Em dia de evento, poucos aparecem para dar as mãos pelo Amambaí
Evento teve apresentações culturais, mas artistas ficaram sem plateia na região da antiga rodoviária
Este sábado era para ser “de mãos dadas com o Amambaí”. Mas em outra tentativa de ocupar um dos espaços tradicionais da cidade, quase ninguém apareceu à região da antiga rodoviária.
O evento, planejado pela associação de moradores do bairro, em parceria com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), reuniu apenas artistas convidados para apresentações culturais e os organizadores. De público, não apareceu quase ninguém.
Na abertura, com culto ecumênico, estavam comerciantes da região e trabalhadores dos Correios, de agência que fica ao lado da velha rodoviária. Porém, quando as performances artísticas começaram, só restou 1 morador na plateia, o empresário João Jamil Anache.
Ele vive no bairro desde que nasceu, há 59 anos, e conta que soube da programação especial deste sábado pelo grupo de whatsapp, criado pelos vizinhos. “Mas quando estava vindo vi uns 20 moradores de rua deitados na calçada”, conta sobre o que acha ser motivo da falta de público.
Rosane Nely Lima, presidente da Associação de Moradores do Bairro Amambai, e também síndica do condomínio empresarial instalado na antiga rodoviária foi responsável pela organização do evento.
A ideia da entidade é mostrar que a região mais antiga da cidade tem muito mais do que o terminal esquecido. Também abrange pontos fundamentais para a história de Campo Grande, como a Morada dos Baís, a Igreja Perpétuo Socorro e a Escola Maria Constança. “São patrimônios da história. Já passou da hora do poder público olhar para o bairro com outros olhos.”
Não é de hoje que moradores cobram projetos para revitalização do lugar, mas só recebem reforço da Polícia Militar. “Temos um problema social e precisamos de ajuda para resolver. Não adianta chamar a PM toda hora, até porque eles não são criminosos”, diz Rosane sobre os usuários de drogas que dorme nas ruas vizinhas ao terminal rodoviário desativado.
Com o fracasso de hoje, a organização vai avaliar se insistirá na proposta, mas já programa para a 1° semana de dezembro a festa do aniversário do bairro.
O bairro faz parte do centro, é um dos primeiros da cidade, mas desde que a rodoviária foi desativada, muitos usuários de drogas vivem nas imediações.
Fernando Cruz tem experiência em ocupar espaços públicos de Campo Grande. Já é rotina do Grupo de Teatro Imaginário Maracangalha. "A gente já fez várias atividades aqui na rodoviária. Não sei o que deu, mas os moradores participavam mais. O bairro está começando esse resgate, está muito abandonado, principalmente, aqui. Isso é um indicador de que há necessidade de políticas públicas de cultura arte e lazer. É um processo de retomar lentamente".
Atriz do Coletivo Clandestinas, Nathalia Andrade garante que é a primeira que se apresenta sem público. “Mesmo sabendo do evento, a população prefere não vir por conta dessa cena (usuários de drogas). É uma utopia ocupar o local, mas prefiro crer que é possível, promovendo eventos com mais frequência", avalia.
O presidente da CDL, Adelaido Vila, diz ser otimista e lembra que projetos para mudar a realidade do bairro não faltam. “A ideia é chamar os moradores para reocupar a região e se fortalecer na discussão. É o bairro mais antigo que precisa de socorro. Podemos fazer um incentivo a moradia no bairro. São muitos prédios abandonados, áreas degradadas e se tivermos o incentivo da prefeitura vamos ver a reocupação”.