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Cidades

Riscos, obras e anta morta: asfalto de BR trava batalha contra “pesos pesados”

No trecho de Ribas do Rio Pardo a Água Clara, se intensifica a circulação dos treminhões

Aline dos Santos | 13/06/2023 09:10
Anta atropelada na BR-262, perto da entrada do município de Água Clara. (Foto: Marcos Maluf)
Anta atropelada na BR-262, perto da entrada do município de Água Clara. (Foto: Marcos Maluf)

De Campo Grande a Água Clara, ao menos três dezenas de placas, espalhadas por 198 km da BR-262, avisam ao motorista sobre a circulação de veículos longos.

Contudo, os problemas na pista de rolamento e no acostamento já mostram que o asfalto trava uma batalha contra os “pesos pesados”, como os treminhões de até 29 metros de extensão, que levam eucaliptos.

Pela BR, se encontram buracos, ondulações, duas frentes de obra “pare e siga” do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), motoristas à espera de soluções e cenários tristes, como uma anta que morreu atropelada a poucos quilômetros da entrada de Água Clara.

Eucalipto para produção de celulose domina a paisagem até Três Lagoas. (Foto: Marcos Maluf)
Eucalipto para produção de celulose domina a paisagem até Três Lagoas. (Foto: Marcos Maluf)

Nos 103 km que ligam Campo Grande a Ribas do Rio Pardo, onde a paisagem do Cerrado vai sendo tomada por eucalipto para produção da celulose, o asfalto tem melhores condições, mas o fluxo é intenso. Ribas sedia a construção da maior fábrica de produção de celulose em linha única do mundo, investimento de R$ 19,3 bilhões.

Antes do município, o carro da reportagem faz parada de seis minutos no “pare e siga”, na manhã da última sexta-feira (dia 9). Quando o trânsito é liberado, um indicativo do grande movimento: 50 veículos aguardavam para seguir viagem em direção a Campo Grande.

A quase 50 quilômetros da área urbana de Ribas, Christian Balbuena conta que quem mora no município tem acordado mais cedo para não ficar preso no “pare e siga”. “A gente anda mais cedo, mas essa obra já é uma melhoria”, afirma.

"A gente anda mais cedo, mas essa obra já é uma melhoria", afirma Christian Balbuena. (Foto: Marcos Maluf)
"A gente anda mais cedo, mas essa obra já é uma melhoria", afirma Christian Balbuena. (Foto: Marcos Maluf)

A rodovia é rota de passagem de segunda a segunda para a comerciante Olinda Rosa de Oliveira, 61 anos. No comando da lanchonete do Posto Aparecidinha, ela conta que todos os dias visita Campo Grande para compra de produtos, percorrendo 48 km.

O ir e vir constante são por conta do aumento de clientes, também efeito da chegada da nova indústria da celulose. Ela conta que, em média, fica 15 minutos parada nos trechos em obras, mas avalia que é por um bem maior: a melhoria da estrada.

A rodovia corta o perímetro urbano de Ribas do Rio Pardo. A cidade “pulou” a BR-262 e avança pelo lado direito de quem segue no sentido a Três Lagoas. No fim de 2021, já eram novos cinco bairros.

Agora, o cruzamento entre a cidade e a BR foi sinalizado com semáforo, num cenário que antes de trânsito caótico e fatal. O dispositivo eletrônico na confluência da BR-262 com a Avenida Aureliano Moura Brandão foi ativado em março deste ano. Ao todo, o Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito) fez investimento de R$ 1,6 milhão no município.

Fábrica de celulose em construção às margens da BR-262, em Ribas do Rio Pardo. (Foto: Marcos Maluf)
Fábrica de celulose em construção às margens da BR-262, em Ribas do Rio Pardo. (Foto: Marcos Maluf)

A sinalização foi colocada em frente ao boi nelore na entrada da cidade, ainda lembrança de quando Ribas do Rio Pardo era a “terra do gado”. Do outro lado da pista, a homenagem  já é mais moderninha e os visitantes podem fazer registro fotográfico no pórtico “Eu amo Ribas”, instalado há um ano. Mas o semáforo não é suficiente para a demanda nos horários de pico.

Na condução de um ônibus, o motorista Osman Garcez, 50 anos, leva diariamente trabalhadores para o canteiro de obras. Ele conta que enfrenta a lentidão do trânsito nos horários de pico: começo da manhã e fim da tarde. Quando volta para a casa, em Campo Grande, a parada é na obra "pare e siga". “Já fiquei 40 minutos parados, mas tem que fazer mesmo essa recuperação”.

