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Capital

“Ele achava que era meu dono”, diz vítima de tentativa de feminicídio

Crime aconteceu em outubro de 2018 e réu chegou a passar seis meses presos pela tentativa de feminicídio

Ana Paula Chuva e Bruna Marques | 21/10/2022 13:18
uTesmunhas pediram para que réu fosse retirado do plenário para depoimento. (Foto: Paulo Francis)
Tesmunhas pediram para que réu fosse retirado do plenário para depoimento. (Foto: Paulo Francis)

Durante depoimento na 2ª Vara do Tribunal do Júri, na manhã desta sexta-feira (21), a ex-mulher de Francisco Luciano da Silva Neto, declarou que o homem tinha sentimento de posse e achava que era dono dela por isso tento matá-la no dia 19 de outubro de 2018, na casa onde ela morava com o filho, no Bairro Estrela Park, em Campo Grande. Para darem seus testemunhos, as duas vítimas pediram para que o réu fosse retirado do plenário.

A mulher contou que foi casada seis anos e meio com o Francisco, mas que durante o tempo que ficaram juntos nunca foi sequer agredida pelo homem e que o problema começou depois que ela decidiu pôr um fim na relação.

“Eu não amava mais ele. Me traiu, me enganou. Ele não aceitou o fim ficava insistindo para voltar de tudo quanto é jeito, mas eu não queria mais ele. Ele chegou a ter outra esposa, depois que estávamos uns 8 meses separados, só que ficava insistindo para voltar comigo. Eu tinha até medida protetiva contra ela porque me ameaçou de morte”, disse a mulher que hoje tem 44 anos.

No relato, ela contou que no dia do crime chegou do trabalho e foi buscar o filho na escola. Depois voltou para casa e estava conversando com a amiga, que também foi agredida por Francisco, quando ouviu o filho gritar ‘não’ e ao olhar para trás, viu o autor na porta com a arma em punho.

“Acertou meu armário e eu corri para me esconder embaixo da mesa. Ele continuou atirando e não falava nada. Ele chegou atirando direto em mm, o primeiro acertou de raspão minha cabeça e arrancou meu couro cabeludo, o outro foi na minha barriga e parou no quadril. Tenho a bala alojada até hoje. Dava para ver na cara a raiva dele”, alegou a vítima.

Francisco no banco dos réus antes do depoimento das vítimas. (Foto: Paulo Francis)
Francisco no banco dos réus antes do depoimento das vítimas. (Foto: Paulo Francis)

“Quando ele parou de atirar, meu filho e minha amiga vieram do fundo de casa. Achei que ele tinha ido embora. Tentei levantar e não consegui. Minha perna doía muito e ai que vi a bala na minha camiseta. Me arrastei até a porta da sala e meu filho saiu para fora, então os vizinhos vieram em ajudar”, continuou.

A mulher foi socorrida e passou cindo dias no hospital. Depois que recebeu alta ficou seis meses de cadeira de rodas e depois passou um tempo andando de muletas e até o momento, dois anos depois do crime, ainda sente as dores nas pernas.

“Eu não consigo andar normal até hoje. Perdi as forças e sinto as pernas dormentes. Fora que até hoje tenho pesadelo com aquele homem. Mudei de casa, vivo trancada, ando na rua olhando pros lados. Eu perdi minha paz. Ele achava que era meu dono. Ele tinha sentimento de posse, não de amor”, pontuou.

Sobre Francisco ter esfaqueado a amiga, a mulher disse que não sabe o motivo, mas disse que oito dias após a separação ele a procurou “ele disse que ela não era minha amiga e que eles estavam conversando, mas para mim não fazia diferença nenhuma”, continuou a vítima.

“A família dele justifica que ele surtou, mas para mim foi maldade, crueldade. Sempre cuidei dele. Agora você faz a atrocidade e diz que tem problema de cabeça. Louco rasga dinheiro. Ele ficou preso só 6 meses, depois que foi solto passou na frente da casa da minha irmã. Tenho medo dele”, finalizou.

Marcas de sangue encontradas no local onde o crime aconteceu em 2018. (Foto: Reprodução)
Marcas de sangue encontradas no local onde o crime aconteceu em 2018. (Foto: Reprodução)

Crime – Conforme apurado na época, Francisco pulou o muro da casa e efetuou os disparos contra a ex-mulher. A amiga, que também estava na casa, foi esfaqueada pelo homem e ferida no ombro. Ambas as vítimas foram socorridas e levadas para a Santa Casa.

O homem também foi levado para o hospital, porque se automutilou com uma faca e estava com um ferimento no tórax. Ele teve a prisão preventiva decretada no dia seguinte. Mas depois foi solto e nesta sexta-feira, sentou no banco dos réus para ser julgado.

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