos dias, a empresa garantiu que irá entregar três viaturas equipadas e caracterizadas às forças de segurança em atuação na cidade. Serão dois carros que ficarão a serviço da Polícia Civil, um para investigação de crimes e outro veículo equipado para operações ostensivas no município. O terceiro veículo é uma viatura de auto salvamento entregue ao Corpo de Bombeiros, para atendimentos a chamados, na área urbana e áreas rurais.
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