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Capital

Em velório, irmã de morto por companheira contesta humilhações

Reginaldo Paes foi morto à facada pela companheira, que disse ter se cansado de sofrer durante casamento

Silvia Frias e Bruna Marques | 26/01/2022 12:14
Gelciane contesta declaração de cunhada sobre humilhações sofridas em casamento. (Foto: Henrique Kawaminami)
Gelciane contesta declaração de cunhada sobre humilhações sofridas em casamento. (Foto: Henrique Kawaminami)

O corpo de Reginaldo Amaral Paes, 39 anos, foi velado na casa da mãe essa manhã, no Jardim Noroeste. Ele foi morto a golpes de faca de serra pela companheira, diarista de 48 anos, que confessou o crime, alegando ter se cansado de sofrer humilhações. A família dele nega essa versão.

Reginaldo foi encontrado morto em casa, no Jardim Noroeste, na terça-feira (25). Quando a PM (Polícia Militar) chegou, a mulher negou autoria do crime, mas depois confessou, dizendo que tinha se cansado de sofrer humilhações ao longo de 10 anos de casamento.

Velório realizado na casa da mãe de Reginaldo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Velório realizado na casa da mãe de Reginaldo. (Foto: Henrique Kawaminami)

Hoje, durante audiência de custódia, a diarista preferiu não se pronunciar e que somente iria falar em juízo. O juiz Carlos Alberto Garcete concedeu a liberdade provisória, por não vislumbrar qualquer indício que a soltura possa atrapalhar o andamento das investigações. Ela terá de comparecer às audiências que serão marcadas no inquérito e futura fase processual.

“Estão colocando ele de espancador de mulher, mas nunca fez isso, todo mundo que conhece ele sabe que não é verdade”, disse a irmã dele, a dona de casa Gilceane Amaral Paz de Arruda, 30 anos.

A família preferiu fazer o velório em casa para poupar a mãe de Reginaldo, debilitada, de sair. O caixão foi colocado na sala da casa dela, no mesmo terreno onde o casal morava, aos fundos. Não foram permitidas imagens do local do velório, mas a reportagem teve acesso ao imóvel onde Reginaldo morava com a mulher.

Pelo imóvel, garrafas de vodka e latas de cerveja. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pelo imóvel, garrafas de vodka e latas de cerveja. (Foto: Henrique Kawaminami)

No imóvel de três peças, formado por quarto, cozinha e banheiro, há várias latas de cerveja e garrafas de vodka pelos cômodos, ainda revirado desde o assassinato e com pequenos rastros de sangue pelo chão, perto da cama.

Foi ali que Marilene, mãe de Reginaldo, o encontrou agonizando, segundo relato de Gilceane ao Campo Grande News. O homem estava deitado, agonizando no colo da mulher, que passava pomada no peito dele e dizia: “Não fui eu, não fui eu”. Reginaldo Paes foi esfaqueado no peito, com faca de serra.

A família de Reginaldo diz que o relacionamento era conturbado por conta da diarista, que se transformava quando bebia. “Sã, era uma pessoa, mas bêbada, era agressiva, barraqueira, partia para cima dele”, lembrando-se de uma briga ocorrida em 2015, em que ela teria rasgado a camisa que ele vestia.

A dona de casa disse que até facada teria sido desferida pela diarista e que ela teria passagem policial. A informação da assessoria da Polícia Civil é que nenhum dos dois tinha qualquer antecedente policial.

No chão, ao pé da cama, pequenas marcas de sangue. (Foto: Henrique Kawaminami)
No chão, ao pé da cama, pequenas marcas de sangue. (Foto: Henrique Kawaminami)

A morte - Gilceane disse que o irmão era capataz de fazenda, em Sidrolândia, mas que se mudou para Campo Grande em novembro. Foi trabalhar como auxiliar de carga e descarga em uma marmoaria e passou a morar no imóvel nos fundos da casa da mãe.

A dona de casa disse que o irmão recebia o salário de R$ 1,2 mil dividido por quinzena. No sábado, segundo relato dela, a diarista chegou em casa exigindo os R$ 600 da parcela, mas ele se recusou. Ela saiu e, quando voltou, teria se aproveitado que ele estava dormindo para pegar o dinheiro. Voltou somente no domingo.

O irmão relatou que a mulher havia deixado carta dizendo que iria embora para Bonito, mas a irmã diz que não viu esse papel.

Na segunda-feira (24), a diarista apareceu no trabalho dele e ficou aguardando até a hora do almoço para que voltassem juntos para casa. Depois, ele retornou ao trabalho e, no fim da tarde, ela já estaria embriagada. Os dois ainda foram para conveniência próxima para beber mais.

Segundo relato da irmã, os pais de Reginaldo ouviram os gritos do filho durante a madrugada de terça-feira (25), por volta da 1h.

A mãe foi até o imóvel e encontrou o filho no colo da mulher. Segundo Gelciane, ele acusou a mulher do esfaqueamento. “Aí, ele apagou”. Reginaldo morreu ontem, na Santa Casa, depois de ter sido levado em estado grave e intubado.

“Ela jurou de pé junto que não foi ela”, disse Gelciane. Naquele momento, a diarista contou que o companheiro chegou à rua já ferido, deixado por um motociclista, e que ela tentava ajudá-lo. A arma do crime, a faca de serra, foi encontrada pelos policiais debaixo da estante da TV.

Reginaldo morreu aos 39 anos, completados no dia 3 de janeiro. Ele tinha irmão gêmeo, além de outros três irmãos e duas irmãs. Ele e a diarista não tinham filhos.

Gelciane disse que não sabe muito da vida da cunhada. Somente que a mãe morreu há muito tempo. Se ressente dos comentários que viu nas redes sociais, de que o irmão mereceu morrer. “Li um que falou que ‘esse diabo tem de morrer', como assim? Eles não se colocam na dor da família”.

O velório começou na noite de ontem e terminou hoje, por volta das 10h, com sepultamento no Cemitério da Paz. O caso foi registrado como homicídio simples. A reportagem não conseguiu contato com a defesa da diarista.

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