Dia simbólico e triste: Campo Grande ultrapassa marca de cem mortes pela covid
Capital tem 104 mortes pelo novo coronavírus. A cada oito horas, uma cova é aberta para sepultar vítima da doença
O mês de julho, que hoje chega ao seu 27º dia, é marcado por um número simbólico e triste: mais de cem mortes por covid-19 em Campo Grande, exatos 104 casos. Em primeiro de julho, a Capital registrava 12 óbitos pelo novo coronavírus. Em 27 dias, foram mais 92 vidas perdidas. A cada oito horas, uma cova é aberta para sepultar uma vítima da doença.
A primeira morte foi na madrugada de 12 de abril, um domingo. A mulher de 71 anos estava internada no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian. A doença progrediu rápido. No sábado (11 de abril), a paciente foi ao CRS (Centro Regional de Saúde) Tiradentes com dificuldade para respirar. Com piora no quadro clínico, a idosa foi transferida ainda durante a tarde para o hospital, onde morreu.
O óbito foi divulgado em 13 de abril, mesma data em que Campo Grande teve a segunda morte por covid-19, uma paciente de 62 anos que faleceu no Hospital da Unimed.
De abril a primeiro de julho, a estatística mostra 12 mortes. Já as matérias do Campo Grande News mostram o adeus doloroso e solitário de quem não pôde ao menos estar próximo de quem amava.
Em 3 de maio, o luto foi da família do dentista Patrocínio Magno Portocarrero Naveira, 74 anos. O terceiro a morrer pela doença em Campo Grande era o amor de Laís, numa união de 33 anos. O adeus foi por bilhete, com um “eu te amo” lido pelo médico na UTI.
A quinta morte registrada na Capital foi a de Weslley Utinoi Denadai, de 38 anos, que faleceu em 14 de maio. Os pais relataram que o jovem só saía de casa para ir ao supermercado.
Com comorbidades, ele foi hospitalizado e a família contava com a alta. Weslley já havia até autorizado que ele fosse filmado quando deixasse o hospital.
“Ele me ligou, ontem ou anteontem, e falou 'pai, me tira daqui'. A gente achava que até o fim de semana, ele estaria em casa”, relembrou o pai Antônio Denadai.
Em 20 de maio, o cantor sertanejo João Gustavo, 26 anos, perdeu a sua fã numero um. Creuza Maria Caetano dos Santos, 83 anos, era mais uma vítima do novo coronavírus em Campo Grande.
Na memória do neto, ficaram as histórias que Creuza contava sobre quando trabalhou no garimpo, antes de chegar a Mato Grosso do Sul, e como era tocar um hotel. “Era até engraçado. Mas, qualquer hora que a gente chegasse na casa dela, ela servia um banquete”.
À distância e com flores de plástico. Assim foi o adeus no dia 5 de junho para Marilda Monteiro de Souza, que aos 51 anos foi a oitava pessoa a morrer da doença em Campo Grande.
Marilda deixou a três filhos, um jovem de 19, uma adolescente de 17 e uma criança de 12. De longe, cerca de 20 pessoas acompanharam o sepultamento, cujo único amparo foi o abraço entre os familiares.
A partir de julho, os números se tornaram terríveis e passaram a exigir medidas como instalação de contêiner para refrigeração dos corpos no HR Rosa Pedrossian, hospital referência para tratamento da doença, e compra de 3,8 mil sacos para cadáver.
Em 17 de julho, Antonio Carlos Melo Sagrillo, pastor e escrivão aposentado da PF (Polícia Federal), foi a 53ª morte provocada pela covid em Campo Grande. No Facebook, o adeus ao pastor de 63 anos, veio com uma homenagem em vídeo. A gravação lembra que haverá um dia sem dor, sem choro e com a esperança de reencontro.