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Capital

Em família, dirigentes de ONGs teriam feito ‘farra’ com o dinheiro público

Parte da investigação do MPE que desencadeou prisões é sobre contratações cruzadas

Anahi Zurutuza | 21/12/2016 08:29
Agente do Gaeco entrando na Seleta, no dia 13 de dezembro, quando foi realizada busca e apreensão (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)
Agente do Gaeco entrando na Seleta, no dia 13 de dezembro, quando foi realizada busca e apreensão (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)

Dirigentes das três “ONGs” que estão na mira do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) trocavam “favores” para levar vantagem sobre os contratos das entidades com a Prefeitura de Campo Grande.

Além da contratação “cruzada” das dirigentes da Omep e da Seleta de Campo Grande, os filhos e outros parentes dos mesmos eram empregados, em alguns casos com mais de um cargo, na prefeitura, em empresas ou nas próprias instituições, sem contar os que só recebiam, mas não trabalhavam.

Estas são algumas das informações levantadas pelo MPE (Ministério Público Estadual) e que justificaram os mandados de busca e apreensão, condução coercitiva e prisão decretados pela Justiça na semana passada, quando o Gaeco comandou a Operação Urutau.

Conforme apurou o MPE, na Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária, Ana Claudia Pereira da Silva, presa no dia 13 de dezembro, era quem controlava as contratações de mão de obra via convênio com a administração municipal e além de fraudar folhas de pagamentos, contava com a ajuda da companheira dela, que também é sócia da gerente de recursos humanos em uma empresa e uma associação que prestavam serviços para a Seleta, “para o desvio de dinheiro público advindo dos convênios”.

Evidências de que a funcionária não levava vida condizente com o que ganhava – R$ 2,8 mil mensais – é que ela “ostentava diversas viagens internacionais”, ainda segundo o Ministério Público.

A filha e o genro da mulher de Ana Claudia também seriam beneficiários no esquema. O rapaz é proprietário de empresa de publicidade que também prestava serviços para Seleta, mas foi contratado pela entidade em 2010 e recebia, ao menos até setembro do ano passado, R$ 4.015 para ser assistente do departamento pessoal em um órgão da prefeitura.

Já em relação à filha da companheira de Ana Claudia, há indícios de que ela seja um dos “fantasmas”. O casal levaria vida incompatível com os rendimentos, moram em casa e andam em carros luxuosos, segundo o inquérito civil.

O genro ainda empregava na empresa dele como auxiliar de tecnologia da informação, o filho de Kelly Ribeiro Pereira, a coordenadora da creche Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que também foi presa pelo Gaeco no dia 13.

Eder Túlio Pereira Bezerra, filho de Kelly, por sua vez, recebe salário de R$ 3.156,23 pela Seleta por constar no quadro de funcionários da creche dirigida pela mãe dele como auxiliar administrativo desde 2011. Conversas gravadas por meio de interceptações telefônicas feitas pelo Ministério Público reforçam os indícios de que Eder seria mais um dos “fantasmas”.

Já a creche, segundo o Gaeco, fazia do papel de “esquentar” o desvio de valores.

Omep também foi alvo de busca e apreensão (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Omep também foi alvo de busca e apreensão (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)

Omep – A Organização Mundial para a Educação Pré-escolar também é comandada por um clã. Maria Aparecida Salmaze, a terceira presa da Operação Urutau, é a presidente, a filha dela Andreia Cristina Correa é uma das diretoras e o genro Rodrigo Messa, que foi alvo de mandado de condução coercitiva, acumula dois cargos – o de diretor da Omep e presidente da Infomep (Instituto de Formação da Omep).

Não há irregularidade no fato da direção ser formada por parentes, mas o MPE destaca que por ser tratar de uma entidade filantrópica, “o corpo gerencial deveria ser voluntário”, embora os dirigentes eram contratados através da Seleta e vice-versa.

“Ninguém é obrigado a integrar qualquer entidade associativa ou caritativa e, quem o faz, deveria fazê-lo de modo espontâneo e não buscar uma remuneração que não lhe é devida, especialmente a custa do erário público”, destaca o Gaeco ao pedir os mandados.

Outro filho de Maria Aparecida, Hélio Corrêa Junior, também foi gravado pelos investigadores em conversa suspeita com a mãe.

Lavagem de dinheiro – Além dos crimes de improbidade administrativa, peculato (desvio de dinheiro público), associação criminosa e falsidade ideológica, para o MPE, há fortes indícios de que dirigentes lavavam dinheiro.

Só das contas da Seleta, entre 2011 e 2015, R$ 26,5 milhões foram sacados. A justificativas dadas, era que os montantes eram sacados para o pagamento de funcionários, versão contestada pelos investigadores, uma vez que a maior parte dos funcionários das entidades recebia por conta corrente.

“A situação é agravada porquanto a partir do momento que os valores são sacados das contas é praticamente impossível seguir o rastro financeiro”, argumentou o MPE.

Operação – Pela Urutau, o Gaeco cumpriu 14 mandados de busca e apreensão nas sedes da Seleta e da Omep, no gabinete da vereadora Magali Picarelli (PSDB), na creche, em uma empresa, um instituto de formação e na casa do presidente da Seleta, dentre outros locais.

Além disso, sete pessoas foram levadas até a sede do Grupo de Combate ao Crime Organizado para depor: o presidente da Seleta, Gilbraz Marques, a vereadora Magali Picarelli, além de Elcio Paes da Silva, Wenrril Pereira Rodrigues, Eder Tulio Bezerra Pereira, Aliny Aparecida de Souza e Rodrigo Messa.

A três presas já estão em liberdade. A defesa de Maria Aparecida já havia alegado recentemente que nem toda a receita da Omep é proveniente dos convênios com a prefeitura e que tudo será esclarecida, sendo a prisão dela “descabida”.

Já os advogados de Kelly argumentam, no pedido de habeas corpus, que ela está disponível para prestar esclarecimentos, assim como fez um dia depois da prisão, quando prestou depoimento na sede do Gaeco. A reportagem não conseguiu contato para tratar direto sobre o assunto das contratações.

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