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Capital

Com relatos de crimes sexuais desde 2008, coreógrafo é alvo de investigação

Sete vítimas já procuraram a Polícia Civil denunciando que professor exigia sexo para que pudessem dançar na companhia dele

Geisy Garnes | 05/10/2017 14:55
Delegada Marília de Brito investiga os casos (Foto: Marcos Ermínio)
Delegada Marília de Brito investiga os casos (Foto: Marcos Ermínio)

A Depca (Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente) investiga o coreógrafo Ewerton Cesar Ferriol Icasati, conhecido como Tom Brasil, pelos estupros de sete dançarinas de sua companhia, todos ocorridos quando as vítimas eram menores de 18 anos. A história de anos de abuso, de constrangimento e coação, se repete a cada nova vítima que procura a delegacia, relatando abusos sexuais ocorridos desde 2008, mas que só agora vieram à tona.

Tudo começou com um desabafo. Cansada do silêncio, a estudante Cissa Nogueiro usou sua página do Facebook para relatar que, durante dois anos, quando era adolescente, sofreu abusos enquanto era dançarina na companhia de Tom Brasil. Depois, as outras vítimas foram surgindo.

O Campo Grande News conversou com Tom Brasil por telefone. Ele afirmou ser inocente, mas não quis se estender na entrevista. Disse que aguarda o posicionamento dos advogados para poder falar com a imprensa sobre o caso.

Na Polícia Civil, as denúncias contra o coreógrafo são investigadas desde setembro de 2016. Foi quando a mãe de uma menina de 15 anos denunciou que a filha foi abusada pelo então professor. A família da jovem diz só ter descoberto o estupro oito meses depois, e quando resolveu romper o silêncio, encontrou várias outras dançarinas do grupo vivendo a mesma situação. "Eu sabia dessas meninas, fui atrás. Eu soube tudo dessas meninas e elas não quiseram me ajudar na época", contou a mãe da adolescente, que terá o nome preservado, para proteger a filha.

Um inquérito foi instaurado e meses depois, em julho deste ano, uma nova vítima procurou a Depca. Tom Brasil passou a ser investigado em dois casos diferentes, mas o número de vítima não parava por aí. "Eu não queria ter demorado tanto a falar sobre isso, mas ainda é muito difícil. A culpa e o medo que cerca esse meu discurso as vezes pesa mais do que a vontade de falar e sanar injustiças", escreveu Cissa, quando finalmente denunciou o coreógrafo.

A academia de dança fica na Rua Guia Lopes (Foto: André Bittar)
A academia de dança fica na Rua Guia Lopes (Foto: André Bittar)

O texto foi divulgado pela estudante no dia 30 de setembro e depois disso, cinco novas vítimas procuraram a delegacia especializada. Segundo a delegada responsável pelas investigações, Marília Brito, em todos os casos, o mesmo depoimento: as vítimas eram coagidas a fazer sexo com o então professor.

"Foram-me ofertadas inúmeras possibilidades de realização do meu sonho de dançarina. Tudo sempre muito lindo para alcançar meus objetivos, já que eu era uma dançarina “com muito potencial”. Mas isso tudo tinha um preço: sexo. Eu tinha que transar para subir no palco. Eu tinha que transar sem camisinha pq “camisinha é muito ruim”, contou Cissa.

"Se eu não transasse, no dia seguinte misteriosamente, eu era substituída em uma coreografia, ou num show, ou era dispensada de um ensaio. Um castigo leve de uma semana, mais ou menos". Segundo a vítima, o crime aconteceu de 2010 a janeiro de 2013.

As denúncias começam em 2008, geralmente com meninas de 15 a 17 anos, convidadas para dançar na companhia através de um projeto social em escolas estaduais, e por períodos de um a dois anos. "O sentimento de culpa nas vítimas faz com que elas não denunciem. São crimes difíceis de revelar", explicou a delegada.

Nos depoimentos das sete vítimas, o discurso de que outras dançarinas eram abusadas no mesmo período é constante. "Algumas afirmam que eram virgens e algumas que engravidaram do coreógrafo", relatou a delegada, "elas tinham o sonho da dança, o amor pela dança. Por isso foram constrangidas".

Com relatos de crimes sexuais desde 2008, coreógrafo é alvo de investigação

Para as vítimas do crime, o pedido é de justiça. "Uma coisa eu te digo, minha filha não é a mesma mais, sinto tristeza dentro dela. Ela até desistiu do sonho", afirmou a mãe da adolescente de 15 anos. "Parem esse Tom Brasil. Ele precisa parar de abusar de todo mundo que trabalha com ele. A gente precisa parar de ficar quieto. Eu não fui a única nem a última", escreveu Cissa.

Cada caso é apurado, mas Tom Brasil ainda não foi ouvido. "Ele deve prestar depoimento na parte final dos inquéritos. Já estamos finalizando a denúncia de 2016 e também a do meio deste ano", explicou Marília.

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