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Do romance ao golpe: a história do homem que enganou quatro mulheres

Suspeito conquistava as vítimas, mantinha relacionamento com elas e até pensão recebia para dar à filha

Por Bruna Marques | 15/07/2024 11:54
A esquerda, suspeito com filha de uma das vítimas; a direita, homem com outra vítima (Foto: Arquivo pessoal)
A esquerda, suspeito com filha de uma das vítimas; a direita, homem com outra vítima (Foto: Arquivo pessoal)

Jovem de 26 anos é acusado por ex-companheiras de aplicar golpe, o chamado “estelionato emocional”. O conquistador já fez quatro vítimas, se aproveitando da estabilidade financeira delas.

No sábado (13), assistente administrativa, de 40 anos, registrou boletim de ocorrência contra o ex-namorado. A denúncia se deu porque na semana passada a vítima descobriu que estava sendo enganada pelo homem, que se fazia de “coitado”, para ser sustentado pela mulher. Durante os quatro meses que estiveram juntos, o golpista conseguiu tirar da ex R$ 4 mil.

“Ele se aproximou de mim, me fez achar que tínhamos um relacionamento, que realmente estávamos juntos. Quando viu que eu estava apaixonada, começou a se fazer de coitado, me pedia dinheiro para comer, para comprar roupa, pagar fatura do celular e até a pensão da filha dele”, explicou.

Com dó do namorado, a mulher foi bancando as dívidas dele e na ocasião, arrumou um emprego para o rapaz, em um pet shop de Campo Grande. “Ele ficou um mês lá, não pediu vale transporte para a empresa porque iria descontar do salário dele. Pedia para eu levar e buscar ele todos os dias e a idiota aqui ia achando que estava ajudando o namorado”, expôs.

Na quinta-feira passada, a vitima conta que o rapaz mentiu, dizendo que havia passado mal no trabalho e que estava no UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Na ocasião, o homem pediu dinheiro para pegar carro de aplicativo e ir embora.

“Mandei R$ 30 para o transporte e comprei dois lanches e mandei entregar na casa dele. Nesse mesmo dia me pediu R$ 150 falando que no domingo ia ser o aniversário da filha dele e queria dar um presente a ela. Eu com dó falei que ia arrumar. Na sexta-feira pediu de novo o dinheiro, eu desconfiada falei que no PIX não tinha, mas falei pra ele usar o dinheiro que eu tinha no banco, meu cartão estava com ele”, relembra.

Sem acreditar muito na história contada pelo namorado, a mulher entrou no extrato do banco e viu que ele gastou seu dinheiro do cartão em um espetinho, na Avenida Gunter Hans. “Ele tinha dito que ia comer com os meninos que moram com ele, quando entrei nas redes sociais dele, ele tinha me bloqueado no Instagram e Facebook. Pedir para uma amiga entrar no perfil dele e ela o viu postando foto comendo e bebendo com outra mulher, com o meu dinheiro”.

Questionado pela vitima o motivo dele a ter bloqueado, o rapaz afirmou que estava se sentindo "vigiado” pela namorada. “Mandei os print na hora pra ele no Whatsapp, foi quando ele falou que os amigos que pediram para ele postar. Fui na casa dele na mesma hora e fiquei sabendo que ele tinha se mudado sem pagar aluguel”, desabafou.

De acordo com a vítima, o rapaz já estava se relacionando com a moça. "Ele falou que precisava de dinheiro e encontrou em mim o jeito de conseguir. Só de pensão para a filha dele eu paguei R$ 1.500. No dia 19 de junho mandei mil reais do meu abono salarial”, lamentou.

No sábado a vítima foi atrás dele no pet shop que trabalhava, no local ela descobriu que o ex havia deixado o serviço há três dias. “Queria pegar meu aparelho celular que estava com ele, mas ele não estava mais lá. Descobri que tem mandado de prisão contra ele, faz um ano que não paga a pensão”.

Neste domingo, a mãe do rapaz mandou mensagem para a vítima. No texto ela fala que o filho errou, mas que ele não a obrigou sustentá-lo. “Falou que ele não colocou arma na minha cabeça para dar dinheiro. Eu respondi que uma pessoa se aproxima de você fingindo ter sentimento para te extorquir é um criminoso sim”, contou.

A assistente administrativa conta que por muitos anos trabalhou em um supermercado da Capital e lá acabou conhecendo o golpista. “Naquela época ele era casado, ficamos três anos sem contato. Em março deste ano ele me adicionou nas redes sociais, começou conversar comigo, pedi para me ver, enrolei ele um tempo, depois começamos a nos envolver. Sabe aquela coisa que parece novela? É bem isso! Estou péssima, me sentindo suja e envergonhada”, finalizou.

