Antiga rodoviária virou um sanduíche, onde o recheio é bom, mas o pão é mofado
Os canteiros com flores são uma maneira sutil de mostrar que o cenário mudou nos últimos 4 anos e aos poucos a revitalização vai vingando na antiga rodoviária. Mas é uma mudança feita na raça, de quem quer ver diferente, já que a iniciativa pública não está muito preocupada com o prédio. Aos poucos, o lugar tem conquistado o status de centro cultural, mesmo sem ser oficialmente.
A caminhada vem a passos curtos e ainda divide opiniões. Porém, quem está por ai há pouco tempo já percebeu a mudança. “Com certeza mudou. Principalmente quando fecharam um bar aqui perto que era ponto de drogas. Diminuiu bem o fluxo de usuários. Acho fundamental não deixar a área da rodoviária morrer, a cada pequena coisa que se vai fazendo, vai melhorando, Antes as pessoas tinham medo de vir aqui, não passavam pela calçada, só pela rua, agora as pessoas até cumprimentam”, comenta o arquivista, Alexandre Silva de 46 anos.
Na rodoviária, existe uma divisão territorial, onde duas extremidades que serviam a embarques e desembarques são de responsabilidade da prefeitura. No meio, o prédio é privado, mas os comerciantes que ainda resistem ou que estão apostando no local não podem intervir na parte que não lhes é de direito.
“É como se fosse um sanduíche, mesmo que o recheio esteja uma delícia, se o pão estiver estragado, não adianta nada. Nós temos nos mobilizados e feito a nossa parte, mas a revitalização mesmo é impossível sem mexer nas partes de fora, então fica difícil”, comenta Rosane Nely de Lima, de 47 anos, administradora do prédio.
O trabalho para mudar a “cara” da rodoviária é feito no estilo formiguinha, por quem acredita que a “rodô” tem todo potencial para se transformar em uma referência cultural. Hoje, o prédio abriga estúdios fotográficos, agência de publicidade, estúdio musical, além de estar se tornando um centro de apresentações culturais e feiras de artesanato.
Bons exemplos são eventos como Luz na Rodô, que abriu a oportunidade para que muitos outros aconteçam por ali. A antiga rodoviária ainda está longe de usar toda a estrutura, mas dá para continuar sonhando.
“A gente percebe que o preconceito está diminuindo e as pessoas estão vindo mais, nosso sonho é que tenha investimento e aqui possa se tornar um local voltado para a cultura, a exemplo da galeria do rock em São Paulo. Seria muito legal”, comenta Pietro Luigi, de 38 anos, que abriu um sebo musical no local.
Em contrapartida, tem quem não perceba muita mudança por ali, desde que a “revitalização” começou. “A concentração de mendigos não diminuiu, continua a mesma coisa. Eles não mexem com a gente que trabalha por aqui, mas tem cliente que fica com medo. Mas se tivesse uma revitalização digna, seria ótimo”, afirma Julio Cezar da Silva, de 54 anos, funcionário de um dos hotéis.
A gerente de oficina Talita Valeriana, de 29 anos, sempre passa por ali, a região da rodoviária é caminho para o trabalho, ela vê nos moradores de rua que vivem no local o grande problema do lugar, mas acredita que uma revitalização bem feita, com participação pública, traria beneficio para todos. “Sou a favor da revitalização, mas é preciso de investimento para funcionar”, pontua.