Com passado sombrio, 'matador' tem pena por estupro e histórico doentio
Uma história real, que mais parece roteiro de filme de terror. O personagem principal: Luiz Alves Martins Filho, 49 anos, mais conhecido como ‘Nando’. Há exatas duas semanas, a cada dia que passa, Campo Grande tem se horrorizado com o avanço de investigação da Polícia Civil que descobriu uma quadrilha que explorava sexualmente viciados em drogas, além de matar muitas vítimas.
O grupo tinha um ‘cemitério particular’ na região do bairro Danúnio Azul. Até agora, a polícia encontrou seis ossadas no local - enterradas de cabeça para baixo.
O assassino do grupo, segundo a polícia, era Nando. O histórico de crimes deste ‘serial killer’ começa em 1996 e, de lá para cá, só piorou.
Estupro - O mês era dezembro. Nando tinha 29 anos, morava na Vila Almeida, em Campo Grande. Naquela época, o bairro era próximo de uma área de sítios. Não se sabe o dia certo, ele encontrou com a vítima, que na época tinha apenas 13 anos, em uma estrada.
Ele teria perguntado ao garoto se sabia de um local onde se vendia porco por ali. O menino disse que sabia e Nando, que estava de moto, pediu que ele o levasse até lá. Como já conhecia Nando de vista, o garoto topou ajudar.
No entanto, Nando não foi para o caminho indicado pelo menino. Levou a vítima para a casa dele. Lá, agarrou o menino a força e, com uma faca, disse para ele abaixar as calças. O menino se negou, mas acabou obrigado a obedecer a ordem, sob ameaça de morte. O abuso foi consumado.
Só alguns dias depois a mãe do garoto percebeu que o filho reclamava de dores e chorava muito quando questionado. Depois de muita insistência da mãe, o menino contou o ocorrido.
Homossexualidade - Nando não chegou a ser preso, mas foi ouvido pela polícia e negou as acusações. Na época, disse que era homossexual, mas não havia mantido relações com o menino, porque só tinha relacionamento com adultos.
Outra justificativa do acusado era que ele tinha um problema no canal da urina e no pênis, inclusive usava sonda, e por esse motivo teria "dificuldade" de cometer o crime.
O garoto passou por exames, mas o estupro não ficou comprovado. O juiz suspendeu o processo por três anos, devido ao réu apresentar perturbação mental e inadaptabilidade social, na época em que foi feito o primeiro exame de sanidade.
O processo correu na Justiça por 15 anos. Em 2008, Nando passou por exame de sanidade, em que ficaram constatados problemas mentais.
Nando acabou denunciado “por constranger a vitima mediante grave ameaça e praticar com ele ato libidinoso – sexo anal”. Ficou preso preventivamente por quatro meses.
Somente em 2011, Nando foi a julgamento. Foi condenado a seis anos de prisão, mas entrou com recurso dizendo que não havia provas. O pedido foi negado e em fevereiro daquele ano o estuprador acabou preso.
Até aquela época, Nando já tinha passagens por tráfico de drogas, ameaça, lesão corporal e corrupção de menores – crime registrado em Três Lagoas, cidade onde nasceu.
No dia de sua prisão, ele foi levado para delegacia. Lá, disse que foi estuprado por outros detentos por não ter sido colocado em cela separada.
Acabou levado para o Instituto Penal de Campo Grande. Apenas um ano depois de sua prisão, um laudo do perito psiquiatra Rodrigo Abdo foi favorável à progressão do regime prisional de Nando.
Ele passou do fechado para o semiaberto, a ser cumprido na Gameleira. No dia 16 de junho de 2012 ele fugiu.
Em maio de 2013, Nando voltou a ser preso, mas em regime semiaberto domiciliar, devido ao seu “grave estado de saúde.” A partir de outubro deste ano, ele passou a ser considerado foragido, por não se apresentar ao estabelecimento penal, conforme prevê o regime.
Acidente "desova" - Neste meio tempo, entre prisões em regime fechado, semiaberto, fugas e depois regime domiciliar, no dia 29 de julho de 2014, Nando sofreu uma acidente no quilômetro 479, do anel viário de Campo Grande.
Ele bateu o carro em que estava, um Fiat Strada, na traseira de um caminhão. Era por volta das 5h.
O local, além de ser próximo do bairro Danúbio Azul, onde Nando morava, também fica perto do ‘cemitério particular’ da quadrilha, onde os corpos das vítimas eram "desovados", já descoberto pela polícia.
Seis pessoas foram encontradas no local. É o próprio Nando quem indica à polícia onde estão os corpos. Como já foi divulgado pelo Campo Grande News, sem demonstrar arrependimento ou aflição, o assassino confesso aponta a cova de cada uma de suas vítimas, pede água para se refrescar do sol forte, depois descansa dentro da viatura.
Mostrando tranquilidade, o homem indica a região onde depositou os cadáveres, de adolescentes e adultos, mortos no período de quatro anos.
Até agora, três vítimas já foram identificadas. Lessandro Valdonado de Souza, 13 anos, e Jhenifer Luana Lopes, 17 anos, conhecida como Larissa, e Ana Cláudia Marques, 37 anos.
Além dos identificados, a polícia suspeita que as outras três ossadas sejam de homens identificados pelos apelidos de Café, Alemão e Bruninho.
Investigação - Conforme a polícia, as investigações começaram em setembro deste ano, após a morte de Leandro Aparecido Nunes Ferreira, o 'Leleco'. O rapaz foi morto por um jovem que o acusava de sumir com o seu irmão, adolescente que não teve a idade divulgada. Esse garoto em questão foi encontrado morto dias depois.
Por causa desta situação, a polícia descobriu que, além do menino, mais de dez pessoas, todas moradoras do Danúbio Azul, estavam desaparecidas. O primeiro caso havia ocorrido em 2012.
Durante as investigações, foi detectado que essas vítimas faziam parte do esquema que agia na região, sob o comando de Nando. O bando aliciava adolescentes e jovens dependentes químicos para vender droga e se prostituir a troco de pasta base de cocaína. As vítimas desapareciam quando queriam deixar o grupo ou se desentendiam com algum integrante.
Objetos - No dia em que Nando foi preso, 10 de novembro, os investigadores encontraram na casa dele um revólver calibre 38 com seis munições, uma caminhonete e ferramentas como pá, enxada e facão. Objetos que, segundo a polícia, são fundamentais para a investigação.