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Capital

Em 24 horas, delegado-geral vira alvo de duas denúncias no MP e sai de férias

Fatos surgem após divulgação de uma discussão entre Adriano e a delegada Daniela Kades, durante reunião

Geisy Garnes | 11/11/2021 09:15
Adriano Garcia Geraldo foi empossado delegado-geral da Polícia Civil em fevereiro. (Foto: Henrique Kawaminami)
Adriano Garcia Geraldo foi empossado delegado-geral da Polícia Civil em fevereiro. (Foto: Henrique Kawaminami)

Em menos de 24 horas, dois pedidos de investigação contra o delegado-geral da Polícia Civil Adriano Geraldo Garcia foram registrados no Ministério Público de Mato Grosso do Sul. O primeiro pede a investigação da ligação do chefe da instituição com o jogo do bicho e o segundo cobra o afastamento dele do cargo.

Conforme apurado pela reportagem, a Ouvidoria do Ministério Público recebeu na terça-feira (9) e confirmou ontem (10), pedido de investigação sobre o envolvimento de policiais civis, incluindo o próprio delegado-geral, no esquema de favorecimento a um grupo que tenta dominar o jogo do bicho em Campo Grande.

Segundo nota oficial do MP, assim que a manifestação chegou ao órgão, foi encaminhada à Supervisão das Promotorias de Justiça Especializadas para distribuição a uma das Promotorias de Justiça com atribuição na área do Patrimônio Público e Social. Detalhes da denúncia não foram divulgados.

Na tarde de ontem (10), o vereador Tiago Vargas distribuiu nota à imprensa informando que também procurou o Ministério Público e a própria Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), para pedir o afastamento de Adriano do cargo de delegado-geral. Para ele, o Garcia “não tem condições éticas e morais para estar à frente da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul”.

As denúncias surgem após o vazamento de uma discussão entre Adriano e a delegada Daniela Kades, durante reunião interna. Na ocasião, ela se recusou a revelar ao chefe a identidade de criminosos investigados pela Operação Omertà, sob justificativa de que “não confiava na polícia”.

Após o episódio, divulgado em primeira mão pelo Campo Grande News, a delegada passou a responder a um inquérito policial e chegou a ser chamada para prestar depoimento na Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado). Administrativamente, ela é investigada ainda por “insubordinação grave em serviço”, em processo instaurado pelo corregedor-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul. Depois do fato, a delegada tem enfrentado “repressão”, como fiscalização dos inquéritos policiais e plantões extras.

Outras reclamações contra a administração do atual chefe da Polícia Civil também chegaram à reportagem. Policiais citaram as frequentes ações da Operação Deu Zebra, que visa justamente o combate ao jogo do bicho, como empecilho para investigações, já que as equipes são desviadas das delegacias para fazer “batidas” às bancas de jogos ilegais.

Procurado pela reportagem, o secretário da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, afirmou que Adriano Garcia continua à frente da delegacia-geral, com autonomia para decidir. No entanto, no caso da investigação Omertà, ele se torna impedido de qualquer decisão após a investigação.

"Não é um afastamento, é uma arguição de suspeição. Ele não vai receber procedimento e aplicar pena sobre esse processo, mas continua com suas atribuições normais à frente da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul", afirmou.

Nesta quinta-feira (11), no DOE (Diário Oficial do Estado), a Sejusp publicou a designação da delegada Rozeman Geise Rodrigues para substituir Adriano Garcia, durante período férias, de 16 a 30 de novembro.

Caso – Depois de recusar a citar nomes de investigados na reunião, a delegada Daniela Kades afirmou que “não confia na polícia”, se referindo à série de denúncias de corrupção dentro dos órgãos de segurança pública feita pela própria força-tarefa da Operação Omertá. Agentes da Polícia Civil (investigadores e delegados), guardas municipais, policiais militares e policial federal foram presos nas ações.

Em áudio obtido pelo Campo Grande News, é possível ouvir que o começo da discussão se refere justamente às consequências das investigações que, em 2019, desarticularam grupo criminoso apontado como responsável por, pelo menos, sete execuções na Capital.

Ele reclama que existem vários criminosos de fora do Estado em ação, que ele não tem conhecimento. A delegada, que participa diretamente da investigação, responde que a situação não é bem aquela. Inicialmente, Kades fala que “grupos” citados pelo chefe não são de fora de Mato Grosso do Sul. É neste momento que ela revela não confiar o suficiente nas pessoas presentes para detalhar o assunto.

“Eu não vou falar o nome das pessoas”, afirma Kades. “Por quê?”, questiona Adriano. “Porque eu não confio na polícia”, responde ela.

“Se não vai por bem, vai na dor. Aí, a gente põe hierarquia, porque é muito triste você dizer que não confia”, ameaça Adriano no áudio.

(*) Matéria editada às 9h45 para acréscimo de informações.

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