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Capital

Enquanto projetos fracassam, Orla ferroviária é cenário de insegurança

Vagões estão abandonados e viram abrigo para dependentes químicos. Furtos e prejuízo aos comércios são reclamações de moradores.

Anahi Gurgel, Izabela Sanches e Bruna Kaspary | 05/09/2018 06:55
Comerciantes da região da Orla Ferroviária optam por gradear o estabelecimento, temendo ação de bandidos. ( Foto: Marina Pacheco).
Comerciantes da região da Orla Ferroviária optam por gradear o estabelecimento, temendo ação de bandidos. ( Foto: Marina Pacheco).

À espera da retirada pela Prefeitura, os vagões da orla ferroviária, próximo à Praça Aquidauana, tornaram-se abrigos de usuários de drogas e moradores de rua. Moradores e comerciantes da região reclamam do abandono da estrutura e relatam furtos e prejuízos com o aumento da presença dos usuários.

Cabeleireiro, Hermes Souza, 48 anos, tem um salão em frente à um vagão que foi incendiado na manhã desta terça-feira (4). Ele afirma que o movimento do salão diminuiu.

“É muito inseguro, muitas vezes tenho que trabalhar com o portão fechado, porque os moradores de rua incomodam muito. Tem uns até que a gente já conhece, mas a maioria é difícil porque os clientes se sentem inseguros. O fluxo diminuiu por conta da presença dos moradores de rua”.

“Eu mesmo lacrava esse vagãozinho”, afirma, sobre um vagão na lateral do salão. Hermes afirma que não abre a janela dos fundos, em razão do mau cheiro. “É inseguro porque de vez em quando aparece uns com faca”, declara.

Proprietário de um estacionamento, Madson Vilela de Moura, 53 anos, comenta que os clientes reclamam da região. “Agora está vazio, mas tem horário que está lotado de usuários de drogas. Enquanto não tirar esses vagões daqui não vai adiantar. Nunca tive problema com os usuários, mas eles incomodam os clientes e quem passa lá. Tem muita gente que deixa de usar a orla por causa dos usuários”, comenta.

Vidraça deteriorada, em comércio próximo à Orla Ferroviária. Projeto estuda revitalização. (Foto: Marina Pacheco)
Vidraça deteriorada, em comércio próximo à Orla Ferroviária. Projeto estuda revitalização. (Foto: Marina Pacheco)

O comerciante Geraldo Cruz, 53, declara que já foi roubado cerca de oito vezes. “Entram sempre pelo telhado”, explica. Geraldo explica que tem um bar e deixou de vender cigarros, porque a mercadoria atraía os dependentes químicos. “Porque é muito fácil de revender, eles entram a todo custo”. O testemunho do comerciante se repete entre vizinhos e revela uma situação que virou rotina, enquanto projetos para ocupação da região fracassam seguidamente.

À espera de uma iniciativa que dê resultado, de fato, a região é notícia volta e meia, mas pela insegurança. No cruzamento entre a Rua Barão do Rio Branco e a Calógeras um bar foi furtado nesta terça-feira. Proprietário do local há 23 anos, o comerciante João Roberto Rodrigues, 60 declara já ter sido assaltado cerca de cinco vezes por usuários de drogas. Dessa vez, levaram 15 fardos de refrigerante, doces e todos os biscoitos que tinham no caixa.

“São tão drogados que tinha rádio, celular, espremedor de frutas, mas não levaram nada, só as comidas e refrigerantes”, contou. “Nesses vagões é cheio de usuários de drogas durante a noite. Passar aqui de noite tem que ser com dois seguranças, se não você é assaltado”, declarou.

E agora? A revitalização da Orla Ferroviária de Campo Grande foi entregue no dia 22 de dezembro de 2012, na gestão de Nelsinho Trad (PMDB). O objetivo era oferecer à população e turistas um espaço de lazer, ponto de encontro, gastronomia e resgate histórico.

A reforma do local, que ocupa o antigo espaço da linha férrea da Capital, tinha como meta se transformar em um corredor cultural, integrando ainda o Horto Florestal, Mercadão Municipal, Camelódromo e Orla Morena.

A obra, entre as avenidas Mato Grosso e Afonso Pena, recebeu investimento de R$ 4,8 milhões, financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Foram feitas obras de infraestrutura como sistema de drenagem e redes de água e esgoto, ciclovia e iluminação.

Lenilde Ramos, gerente de patrimônio cultural da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) informou que uma nova revitalização da Orla Morena está prevista pela Prefeitura.

“Os vagões que estão lá estão sob responsabilidade da Sectur e Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana).

“O projeto ainda está em fase inicial e vai integrar o Reviva Campo Grande, que vai além da Rua 14 de Julho. Com esse resgate da estrutura do centro da Capital, que inclui até construção de apartamentos populares, espera-se que haja mais movimentação de pessoas, atraindo mais comerciantes, aumentando a circulação de pessoas e melhorando a qualidade da segurança”, diz.

Lenilde ressalta que com a revitalização das ruas transversais à 14 de Julho vai acabar com o “beco” que existe hoje entre a Afonso Pena e Mato Grosso, ampliando canais de acesso à região.

 

Registro da Orla Ferroviária, feito na época da entrega da revitalização, em 2012. Com o tempo, lugar foi "morrendo". (Foto: Arquivo/ Rodrigo Pazinato)
Registro da Orla Ferroviária, feito na época da entrega da revitalização, em 2012. Com o tempo, lugar foi "morrendo". (Foto: Arquivo/ Rodrigo Pazinato)
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