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Capital

Divergências marcam depoimento de pais de menino soterrado em lixão

Francisco Júnior e Paula Maciulevicius | 09/01/2012 19:19

Menino morreu soterrado no último dia 28 no lixão, saída para Sidrolândia

Sem falar com a imprensa, mãe compareceu à delegacia acompanhada de advogado. (Foto: João Garrigó)
Sem falar com a imprensa, mãe compareceu à delegacia acompanhada de advogado. (Foto: João Garrigó)

Os pais de Maikon Corrêa de Andrade, 9 anos, que morreu soterrado no lixão do bairro Dom Antônio, em Campo Grande, prestaram depoimento nesta segunda-feira (9), no 5º Distrito Policial. A mãe, Lucilene Correa, 31 anos, chegou primeiro e acompanhada do advogado. Já o pai, Reginaldo Pereira de Andrade, 33 anos, foi à delegacia sozinho.

As investigações seguem para apurar se os pais tinham conhecimento que o menino trabalhava no local, e se a frequência de Maikon no lixão era a mando deles ou de terceiros.

Segundo o delegado Jairo Carlos Mendes, o depoimento foi marcado por divergências. Reginaldo de Andrade disse que o filho estava praticamente reprovado na escola, já que no ano passado teve 140 faltas e por conta disso chegou a ser chamado pela direção da instituição de ensino.

Já Lucilene Correa apresentou uma versão totalmente diferente, conforme o delegado. Ela relatou que seu filho era um bom aluno e, que possivelmente, tinha sido aprovado no ano letivo de 2011.

No depoimento, os pais negaram que dependessem do lixão para sobreviver. A mãe disse que é salgadeira e o pai afirmou que trabalha como pedreiro. Porém, os dois disseram ser possível que o filho trabalhasse no local para terceiros.

Luciene afirmou ainda que no dia do acidente seu filho saiu de casa para soltar pipa com amigos.

Delegado ouve nesta semana catadores, funcionários e responsáveis pelo lixão. (Foto: João Garrigó)
Delegado ouve nesta semana catadores, funcionários e responsáveis pelo lixão. (Foto: João Garrigó)

Para a Polícia, Reginaldo relatou que no dia do soterramento soube de catadores, que o filho foi visto ao menos três vezes no local. “Mas não souberam indicar se ele estava brincando ou trabalhando”, disse o delegado que pretende ouvir nos próximos dias trabalhadores do lixão e os responsáveis pelo aterro sanitário.

A Polícia pretende também solicitar laudos complementares do local onde aconteceu o acidente. No dia em que o corpo foi achado estava chovendo, havia muita lama no local, fator que dificultou a perícia. “Precisamos saber como ficou a montanha de lixo, como desmoronou, a situação dos alambrados em volta do lixão, se havia placas de proibido a entrada de menores no local”, elencou Jairo Carlos.

Ao saírem da delegacia, os pais não quiseram falar com a imprensa. Apenas o advogado que acompanhou a mãe concedeu entrevista. Antônio Mourão culpou o poder público pela tragédia. “Não se pode exigir que uma criança tenha consciência dos riscos”.

O delegado esteve hoje no período da tarde no lixão para analisar o local do acidente.

Acidente – O acidente aconteceu por volta das 16 horas do dia 28. A vítima estava junto com outras crianças num lugar chamado de barranco, dentro da montanha de lixo. Catadores que atuam no local viram quando as crianças estavam no barranco e um caminhão chegou para despejar entulho.

O lixo foi empurrado para o barranco por uma máquina, como é praxe e, nesse momento, conforme contaram os trabalhadores, houve o desmoronamento em direção às crianças. Um amigo de Maikon conseguiu escapar com a ajuda de um catador.

As buscas pelo corpo do menino duraram mais de 20h. Segundo a perícia Maikon morreu logo ao ser soterrado.

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