Em protesto, mães cobram profissionais para atender autistas na rede municipal
Semed garante que tem profissionais especializados para o atendimento de todos os alunos com deficiência
Grupo foi até o Paço Municipal cobrar profissionais de educação especializados para acompanhar o aprendizado de filhos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) em escolas municipais de Campo Grande. O ato em frente à prefeitura da Capital tem 25 pessoas, entre mães, filhos e alguns pais, que seguram cartazes e reivindicam melhor estrutura.
A diretora do Grupo Amar (Grupo de Apoio aos Pais e Familiares de Autistas), Michele Cruz, de 29 anos, afirma que centenas de crianças não frequentam a sala de aula na Capital, pela falta de acompanhamento especializado. “São pessoas que não sabem tratar do autismo e que muitas vezes nem sabem o que é o autismo. Hoje, a gente não tem esse profissional especializado dentro da sala de aula.”
Isso vem ocorrendo desde 2019, com a retirada das Apaes, cujas professoras eram especializadas e tinham conhecimento na análise do comportamento. Desde que foram retiradas, a gente vem com a educação especial declinando cada vez mais”, afirma Michele, mãe do Thiago, de 7 anos.
Manifestantes seguram cartazes intitulados: “profissional capacitado é lei e não um favor” ou "prefeita, as mães querem saber porque não está havendo inclusão”.
“Na pandemia já teve essa dificuldade e não tem preparação nenhuma, não são qualificados para cuidar de um autista e muitos falam que nem sabe o que é autismo. Nosso filho é capaz de aprender o que quiser, porém da forma correta. Precisa de profissionais qualificados.”
O analista de sistemas Rodrigo Matos, de 33 anos, é pai do Matheus, 4 anos, que estuda em uma Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) no Jardim Tijuca. Segundo ele, desde que as aulas retornaram, em julho, não há profissionais especializados
“Os auxiliares que ficavam com eles, ajudavam a pegar no lápis, a se enturmar mais. Se não tem especialista, ele fica quieto, sem interagir. A professora que está na sala dá atenção para todos e não tem tempo de ficar dando atenção só para ele, ele necessita dessa atenção especial.”
O pai descreve que, quando a esposa foi buscar o filho recentemente, uma monitora descuidou por poucos segundos e ele se perdeu dentro da unidade escolar. “Tinham perdido ele, porque a pessoa que o acompanhava foi levar uma menina ao banheiro. Quando voltou, ele não estava mais lá.”
Dona de casa, de 45 anos, é avó de menino de 5 anos. “Ele está sem assistência desde que começou o segundo semestre e todo dia vem uma ocorrência dele, de que ele fez alguma coisa. Ele já não sente vontade mais de ir para a escola, ele fica jogado.”
A professora Regina Zerial, de 43, é mãe do Arthur, de cinco anos, que estuda em colégio na Vila Planalto. Segundo ela, a falta de profissionais especializados fez com que ela não levasse o filho para a escola, inicialmente. Somente nesta semana que ela o levou novamente, “de coração apertado”.
“A professora da sala não tem como dar um suporte para ele. O que a gente está exigindo é um profissional qualificado para nosso filho.”
Poder público - Segundo a Semed (Secretaria Municipal de Educação), todos os alunos com deficiência estão assistidos e têm o devido acompanhamento. “Todas as unidades escolares estão preparadas para receber os alunos com algum tipo de deficiência. A Semed esclarece que os alunos têm o devido acompanhamento.”
A Reme (Rede Municipal de Ensino) tem cerca de 3,2 mil alunos com deficiência, sendo mais de 1,4 mil autistas matriculados. A pasta afirma que “todos recebem o atendimento educacional adequado, com ensino, atividades e acompanhamento integral”.
Um processo seletivo estará aberto entre os dias 1º e 30 de setembro para contratação temporária de 77 pessoas ao cargo de assistente educacional inclusivo. É exigido Ensino Médio completo, com formação específica para atender alunos com deficiência.
“Atualmente a Reme tem mais de 1,1 mil profissionais de apoio e o processo seletivo atual é apenas para suprir profissionais que tenham solicitado afastamento/desligamento”, diz nota encaminhada à reportagem.
A Semed ainda afirma que os alunos com deficiência estão “incluídos e distribuídos pelas unidades escolares, e em cada sala de aula onde existe um aluno com deficiência também há um profissional de apoio para auxiliá-lo na inclusão”.
Toda a Reme tem 69 salas de recursos multifuncionais para realizar atendimento educacional especializado e prepara mais oito novas, que estarão em funcionamento no segundo semestre de 2022. Em 2022, a pasta finalizou quatro processos seletivos para profissionais de apoio atuarem na Reme.
A secretaria ressalta que o professor é o “responsável pelo pedagógico dos alunos” e que o profissional de apoio deve apoiar o aluno na realização das atividades e também acompanhá-lo para a adequada inclusão no dia a dia escolar. “É ele quem acompanha a realização de atividades e também ao banheiro ou auxilia na socialização, portanto esta função não cabe a um professor e sim a um profissional de apoio.”