Erro da polícia “pune” agressor errado e deixa vitima à mercê de filho violento
"Apesar do nome parecido, a mãe é outra, o endereço também", diz mãe de jovem notificado por engano
Erro ao registrar a identificação de autor de crime em boletim de ocorrência desencadeou uma sequência de atos com informações equivocadas que, como resultado final, tem jovem acusado equivocadamente e mãe à mercê do agressor.
A confusão começa nos primeiros minutos do dia 10 de março, quando mulher de 58 anos fez denúncia na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), em Campo Grande, contra o filho de 26 anos por violação de domicílio (violência doméstica). A empregada doméstica contou que mora no Jardim Itatiaia e “não tem sossego” com o filho dependente químico, que foi detido pela PM (Polícia Militar) na noite de 9 de março.
Porém, ao invés de trazer o nome do seu filho como autor, o documento cita os dados pessoais de um homônimo, com a diferença de um sobrenome. O erro ganha dimensões maiores porque a pessoa citada como agressor tem outra mãe, RG e endereço diferentes.
"Apesar do nome parecido, até o nome da mãe que consta no documento é outro, o meu. Parece que recortaram e colaram uma informação do sistema, sem qualquer cuidado em checar dados básicos. É um desleixo que pode prejudicar e muito meu filho", diz a mãe do jovem notificado erroneamente. Ela é médica e tem 54 anos.
A falha passou despercebida e documentação com autor errado chegou à 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Apenas um documento de avaliação de risco, escrito à mão, traz nome e idade corretos do autor.
Ainda na tarde de 10 de março, a Justiça concedeu medida protetiva para a mãe, determinando que o agressor “errado” se afaste da residência no Jardim Itatiaia e mantenha distância mínima de 300 metros da vítima.
Porém, devido ao equívoco no boletim de ocorrência, o oficial de justiça acabou batendo à porta de jovem de 22 anos, morador na Vila Bandeirantes, e que nunca foi denunciado por agressão contra qualquer pessoa. O documento informando sobre as medidas protetivas foi levado no último sábado (dia 25).
O jovem assinou a papelada para não desobedecer a lei e só depois conseguiu acessar o processo. Aí, vieram a surpresa e muita preocupação diante de tamanho erro.
"A revolta aumenta porque pensamos em gente que não entenderia aquele documento e nunca tomaria providências. Isso deve ocorrer com frequência. Por isso vemos pessoas presas por aí no lugar de outras pessoas. Acabam com a vida de alguém porque não ligam, não tem cuidado com documentos tão sérios", protesta a mãe.
A situação revoltou toda a família. O avô se preocupa, inclusive, com a real vítima da agressão. "Ela deve estar tranquila, pensando que o filho foi notificado e que tem de respeitar uma medida protetiva. Mas ele não foi. Quem assinou foi meu neto, um menino tranquilo, que mora a quilômetros da casa dessa outra mulher e que nunca nem ouviu falar dela. Enquanto isso, o filho verdadeiro pode voltar a invadir a casa da mãe a qualquer momento".
A mãe do rapaz notificado por engano reforça como pode uma falha que parece simples pode provocar danos irreversíveis. "Sei que algumas mulheres recebem um 'botão do pânico' para acionarem caso o agressor se aproxime. Mas essa mãe corre o risco de ser morta, porque se acionar o botão, a polícia vai bater lá na minha casa".
Violência doméstica – No boletim de ocorrência, a empregada doméstica de 58 anos relata que o filho é usuário de drogas, que pula o muro do imóvel para perturbá-la e que “já não tem sossego quando ele está em casa”. Segundo ela, o jovem furta objetos do interior do imóvel.
Durante o trajeto para a delegacia, ele ainda a ameaçou e disse que a mãe terá que levar pasta base ao presídio quando estivesse preso. O autor foi levado para a Deam algemado, diante das tentativas de intimidar a vítima em estado exaltado. A mãe contou que eles residem no mesmo endereço, mas o filho passava mais tempo na rua.
A Polícia Civil informou que "assim que foi detectado o problema, todas as medidas para a retificação das peças produzidas já foram tomadas". O Campo Grande News não conseguiu contato com a vítima de violência doméstica.