Algumas das transferências feitas pela vítima para o suspeito. (Foto: Arquivo pessoal)
Algumas das transferências feitas pela vítima para o suspeito. (Foto: Arquivo pessoal)

Outras enganadas – Quem também caiu no golpe do amor foi a contadora de 34 anos. Os dois se conheceram no trabalho, em 2022 e chegaram a morar juntos. Com essa vítima, o crime cometido pelo homem foi violência psicológica, além de violência doméstica. “No começo ele trabalhava e eu tive que sair da empresa e me mudei para Ribas do Rio Pardo. Ele foi junto comigo, lá eu comecei a tocar um trailer de lanche que era da minha irmã e ele me ajudava”.

Certo tempo depois, o casal brigou, o homem ameaçou agredir a mulher e eles se separaram. “Me mudei pra Água Clara para tomar conta da boate que também era da minha irmã. Depois de um tempo nós voltamos, ele mudou para lá e nisso eu pagava pensão, o aluguel do carro que usava para trabalhar como motorista de aplicativo, não ajudava nas despesas, tudo era arcado por mim”.

Segundo a contadora, as peças foram se encaixando quando a outra vítima entrou em contato com ela e contou o que havia acontecido. “Fui ligando uma coisa na outra porque até então eu pensava que a causadora dos danos que ele teve foi eu. Ele mesmo dizia que tudo que estava acontecendo era culpa minha”.

Após quase um ano juntos, o relacionamento terminou em março deste ano, quando a mulher descobriu que o rapaz levou outra mulher na casa dela, enquanto estava internada. “Eu tinha ganhado neném e meu bebê precisou ficar internado por dez dias. Como nós tivemos alguns términos, em um desses eu voltei com meu ex e acabei engravidando. Como foi em muito pouco tempo pensei que o filho fosse dele, então terminei com o ex e voltei com ele, nisso ele registrou o bebê, porém logo após o neném nascer eu fiz exame de DNA para ter certeza e não era dele, agora já entrei com pedido de mudança de paternidade e estou aguardando”, afirmou.

Terceira vítima - Cabeleireira e maquiadora, de 31 anos, teve um relacionamento de cinco meses com o golpista, no ano passado. O homem já tinha sido casado com a irmã da vítima, em 2018, entrou em contato com ela no Facebook, começou a conversar e depois de alguns dias chamou a mulher para sair.

"Eu o tratava como meu ex-cunhado e pronto. Depois ele foi dando em cima de mim, até conseguir ficar comigo. Aí começou aos poucos, chegava na minha casa com cara de coitado. Falava que estava desesperado, que precisava de dinheiro pra pagar a pensão da filha mas nunca dei ouvidos. Tenho 31 anos não sou boba, ele não conseguiu me dar o golpe como nas outras. Queria ficar enfiado na minha casa, nunca tinha dinheiro e olha que ele trabalhava”, relembra.

O golpista se lamentava dizendo que não tinha condições de comprar calçados, perfumes, sempre tentando enganar a mulher. “Ele sempre me contando histórias que aconteciam com as outras meninas, mas sempre falando mal delas, como se ele fosse o coitado. Ele quis que eu indicasse um agiota pra ele, eu conhecia um e indiquei para ele. Ele foi lá começou a ficar com outras meninas e pediu pra elas pegarem dinheiro com esse agiota, ele juntou tudo e foi pra Goiânia”.

No período em que estiveram juntos, a vítima engravidou do golpista. Ele chegou a pedir que ele abortasse o menino. “Não aceitei, mas acabei perdendo, tive uma parada cardíaca, quando acordei no hospital ele estava lá e já foi me pedindo dinheiro emprestado. Mal sabia ele que eu já era calejada e não confio nas pessoas, principalmente em homem que pede dinheiro para mulher. Isso não existe mulher dar dinheiro para homem.

A cabeleireira diz que a mãe do golpista é conivente com as atitudes do filho. “Ele veio com história de que ela ia vender rifa pra fazer a hemodiálise dela, eu acabei comprando tudo pra ajudar. Eu fiz ele devolver um pouco dinheiro, ele me devolveu porque tem medo de mim, mas ainda ficou faltando R$ 450. Gastei com ele cerca de R$ 3 mil, só de corrida de aplicativo e saídas para bares. Vivia comendo até as coisas da minha filha na minha casa, o idiota gostava de um leite com Nescau. Ele realmente estava praticando um estelionato sentimental, fazia a gente achar que estava num relacionamento sério com ele, pediu em namoro e tudo”, finalizou.

Conforme apurado pelo Campo Grande News, o suspeito não tem passagens criminais. A quarta vítima citada no início da reportagem não respondeu as mensagens até o momento da publicação da matéria.

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