Recorde como o ex-goleiro Manga chegou ao Operário em 1977
Em 20 jogos com a camisa do time campo-grandense na histórica campanha no Brasileiro, Manguinha levou 13 gols

Ano era 1977, o futebol profissional em Mato Grosso do Sul estava só começando a sua história. Em Campo Grande já existia o Estádio Morenão, inaugurado seis anos antes e era motivo de orgulho da cidade. Rapidamente virou ponto de encontro da população em dias de jogos de Operário e Comercial, fosse do Campeonato Estadual ou do Campeonato Brasileiro. Nem importava se quarta-feira, sábado ou domingo, qualquer jogo era sinônimo de casa cheia.
Foi nesse clima de euforia que a diretoria do Operário na época, sob o comando do presidente, general Paulo Américo dos Reis, que faleceu em 2023 aos 91 anos de idade, e do diretor de futebol Irineu Farina, teve a ousadia de contratar um jogador consagrado no futebol mundial. Trouxe para Campo Grande o goleiro Manga, um vencedor em todos os clubes onde havia jogado e que estava no Internacional de Porto Alegre.
Aquela era uma época em que não havia patrocínios de empresas privadas no futebol, nem mesmo nos grandes clubes de São Paulo e Rio, muito menos por essas bandas do Brasil, e a palavra “estratégia de marketing” não fazia parte do nosso vocabulário. Sem nenhuma dessas ferramentas de negociação dos tempos atuais, a diretoria do clube fez valer algo que hoje não existe mais na relação entre torcedor e dirigente de futebol: credibilidade.
Para ter o goleiro Manga, então com 40 anos de idade, mas ainda em excelente forma, o Operário lançou uma campanha junto aos seus torcedores para arrecadar dinheiro vivo e viabilizar o investimento, ou seja, literalmente passou a “sacolinha”. Foram espalhadas várias urnas pela cidade e os torcedores assimilaram a importância da campanha de arrecadação de dinheiro para trazer o lendário jogador. Centenas, milhares de operarianos formavam até filas diante das urnas para contribuir.
Ao depositar o dinheiro na urna, muitos vibravam como se aquele ato fosse um gol do time do coração. Na sede do Operário, na Avenida Bandeirantes, que já não existe mais (o patrimônio foi perdido para ações trabalhistas, por conta de gestões desastrosas que vieram a seguir na história do clube) e na Rua Barão do Rio Branco, entre 14 de Julho e 13 de Maio, no centro da cidade, longas filas se formaram para as contribuições.
A campanha foi um sucesso, o clube arrecadou o dinheiro que precisava, algo em torno de 150 mil cruzeiros (moeda da época), e o goleiro Manga trocou o Internacional de Porto Alegre pelo Operário de Campo Grande. Sua chegada no aeroporto se transformou em um grande acontecimento. Desembarcou quando passava das 4h da tarde, mas desde o final da manhã os torcedores já se aglomeravam no saguão a espera do ídolo.
Sua estreia no Operário foi diante do Caxias, em Caxias do Sul, pelo Campeonato Brasileiro, dia 23 de novembro de 1977. Levou três gols no empate por 3 a 3, mas não ficou dúvida sobre a importância do seu talento, experiência e prestígio para a equipe campo-grandense. Foi um jogo sob névoa e temperatura abaixo de zero.
Manga sofreu seis gols nos seus dois primeiros jogos no Operário. Quatro dias depois de enfrentar o Caxias, encarou o Grêmio no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, e o placar foi o mesmo de Caxias do Sul: 3 a 3. No total, ele levou 13 gols em 13 dos 20 jogos que disputou com a camisa operariana. A campanha teve 10 vitórias, seis empates e quatro derrotas, 28 gols marcados e 15 sofridos.
O ADEUS NESTA TERÇA-FEIRA - O ex-goleiro, natural de Recife, no Pernambuco, faleceu nesta terça-feira, aos 87 anos, no Hospital Rio Barra, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Quase invencível no gol ao longo da sua carreira no futebol, ele foi vencido na luta que travava contra um câncer na próstata. Ele foi o astro principal de um elenco repleto de estrelas naquela histórica campanha que terminou com o Operário em 3º lugar, atrás apenas do São Paulo (campeão) e do Atlético Mineiro (vice-campeão).