Enraizados em MS, gaúchos lembram revolução à moda tradicional
Às oito da manhã desta quarta-feira (20), o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) Tropeiros da Querência, no bairro Vilas Boas, em Campo Grande, reuniu seus associados para hastear bandeiras e tomar um café da manhã com chimarrão e bolo frito, espécie de bolinho de chuva. O encontro em plena terça-feira tem motivo especial: hoje se comemora o Dia do Gaúcho.
E a festa está garantida para os mais de 3 mil associados aos 12 CTGs ativos do estado desde o último dia 13, quando se iniciaram as comemorações da Semana Farroupilha.
No outro CTG de Campo Grande, o Farroupilha, a data foi marcada com solenidade no domingo (18), com homenagens aos pioneiros do centro – que tem 54 anos de história e é o primeiro a ser fundado fora do Rio Grande do Sul – leitão no rolete e mais de 700 apaixonados pela cultura gaúcha.
“Fazemos isso para relembrar nossa história, nossos heróis farrapos as causas da revolução”, resume Aline Kraemer, 36 anos, jornalista que frequenta o Tropeiros da Querência desde que ele começou a funcionar, há 26 anos. A saber, a Revolução é a Farroupilha, revolta gaúcha contra o império brasileiro pela independência, que teve início há 181 anos. “Foi uma das batalhas mais sangrentas e longas da história do país, durou dez anos, temos que lembrar”, ressalta.
A história, aliás, está na ponta da língua dessa colônia sulista cuja história se confunde com a do próprio Mato Grosso do Sul. “Os historiadores como Hildebrando Campestrini reforçam que os gaúchos foram fundamentais para a divisão do Mato Grosso atual”, conta Aline.
Eles chegaram primeiro no início do século XX, procurando trabalho. “Ficaram sabendo que no então Mato Grosso haviam campos gigantescos desocupados e férteis e, por conta da situação econômica, vieram buscar trabalho aqui”, continua Aline, cujo pai, João Ermelino de Mello é o primeiro presidente da CBTG (Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha) que não está na terra dos pampas.
Foi nessa onda que chegou também a família de Sirlei Golin Brustolin, 62 anos, Patroa do CTG Farroupilha. “Tínhamos terras no sul, que cultivamos até hoje, e com o falecimento do meu pai arrendamos e viemos com minha mãe, eu e mais cinco irmãos”, relembra Sirlei, que é uma das poucas “Patroas”, cargo mais alto dos CTGs, no Brasil.
Sirlei tem carinho especial pelo Estado. “Aqui conheci meu marido, que também é gaúcho, e tive duas 'matuchas', como chamamos a mistura do sul-mato-grossense com o gaúcho. Meu coração é daqui, e minha raiz está lá”, resume Sirlei.
Para seguir divulgando e homenageando os costumes gaúchos, o Farroupilha planeja ainda para o mês de outubro a kerbfest, festa nos moldes da oktoberfest que ocorrerá nos dias 7,8 e 9 e termina com almoço tipicamente alemão, e atividades educativas para as crianças, além dos almoços mensais, que acontecem nos dois CTGs da cidade.
“Queremos manter vivos tanto os costumes quanto os valores da revolução farroupilha, liberdade, igualdade e fraternidade. Somos todos uma grande família e mantemos bem acesa a chama da tradição gaúcha no Estado”, completa Sirlei.
Falando em chama, é ela quem vai encerrar as comemorações do dia do Gaúcho. À meia-noite, no Centro Tropeiros da Querência, se apagará a Chama Crioula, acesa anualmente desde 1947 para relembrar o tradicionalismo nacional depois da Segunda Guerra Mundial. Tudo depois de um belo churrasco, como manda a tradição gaúcha, é claro.