Desenhista nega omissão de socorro e diz ter pensado que carro era "moto"
Preso em flagrante após acidente com morte no domingo, Raphael Antunes de Carvalho, foi solto e vai responder em liberdade
No depoimento que deu à Polícia Civil no domingo de madrugada, o desenhista Raphael Antunes de Carvalho, de 37 anos, disse que pensou se tratar de motocicleta o veículo Corsa ocupado por Matheus Oliveira Santos, 24 anos, morto depois de ser atingido pela Ranger guiada por ele, na Avenida Três Barras, em Campo Grande. Ele também negou omissão de socorro. Garantiu ter acionado o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), informação reforçada pela defesa dele.
Carvalho disse achar que era moto o veículo no sentido contrário por ter visto apenas um farol aceso. Testemunhas disseram ter visto os fois faróis ligados. O desenhista, ao ser interrogado, afirmou ter percebido se tratar de automóvel apenas quanto tentou, e não conseguiu fazer a ultrapassem, depois de curva, seguindo-se o choque. Ainda segundo sua versão, desceu da Ranger, foi até perto do outro carro, observou haver vítimas e chamou o socorro.
Nas palavras do condutor, ele soube da morte do outro motorista pelos policiais militares que atenderam a ocorrência.
(Confira abaixo imagens feitas pelo cinegrafista Ailton Cezário)
O desenhista foi solto ontem pouco antes do almoço, sem pagamento de fiança, depois de a juíza plantonista do fim de semana Luciane Buriasco Isquierdo entender não ser o caso de manter a prisão. A decisão dela provocou revolta na família, mas segundo profissionais do Direito ouvidos pela reportagem, está de acordo com a previsão legal.
Pela legislação, o magistrado pode colocar a pessoa em liberdade quando ela não oferece risco à instrução processual e à sociedade, como a magistrada entendeu. Sobre a fiança, a juiza decidiu não arbitrar considerando a situação financeira de Raphael e ainda argumentando não ter esse hábito quando se trata de "vida humana".
O desenhista foi procurado pelo Campo Grande News por telefone, e recusou-se a falar. Disse que não atenderia jornalistas e que estão sendo escritas “muitas besteiras” sobre o caso.
Indicou, então, o nome do advogados Ilton Hashimoto. O profissional, no caso junto com outros dois (Marcelo Siqueira e Robson Amorim), disse à reportagem ainda estar tomando pé da situação e que a principal queixa sobre o que foi divulgado é em relação à omissão de socorro. “Ele ficou no lugar e chamou o Samu”, observou.
Frieza e alta velocidade - Nos depoimentos da madrugada, porém, pelo três testemunhas, duas delas motoristas de aplicativo, relataram que Raphael demonstrou frieza e, quando usou o telefone, foi para ligar a amigos. “Bati minha camionete”, repetia, conforme os relatos. Segundo as pessoas que estavam no local, não houve demonstração de sentimento.
Além dele, estavam no carro a esposa e os dois filhos, de 4 e 6 anos.
Ouvidas pela polícia, as testemunhas diseram que o utilitário estava em alta velocidade quando houve a colisão. A vítima morreu ainda no local.
No outro veículo, estavam sete pessoas, situação irregular. Das sete vítimas do acidente levadas para o hospital, duas seguiam internadas no fim desta tarde, dois adolescentes, um menino e uma menina, ambos de 13 anos. Eles passaram por cirurgia.
O inquérito vai ser conduzido pela 4ª Delegacia de Polícia Civil, nas Moreninhas. A delegada responsável, Célia Maria Bezerra da Silva, começou a ouvir na tarde de ontem as testemunhas, entre elas uma das vítimas que havia recebido alta horas antes.
Raphael Antunes de Carvalho vai responder por homicídio qualificado por embriaguez. Embora tenha se recusado a fazer o teste de alcoolemia. Alegou em seu interrogatório na delegacia ter feito isso em razão do nervosismo. Como a lei permite, foi lavrado documento constatando a embriaguez.