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EpiMania

Delegado faz livro com histórias que nem o boletim de ocorrência conta

Com 19 anos na Polícia Civil, Carlos Delano falou da profissão e do lançamento do primeiro livro

Por Thailla Torres | 26/04/2025 07:37

O episódio de Epimania de hoje traz uma conversa sincera e intensa com o delegado Carlos Delano, que, com 19 anos de carreira na Polícia Civil, compartilhou não apenas relatos do cotidiano policial, mas também um novo capítulo de sua vida: o lançamento de seu primeiro livro.

Desde o início da entrevista, Delano mostrou que sua trajetória vai além da imagem tradicional do delegado carrancudo e distante. Ao falar sobre sua experiência na polícia e seu olhar atento para os dramas humanos, ele revelou como sua sensibilidade sempre esteve presente no exercício da função. "Nós lidamos com gente", destacou. Para ele, tão importante quanto cumprir seu papel técnico é perceber as histórias, dores e marcas invisíveis que cada ocorrência carrega.

Essa visão humanizada foi o que impulsionou a criação do livro, que reúne 15 contos ficcionais baseados em casos reais, porém resguardando a identidade dos envolvidos. "Quis lançar luz sobre os dramas pessoais, sem julgamento moral, apenas mostrando o que acontece além do que é escrito no processo", explicou. O objetivo não foi detalhar a técnica policial, mas expor o lado mais subjetivo dos episódios, algo que geralmente fica fora das reportagens e documentos oficiais.

Ao ser questionado sobre o processo de escrita, Delano não escondeu a dificuldade: "Foi um exercício duríssimo. Tive que desaprender o juridiquês e reaprender a contar histórias de forma compreensível".

O trabalho levou cerca de um ano e meio, e segundo ele, cada conto foi cuidadosamente reescrito até encontrar a forma que desejava transmitir. Inicialmente, listou 18 histórias, mas decidiu parar nos 15 primeiros para, como brincou, "não abandonar o projeto no meio do caminho".


Entre os temas abordados, os contos narram investigações de homicídios, feminicídios, estupros e roubos, com destaque para casos de homicídio, sua área de maior afinidade dentro da polícia. "No homicídio, toda vida tem o mesmo peso. Não há o roubo de um relógio caro ou barato, há a perda irreparável", afirmou.

O episódio também mergulhou em episódios pessoais fortes vividos pelo delegado. Histórias marcantes, como o assassinato de um filho por um pai em uma estrada rural e a morte trágica de um motorista que se chocou propositalmente contra um caminhão, deixaram claro o peso emocional que a profissão impõe. "Carregamos essas dores conosco", confessou Delano, ao falar sobre a necessidade urgente de olhar para a saúde mental dos profissionais da segurança pública.

Outro momento importante da entrevista foi a lembrança da participação de Delano na Operação Omertà, considerada um divisor de águas no combate ao crime organizado no Mato Grosso do Sul. Sem glamourizar o feito, ele foi sincero: "Foi necessário, mas cobrou um preço muito alto da minha saúde e da minha família. Eu trocaria o 'ponto alto' por 'preço alto'".

O título do livro, "Marisa quer ser livre", também carrega essa sensibilidade. Inspirado em um caso real de feminicídio investigado por ele, a história dá voz à luta silenciosa de uma mulher presa em um ciclo de violência. "Marisa já não está entre nós, mas a história dela precisa ser contada", disse emocionado.

Ao longo da conversa, ficou claro que mais do que relatar crimes, Carlos Delano quer humanizar a figura do policial. Mostrar que atrás do colete existem pessoas que também se ferem, sentem e levam cicatrizes invisíveis para casa.


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