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Capital

Denunciado por assediar colegas de trabalho, médico foi afastado de maternidade

Duas técnicas de Enfermagem fizeram denúncia à Delegacia de Atendimento à Mulher, que assumiu investigação contra Salvador Arruda

Marta Ferreira | 20/08/2020 12:09
Maternidade Candido Mariano, onde médico assediou duas técnicas de Enfermagem durante plantão. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maternidade Candido Mariano, onde médico assediou duas técnicas de Enfermagem durante plantão. (Foto: Henrique Kawaminami)

Alvo de denúncia de importunação sexual por paciente nesta semana, o ginecologista de Campo Grande Salvador Walter Arruda, de 67 anos, é personagem de outras duas investigações policiais derivadas de acusações de assédio vindas de técnicas de enfermagem da Maternidade Cândido Mariano.   Por causa dessas denúncias, foi afastado do hospital.

Boletins de ocorrência foram registrados contra o médico entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), no Jardim Petrópolis. Os relatos são muito semelhantes. Envolvem convites ao sexo, palavras chulas e contato físico forçado.

As profissionais contaram à polícia que estavam trabalhando no mesmo dia de plantão de Salvador Arruda e ele as assediou. Segundo informaram, o médico disse palavras de baixo calão, chegando a tentar agarrar por trás e beijar uma das colegas de trabalho.

Uma das situações ocorreu no plantão de Natal de 2019, e é investigada como perturbação da tranquilidade, por não ter havido contato físico. A outra é de dia 21 de janeiro, classificada como importunação sexual, porque houve o agarrão e o beijo forçado, de acordo com o que foi contado à polícia.

O Campo Grande News teve acesso ao conteúdo da denúncia das mulheres, cujo relato é muito parecido com a da paciente que procurou a 4ª Delegacia de Polícia Civil no dia 18, terça-feira, contando episódio ocorrido durante consulta na quinta-feira passada (13).

Embora tenha sido registrado na unidade policial das Moreninhas, o caso mais recente vai ser encaminhado também para a Deam, que é especiliazada em violência de gênero.

“O médico já é investigado pela Deam em decorrência do mesmo fato contra outra vítima e agora o novo registro do BO, também de importunação sexual, está sendo encaminhado da 4DP para a delegacia”, informou a delegada adjunta da Deam, Anne Karine Sanches Trevisan, ao ser indagada sobre o assunto pela reportagem.

Os procedimentos, conforme a delegada observou, correm em segredo de justiça, e serão apurados pela mesma equipe policial.

Palavra do médico - Salvador Arruda, em entrevista nesta quarta-feira (19) ao Campo Grande News negou que tenha assediado sexualmente as mulheres. Definiu, por exemplo, como “tranquila” a conversa tida com a paciente que o denunciou esta semana, mostrando inclusive prints de diálogos com ela pelo WhatsApp depois do atendimento.

Hoje, ele não atendeu as ligações para o celular.

Não é primeira vez que o profissional da Medicina sofre esse tipo de denúncia. Em 2015, foi alvo de outro inquérito após paciente relatar ter sido assediada durante consulta.

A apuração virou acusação criminal e, neste ano, em junho, a sentença da Justiça  inocentou o médico por falta de provas.

E o hospital? – Em um dos boletins de ocorrência, a técnica de enfermagem conta que depois de ser atacada pelo médico, comunicou o diretor-geral da maternidade, César Galhardo, do problema.

A reportagem ligou para o diretor e ele informou que Arruda não atende mais no estabelecimento. Solicitou, então, que a assessoria de imprensa fosse procurada.

Por e-mail, foi confirmado o afastamento, desde março.

"O médico Salvador Arruda não faz parte do quadro de funcionários da Maternidade Cândido Mariano desde março de 2020, quando foi afastado de todas as atividades e plantões atribuídas ao profissional", diz a nota enviada.

Apesar de haver registro policial desde o fim do ano passado, a
maternidade informou que recebeu a primeira reclamação relacionada a médico, via ouvidoria, em fevereiro de 2020. "Em seguida foi aberta uma sindicância que apurou a denúncia, mas, mesmo antes conclusão, o ginecologista acabou sendo desligado do hospital."

Crime – Dos três inquéritos citados nesta reportagem, dois enquadram o comportamento do médico como importunação sexual, ilícito penal cuja pena vai de um a cinco anos de reclusão. Para o outro crime, perturbação do sossego, a pena prevista é bem menor, de no máximo três meses de detenção.

Todas as autoridades ouvidas pelo Campo Grande ressaltaram um aspecto importante do tema: denúncias sobre esse tipo de situação podem ser feitas mesmo depois de passado bastante tempo e a palavra da vítima tem muito peso, pois normalmente não há testemunhas.

Considerando a pena máxima para importunação sexual, de 5 anos, a prescrição ocorre no prazo de 12 anos,. De acordo com o Código de Processo Penal.

(Matéria editada às 13h30 para acréscimo de informação)

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