Fundadora da Omep quer intervenção e diz que entidade é empresa familiar
Professora Ângela Costa trouxe organização a Campo Grande em uma época em que "ninguém sabia aqui e no Brasil" como trabalhar com crianças na pré-escola
“Foi desvirtuado totalmente o seu sentido e sua missão”, afirma a professora Ângela Costa, fundadora da Omep-MS (Organização Mundial para Educação Pré-Escolar de Mato Grosso do Sul) sobre os escândalos envolvendo a entidade, alvo de operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Para ela, é necessária agora uma “auditoria muito séria” na diretoria da instituição. “Virou uma empresa familiar. Sou a favor de uma intervenção, pois está totalmente descaracterizada. Tem de ser destituída toda essa diretoria. Estão crucificando essa Cida (Maria Aparecida Salmaze), mas toda a diretoria deve ser responsabilizada, ou participaram ou foram omissos. Não podem crucificar uma só pessoa”, analisa Ângela Costa.
Maria Aparecida Salmaze, a Cida, é a atual presidente da Omep em Campo Grande e foi presa no dia 13 de dezembro, durante operação Urutau, pela força-tarefa comandada pelo Gaeco , que apura crimes de improbidade administrativa, peculato (desvio de dinheiro público), associação criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Ela já está em liberdade.
Carioca, Ângela mora em Campo Grande desde 1970, onde, após se formar em Pedagogia, fundou uma escola que se tornou a primeira sede da Omep sul-mato-grossense. O interesse em trazer a organização surgiu após participar do 1º Congresso Nacional Brasileiro, no Rio de Janeiro, em 1976.
“Eu trouxe a Omep em 76. Não se sabia o que fazer com a pré-escola, aqui nem no Brasil, como trabalhar com crianças dessa faixa etária. No congresso, encontrei diversos professores de todo país. Conheci como funciona o sistema da Omep, uma organização presente em todo o mundo e decidi trazer para Campo Grande”, explica Ângela.
Segundo a professora, por ainda não ser uma Capital, não foi possível fundar uma filial aqui. A alternativa foi criar a Associação Campo Grandense de Educação Pré-escolar, ligada diretamente ao Comitê Nacional Brasileiro da Omep.
Em 79, com a divisão do Estado, Campo Grande torna-se a Capital de Mato Grosso do Sul, e com isso surge a Omep/Brasil-MS. Com Ângela Costa na presidência, a intenção era de que os interessados em ajudar a instituição trabalhassem voluntariamente, sem receber nenhum salário por isso.
“Nunca recebi um centavo enquanto fui presidente. O trabalho da Omep em todo o mundo é baseado em voluntários. Tivemos cursos para pessoas que atendiam creches, encontros estaduais e a criação das creches domiciliares no bairro Tiradentes, onde foi doado o terreno e está lá até hoje”, declara Ângela, orgulhosa.
O panorama começou a mudar após alguns anos, até que a fundadora da organização na Capital decidiu deixar a presidência em 1984. “Entreguei a Omep a minha vice-presidente, Marisa Serrano, - atual conselheira do Tribunal de Contas e ex-senadora - ao ver que apenas eu e minha irmã, continuávamos a servir a instituição voluntariamente, lotada de ex-diretoras cedidas pela nova gestão de Juvêncio” - Juvêncio César da Fonseca, prefeito entre 1993/1996.
“A situação começou a piorar com a assinatura do convênio na gestão de Cecília da Motta [então secretária municipal de Educação], com o André Puccinelli [prefeito] em 1997”, complementa Ângela.
Segundo a fundadora, Campo Grande virou vergonha nacional nesse quesito. "Esse é um caso isolado aqui, não existe nada igual no Brasil inteiro”.
Funcionários – Na tarde de sexta-feira (16), a Prefeitura de Campo Grande publicou no Diário Oficial do Município o anúncio do rompimento imediato dos convênios com a Omep e com a Seleta, entidades que terceirizavam mão de obra e serviços para a administração municipal, mas que se afundaram em denúncias relacionadas à contratação de “fantasmas” e desvios de dinheiros dos cofres municipais.
Por meio do comunicado oficial, o Executivo municipal também proíbe que os terceirizados tenham “acesso a toda e qualquer repartição pública, onde desempenhavam suas funções”.
A pedido do MPE (Ministério Público Estadual), o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, determinou na quinta-feira (15) o rompimento dos contratos.
A decisão foi tomada três dias depois da Operação Urutau que prendeu três pessoas. Também foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e sete de condução coercitiva.
Para substituir os 4 mil demitidos, o MPE recomendou que a prefeitura faça contratos temporários com trabalhadores que ocupem cargos em unidades que oferecem serviços essenciais. O prefeito eleito Marquinhos Trad (PSD) estuda a alternativa.
Desde segunda-feira tentamos contato com Maria Cecília da Motta, atual secretária estadual de Educação, mas ela não respondeu as nossas solicitações de entrevista.