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Capital

Dirigente reduzia almoço de quem “comia demais” e impediu idosa de ir ao médico

Presidente de asilo está afastada por força de medida protetiva

Lucia Morel | 30/11/2021 17:45
Dispensa cheia na Casa do Aconchego, em imagem de vistoria do MP. (Foto: Reprodução processo)
Dispensa cheia na Casa do Aconchego, em imagem de vistoria do MP. (Foto: Reprodução processo)

Depoimentos de funcionários e ex-funcionários da ILPI (Instituição de Longa Permanência de Idoso) Casa do Aconchego, no Bairro Taveirópolis, confirmam casos de maus-tratos a idosos por parte da dirigente do local, que está afastada de lá por força de medida protetiva.

Ouvidos na semana passada, os trabalhadores relataram ter presenciado gritos e comportamento agressivo de Suely Gomes dos Santos contra os assistidos, como por exemplo, o empurrão de colher de comida contra idosa que se negava a comer. “Dava pra ouvir o barulho do talher batendo em sua dentadura”, disse uma ex-funcionária.

O momento do almoço era “a hora do terror” no local, porque era quando Suely saía de sua sala, às 11 horas, e passava a causar transtornos à equipe e aos idosos, inclusive, trocando os pratos destinados a idosos com necessidades específicas, o que era cuidado pelos funcionários da cozinha.

Conforme a depoente, os pratos eram organizados em fila por padrão de alimentação: papinhas, comidas sólidas, restrições alimentares e quantidade de alimento. Mas quando a dirigente chegava, misturava a ordem dos pratos e idosos que, segundo ela, “comiam demais”, recebiam menos comida e os que comiam pouco, recebiam mais.

Para estes últimos, ela costumava dizer que “se não comer, vai morrer e se morrer, entra outro no lugar”, além de que os idosos com transtornos mentais mais sérios ou algum tipo de demência eram os principais alvos das agressões verbais e em algumas ocasiões, uma idosa que se alimenta com dificuldade foi apressada a encerrar sua refeição. Suely batia na mesa enquanto exigia que a mulher terminasse logo de comer.

Para piorar o clima de terror, as refeições não demoravam mais do que 15 minutos e assim que terminavam de comer, os idosos eram obrigados a voltar para seus quartos, sem atividades ou momentos de lazer.

Ainda houve relatos de que muitos dos idosos, que antes da mudança de gestão da casa se comportavam adequadamente, sem surtos e mais equilibrados, passaram a ter piora no quadro psicológico e psíquico, inclusive, com impedimento de irem em consulta com Psiquiatra no CEM (Centro de Especialidades Médicas).

Conforme o depoimento de mais um funcionário, a idosa havia sido impedida de ir ao médico simplesmente porque Suely teria implicância com aqueles que tinham transtornos mentais. Assim, a vítima começou a se sentir cada vez mais triste e teve seu quadro de saúde agravado, melhorando assim que Suely parou de ter contato com ela.

Câmeras – Um dos idosos que imagens das câmeras de segurança mostram estar sendo agredido pela dirigente é irmão dela, que nem ao menos era interno do asilo. Ocorre que ela havia o levado para lá, porque ele estaria morando na rua e num dia, no horário do almoço, ele exigiu repetir a refeição, porque a irmã dele era a responsável pelo local. O desentendimento entre os dois começou aí.

Suely então pediu à equipe do asilo que o levasse até o quarto e acabou o agredindo, determinando, inclusive, que seus pertences fossem juntados para que fosse embora. Assim, funcionários viram que ele estava com vários arranhões no pescoço e no rosto.

Em seguida, Suely entrou em contato com um terceiro irmão para retirar o outro de lá, mas ele disse a ela que não tinha para onde levá-lo. A dirigente então pediu ao motorista da entidade que o tirasse do asilo, dizendo que poderia “jogá-lo no lixão ou na rodoviária”.

Depoimento de funcionária ao MP. (Foto: Reprodução)
Depoimento de funcionária ao MP. (Foto: Reprodução)

Os depoimentos ainda relataram casos de agressões verbais, chamando idosas de gordas e idoso de “estuprador”; dizia ainda a outros que nem mesmo os familiares os aguentavam ou que “antes, comiam lixo e agora, querem escolher o que comer”.

Pelos relatos, inclusive, de funcionários que a conheciam antes de começar a dirigir a Casa do Aconchego, ela foi avisada de seu comportamento inadequado e explosivo, mas não dava ouvidos a ninguém e, ainda, teria ameaçado funcionário demitido de que “acabaria com sua carreira” caso fizesse algo para prejudicá-la.

Apesar do comportamento de Suely, nos depoimentos, maioria dos ouvidos afirmaram que a dirigente nunca deixou faltar alimentos e outros produtos no asilo e mantinha organização e limpeza adequadas.

As declarações foram dadas à promotora Cristiane Barreto Nogueira Rizkallah, da 44ª Promotoria de Justiça, que lida diretamente com assuntos referentes à defesa de idosos.

Afastamento - A mesma promotoria, em ação que move para apurar os supostos maus-tratos e apura a irregularidade na entidade, pediu em emenda à petição inicial, o afastamento definitivo de Suely de suas funções de administração à frente do asilo.

No mesmo documento, o MP pede que o município de Campo Grande nomeie equipe de servidores para exercício temporário das funções de dirigente/presidente, até que seja decidido sobre eventual mudança da gestão responsável ou eleição de nova diretoria.

Também solicita que o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, defira o pedido para que a prefeitura monitore temporariamente a nova gestão - quando houver - "a fim de garantir serviços e tratamento dignos, respeitosos e adequados para os idosos".

(*) Matéria editada às 18h28 para acréscimo de informação.

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