Denúncia de estupro foi sentença para rapaz encontrado morto com mãos amarradas
Suspeita é que execução de jovem tenha sido decretada após mãe denunciar à facção que ele estuprava a filha
Denúncia de estupro contra uma menina de 11 anos foi sentença de morte para Felipe Batista de Carvalho, de 19 anos, encontrado morto na tarde de ontem (20), com as mãos amarradas em mata às margens de estrada vicinal, que liga o Jardim Santa Emília ao Bairro Nova Campo Grande, na Capital.
Conforme apurado pela reportagem, no dia 17 deste mês, Reginaldo de Carvalho Ávila, 39 anos, pai de Felipe, registrou boletim de ocorrência de desaparecimento do rapaz na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro.
Na ocasião, Reginaldo contou à polícia que seu filho trabalhava como servente de pedreiro numa fazenda em Anastácio, onde conheceu um rapaz chamado Renan. Ainda conforme registro policial, a mãe de Renan ofereceu uma vaga de emprego para Felipe trabalhar como operador de máquinas em Campo Grande.
O rapaz veio para a cidade, mas não conseguiu a vaga prometida. Dessa forma, ele passou a morar com Renan e a sua mãe no Jardim Los Angeles, bairro do sul da Capital, ocasião em que conheceu uma mulher, não identificada, que demonstrou interesse em manter relacionamento amoroso com Felipe.
Porém, o rapaz não quis e passou a “se relacionar” com a filha dessa mulher, uma criança de 11 anos. Revoltada, a mulher acionou o “comando” de uma facção criminosa para punir Felipe, pois sua filha era menor de idade e fazia uso contínuo de medicamento controlado.
Sabendo dessa situação, Felipe chegou a entrar em contato com o pai dizendo que pelo ocorrido apenas “apanharia” como punição e “estaria tudo resolvido”. Mas dias depois, a mãe de Renan entrou em contato com o pai de Felipe informando que o rapaz havia sido classificado como “jack” - termo do crime para quem comete estupro - e, em razão disso, havia chances dele ser executado.
Em outra ocasião, não informada, a mãe de Renan entrou em contato novamente com o pai afirmando que o “comando” havia levado Felipe para a “cantoneira”, onde seria assassinado até às 3 horas de sábado (dia 16). O caso segue sob investigação da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios).
Estupro de vulnerável - No dia 18 de abril, foi registrado boletim de ocorrência de estupro de vulnerável na Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) pela avó da criança, uma mulher de 44 anos.
Ela contou que a mãe da menina descobriu no dia 15, mesmo dia do desaparecimento do rapaz, que a filha estava se relacionando com o jovem e tinha mantido relação sexual com ele. Segundo a avó, depois do episódio, ela havia levado a neta para morar em sua casa e iria entrar com pedido da guarda, pois nem estudando a menina estava.
Em atendimento no setor psicossocial, a criança confirmou que estava “namorando” Felipe. Nesta ocasião, o rapaz já havia sido inserido no sistema da polícia como vítima de desaparecimento.
Roubo de aeronave - Em setembro do ano passado, Felipe registrou boletim de ocorrência acusando policiais militares da Força Tática e do Batalhão de Choque de agredi-lo para que confessasse participação e detalhes do roubo de 3 aeronaves, ocorrido no dia 6 do mesmo mês, no Aeroclube de Aquidauana, município distante 135 quilômetros de Campo Grande. A participação do rapaz, que na época era militar do Exército, no roubo dos aviões não foi comprovada.
A identificação do corpo encontrado ontem foi confirmada, na manhã desta quinta-feira (21), pelo delegado Carlos Delano, titular da DEH. Ele informou que "o exame necropapiloscópico revelou que o cadáver encontrado ontem à tarde é de Felipe Batista de Carvalho, de 19 anos, do qual havia registro de desaparecimento ocorrido na última sexta-feira".
O rapaz pode ter sido morto por asfixia ou baleado na cabeça, no entanto, somente exames detalhados poderão comprovar a causa da morte.