Em casa de madeira na Homex, calor é mantido com fogão a lenha e chimarrão
Chegada do frio preocupa moradores na comunidade e Urbano Jorge apela para o 'fogo' para se aquecer
Na comunidade Homex, a chegada do frio nesta sexta-feira (19) é motivo de preocupação para os moradores do conjunto habitacional localizado no Jardim Centro-Oeste, região sul de Campo Grande. Em uma das casas de madeira, que resistem em meio às de alvenaria, Urbano Jorge, de 61 anos, sente ainda mais a temperatura, visto que a construção é vazada.
Por ser um isolante térmico, o material tem capacidade de manter a temperatura do ambiente, seja frio ou quente. Com a cozinha na parte externa da casa, o autônomo usa um fogão a lenha para preparar os alimentos. O calor fornecido pelo fogo é estratégia também para aquecer o idoso. À reportagem ele explica que não tem casacos e que aguarda doações para que consiga se aquecer.
"Além do frio, ainda tem os grilos de noite. Quando vem o frio, reforçamos o barraco para tapar as brechas. A gente dá um jeito, com uma doação de uma roupinha, um agasalho, roupa de cama, essas coisas que a gente precisa. É disso que a gente precisa. Com o frio que vem aí é bom ganhar um agasalhinho".
Além do fogão, Urbano também apela para o chimarrão para se aquecer. Ele consegue renda através de alguns trabalhos como jardineiro e pequenos bicos diversos.
Compartilhando do mesmo problema, Jane Pereira, de 54 anos, conta que a falta de insumos básicos refletem diretamente em como a família consegue lidar com a temperatura dentro de casa. Sem agasalho, ele teme que a saúde não resista à temperatura.
"Se vier um frio vai ser só Deus na causa, porque nós não temos agasalhos e recursos para comprar. Ganhamos um salário e hoje mesmo não pude ir trabalhar por conta da chuva, então não vou receber. Eu pego ônibus todos os dias às 5h30 da manhã. Ganho um salário, mas não tenho condições. Tenho um filho preso e todos os domingos é dia de visita e quem tem filho preso acaba gastando muito.”
Trabalhando com serviços gerais, Jane mora com o marido, Paulo Roberto Santos, de 60 anos, em uma casa com dois cômodos: quarto e banheiro. Ela está instalada em um dos imóveis de alvenaria da comunidade.
"Aqui nós sempre estamos sofrendo com as consequências. Agora, graças a Deus trouxeram a água pra perto. Ontem mesmo nós ficamos sem energia, por conta dos gatos que começam a dar curto", diz Paulo.
Além do frio, o sofrimento para ir trabalhar começa já na saída de casa. Com a chuva, a terra vira lama e Jane precisa colocar sacola nos pés. “Eu pego ônibus, a hora que desci ali meu pé afundou no barro. Para ir para o ponto amanhã tenho que colocar sacolinha no pé, porque se não, não dá. A linha do ônibus lá também está horrível, é muito barro e o ônibus quase não está descendo, porque forma várias lagoas na rua".
Juscelino de Oliveira, de 62 anos, é aposentado e mora no local há 5 anos. Ele comenta que conseguiu construir a casa onde mora com doações. Sobre o frio, ele ressalta que nunca estará preparado.
“Preparado a gente não está. A gente tem alguns casacos, mas eles já estão velhos. Quando vem frio assim, quase não saio de casa. Tenho outras coberturas também, mas casaco, casaco, não tenho não. No frio acabo ficando só com essas camisetas. A gente fica contando com doações mesmo."
Homex – A área invadida é remanescente de um projeto milionário da Homex, que veio a Campo Grande com a promessa de construir 3 mil casas, em Campo Grande, em 2010. A chegada foi precedida por tensão entre a prefeitura e a Câmara Municipal. O grupo havia anunciado investimento de R$ 200 milhões na área.
Na época, estavam previstas mudanças para reduzir o tamanho mínimo do terreno, saindo de 360 para 250 metros quadrados, e aumentar a quantidade de casas. Mas em 2013, o projeto foi abandonado e os terrenos da empresa foram invadidos.
Os procedimentos para regularizar a área da Homex são realizados desde 2018. No ano passado foi recolhida toda a documentação. O custo total, incluindo a permuta de terrenos, é de R$ 10 milhões. De lá pra cá, a comunidade recebeu energia elétrica e água, os direitos básicos foram conquistados em 2023.
Cada lote teria custo de R$ 20 mil, pago de forma parcelada. A cada mês, o proprietário vai desembolsar 10% do salário mínimo. Com o valor vigente hoje, a parcela seria de R$ 130. Após receber a escritura, o proprietário só pode alugar ou vender o imóvel após cinco anos.
No mesmo ano, a prefeita Adriane Lopes (Patriota) anunciou a conclusão do processo para que o poder público assumisse a área e a empresa recebesse terreno no Portal Caiobá. Além disso, também foi feito pente-fino para identificar quem, de fato, morava no local.
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