Redes sociais: um like na mentira e um block na verdade?
Pesquisadora fala sobre novas políticas de checagem de fatos da Meta e do caos das redes socias
Assista ao episódio completo de EpiMania:
A desinformação tem se tornado um dos grandes desafios do século XXI, especialmente com o avanço das redes sociais. Aproveitando as mudanças recentes que a Meta fez em sua política de checagem de fatos, o podcast EpiMania recebeu a jornalista, mestre e pesquisadora em comunicação Camila Zanin, que estuda o ecossistema da desinformação e o funcionamento dos algoritmos nesse cenário. A conversa foi conduzida pelos anfitriões Lucas Mamédio e Gabi Cenciarelli.
Camila destacou que a desinformação sempre existiu, mas a diferença no contexto atual é a forma e a velocidade com que se propaga. "Antes, para espalhar uma mentira, era necessário um grande esforço. Hoje, qualquer pessoa com acesso à internet pode criar um conteúdo e fazer com que ele alcance milhões de pessoas em questão de horas", explica a pesquisadora.
Durante a entrevista, um dos pontos abordados foi a recente mudança nas políticas da Meta, empresa que controla Facebook, Instagram e WhatsApp. Camila explicou que a plataforma retirou os verificadores de fatos nos Estados Unidos e agora pretende substituí-los por notas da comunidade, um modelo similar ao da Wikipedia, no qual qualquer usuário pode editar informações. "Isso pode gerar ainda mais desinformação, porque pessoas com interesses escusos podem manipular esses conteúdos de forma maliciosa", alerta.
A flexibilização das regras sobre discurso de ódio também foi tema de discussão. Agora, conteúdos misóginos, racistas e xenofóbicos são mais tolerados sob o argumento da "liberdade de expressão". Segundo Camila, "o problema é que essa liberdade passa a ser utilizada como pretexto para propagar discursos extremistas, o que pode ter consequências graves na sociedade".
Outro ponto importante é o papel dos algoritmos na disseminação de desinformação. Camila explica que as redes sociais são programadas para privilegiar conteúdos que geram mais engajamento, e notícias sensacionalistas, alarmistas e falsas costumam se espalhar mais rápido do que informações verificadas. "A emoção prende mais do que a razão. Um título chamativo ou uma notícia falsa impactante tem mais chances de viralizar do que um conteúdo que exige reflexão", aponta.
Ela também ressalta que o pensamento crítico é fundamental para combater a desinformação. "Sempre que você ler algo, pergunte-se: quem ganha com essa informação? Qual é o interesse por trás desse conteúdo? Precisamos questionar e buscar fontes confiáveis antes de compartilhar qualquer coisa", recomenda.
Diante desse cenário, uma solução apontada por Camila é a regulamentação das redes sociais pelos Estados. "A desinformação se tornou um problema social. Não podemos tratar essas plataformas como simples empresas privadas, pois elas influenciam a opinião pública e até processos eleitorais", argumenta. No Brasil, a Advocacia-Geral da União e o Ministério Público estão debatendo formas de impedir que essas mudanças prejudiquem a democracia.
No entanto, essa regulamentação enfrenta resistências, especialmente de setores que veem isso como censura. "É um discurso canalha, porque confunde regulação com censura. A liberdade de expressão existe, mas tem limites quando entra em conflito com outros direitos, como o de não sofrer discurso de ódio", enfatiza.
No fim do episódio, os anfitriões reforçaram a importância de cada cidadão ter senso crítico e checar as informações antes de compartilhá-las. "É fácil culpar as plataformas, mas também temos nossa responsabilidade. Se não quisermos cair em fake news, precisamos buscar informação de fontes confiáveis e não acreditar em tudo que aparece na nossa tela", conclui Camila Zanin.