Clientes fieis impedem últimos lojistas de “fechar” antiga rodoviária
Manter os clientes frequentando as lojas tem sido um desafio e tanto para os comerciantes que ainda trabalham na antiga rodoviária de Campo Grande. O local está abandonado e acabou virando moradia de usuários de drogas e ponto de prostituição após a desativação em 2010; apesar das promessas da gestão municipal em revitalizá-lo.
Para continuar com a clientela, alguns comerciantes estão apelando para a “fidelidade”. É o caso da cabeleireira Marina Ferreira, 45 anos, que trabalha há 16 no local. Assim que houve a desativação do terminal, ela entrou em contato com todas as clientes e disse que iria permanecer “firme” no lugar. “Pensei em até fechar, mas minha perseverança em Deus e o amor pela minha profissão me fez continuar”, comentou.
Questionada se os clientes possuem algum receio de frequentar seu salão pela má fama da antiga rodoviária, ela disse que no começo não foi fácil. “No começo eles ficavam meio preocupados, mas eu sempre dizia que aqui era seguro, que podiam ficar tranquilos que tínhamos o apoio do Comando da Polícia Militar, como temos até hoje. Por exemplo, tenho produtos caros em meu salão, mas nunca fui roubada ou assaltada. Para falar a verdade em qualquer lugar tem bandidagem, é só não dar bobeira”, mencionou.
Apesar do esforço, Marina falou que não enfrenta dificuldade para lidar com a falta de estrutura da antiga rodoviária. “Uma das portas que dá acesso à rodoviária está quebrada. Fizemos uma lista entre os comerciantes e cada um ajudou um pouco para arrumarmos, afinal uma andorinha só não faz verão. Tivemos uma reunião com a prefeitura e nos foi prometido a revitalização e reforma do terminal, mas isso não deu em nada até agora, só promessas”, destacou.
Um dos comerciantes mais antigos está 20 anos no local, Seu Mamede Fernandes, 61, afirmou que até mesmo os clientes fixos estão deixando de frequentar sua loja de bolsas, relógios e acessórios. “O movimento caiu 70% depois que houve a desativação. Ainda tenho alguns clientes fixos, mas eles estão sumindo aos poucos. Mas ainda tenho esperança disso aqui melhorar, o que incomoda é a ansiedade para ver o resultados das promessas feitas pela prefeitura. Qualquer coisa que eles fizerem aqui vai aumentar o movimento no comércio. Tenho lembranças de quando a rodoviária era cheia”, apontou.
O Hotel Tropical localizado em frente à antiga rodoviária era bem conhecido por hospedar várias pessoas que passavam pela cidade, por falta de movimento acabou fechando. Hoje só se encontra as portas fechadas e as janelas com vidros quebrados.
Por conta do preconceito de alguns clientes e por questões de oportunidades, o proprietário da casa noturna Non Stop, Christian Queiroz, que funcionou durante um ano e meio na antiga rodoviária trazendo Djs internacionais e nacionais como Filipe Guerra, Banda Uó e celebridades como Serginho do BBB, decidiu deixar o local. “As pessoas reclamavam do ambiente, pela questão da prostituição, entre outras coisas. Tive a oportunidade de assumir um outro local e acabei indo”, ressaltou.
A proprietária de um loja de artigos e acessórios de rock, Yasmin Santiago, 20, está há um ano no lugar e não se incomoda com a presença de usuários de drogas e garotas de programa. O difícil para ela é convencer os clientes de que ali é um ambiente tranquilo. “Preconceito sempre tem e é difícil convencer as pessoas de que o ambiente é normal. Muita gente veio conhecer a loja com receio, mas acabou gostando e vem até hoje. Os bares em volta é que chamam a atenção para minha loja. A prefeitura deveria fazer uma galeria de arte aqui, mas falta interesse sabe”, destacou.
A administradora do terminal, Rosane Nely de Lima, informou que hoje existem 135 proprietários de lojas na antiga rodoviária. O aluguel de cada espaço custa R$ 700. “Apesar de tudo ainda existe muita procura, neste mês recebemos novos contratos, por exemplo, uma fábrica de costura, sociedade de línguas Esperanto, entre outros.
Nota - O Campo Grande News publica uma série de reportagens sobre a antiga Estação Rodoviária, desativada há cinco anos. Ontem, a reportagem falou da situação do prédio. Amanhã, mostra o trabalho da administração do condomínio para manter a auto estima dos comerciantes.