“O maior problema é o acostamento. Vai parar onde quando o caminhão está carregado", diz Geferson. (Foto: Marcos Maluf)
“O maior problema é o acostamento. Vai parar onde quando o caminhão está carregado", diz Geferson. (Foto: Marcos Maluf)

Com a cabine do caminhão levantada e consertando o veículo para conseguir seguir viagem até Primavera do Leste (Mato Grosso), Geferson Levi Engelmann, 38 anos, conta que passou por Três Lagoas e reclama das condições da via. “O maior problema é o acostamento. Vai parar onde quando o caminhão está carregado”, questiona.

Caminhoneiro há 14 anos, ele estava no pátio de posto de combustíveis em Ribas do Rio Pardo. Depois de deixar fertilizante em uma fazenda, ia buscar farelo no Mato Grosso.

No trecho de Ribas do Rio Pardo a Água Clara, se intensifica a circulação dos treminhões, na mesma medida que o asfalto se deteriora. Os veículos articulados de aproximam dos 30 metros, com peso de toneladas. O trecho tambem tem obras, onde o carro do Campo Grande News aguardou por sete minutos.

No trecho de Ribas do Rio Pardo a Água Clara, se intensifica a circulação dos treminhões. (Foto: Marcos Maluf)
No trecho de Ribas do Rio Pardo a Água Clara, se intensifica a circulação dos treminhões. (Foto: Marcos Maluf)

A pista ganha muitos trechos com ondulações, que afetam a estabilidade dos veículos. No meio do caminho, também há buracos, que não poupam nem o acostamento. Entre as duas cidades, há obra do Dnit, onde o carro da reportagem aguardou por sete minutos.

Mas nem sinal do que o caminhoneiro José Divino, 51 anos, espera encontrar na rodovia: pontos com terceira faixa nas subidas. Nos aclives, os veículos com carga ficam mais lento e, quando existe a terceira faixa, se deslocam para ela, abrindo caminho para a passagem dos carros.

Perto da entrada de Água Clara, uma anta morta, escanteada à margem da 262, lembra que também é preciso proteger a fauna. “Desde o ano passado, já vi umas nove antas mortas. Fora os bichos pequenos”, diz o caminhoneiro Roberto Arantes, 44 anos.

Herbívora, a anta se alimenta de árvores frutíferas, pesa em média 200 quilos e é o maior mamífero da América Latina.

No trajeto de retorno a Campo Grande, o carro da reportagem passou, novamente, pelos pontos com obras. Não houve espera no trecho de Água Clara a Ribas do Rio Pardo. Já com destino a Campo Grande, a parada foi de 15 minutos.

A reportagem solicitou informações ao Dnit sobre as obras, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.

Asfalto em péssimas condições entre Ribas do Rio Pardo e Água Clara. (Foto: Marcos Maluf)
Asfalto em péssimas condições entre Ribas do Rio Pardo e Água Clara. (Foto: Marcos Maluf)

No limite – “A BR-262, de Campo Grande a Três Lagoas, está com sua capacidade de tráfego no limite em alguns trechos”, afirma o engenheiro civil, especialista em infraestrutura rodoviária, Maurício Faustino Gonçalves.

Ele destaca que é preciso cumprir três etapas para que a via possa ter boas condições. Primeiro, fazer manutenção, conservação e restauração do pavimento que já existe. Segundo, construir a terceira faixa em muitos trechos onde o tráfego está maior, principalmente onde tem a circulação muito grande de caminhões de cargas pesadas. Por fim, mas não menos essencial, que os recursos sejam direcionados para que a rodovia sempre tenha contrato de restauração, manutenção e conservação.

Ondulação no asfalto da BR-262, a rota da celulose. (Foto: Marcos Maluf)
Ondulação no asfalto da BR-262, a rota da celulose. (Foto: Marcos Maluf)

Já sobre o grande pedido dos caminhoneiros, que a via tenha trechos com terceira faixa, o especialista destaca que é uma solução adequada numa rodovia de duas faixas.

“No caso da BR-262, de Campo Grande a Três Lagoas, o aumento de veículos já existe. A saturação em relação à quantidade de veículos que trafega é muito grande em alguns trechos. Como você resolve o problema se você tem uma rodovia de uma pista, com duas faixas? Você tem que criar novas faixas. Uma terceira faixa em todos os aclives é essencial para a melhoria do fluxo de veículos nessa rodovia”, afirma o engenheiro.

Em pontos onde o terreno força a redução da velocidade dos caminhões com carga, como na subida e longos trechos planos, começam a ter afundamentos. Eles precisam de reforço na base e, consequentemente, no tipo da pavimentação.

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