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Capital

Escutas indicam manobra para evitar repasse de equipamentos contra câncer a MS

Ângela Kempfer | 01/07/2013 13:35

Mato Grosso do Sul poderia estar com novos aceleradores lineares para tratamento de pacientes com câncer, mas interceptações telefônicas feitas durante a Operação Sangue Frio levantam suspeita sobre o real interesse de gestores na saúde em equipar a rede pública contra a doença no Estado.

Conversas gravadas pela Polícia Federal reforçam a tese de que havia um esquema para beneficiar a rede particular, especificamente, o grupo do médico Adalberto Siufi, ex-diretor do Hospital do Câncer – única instituição com o acelerador em funcionamento pelo SUS.

Interceptações divulgadas hoje pela TV Morena mostram a secretária estadual de Saúde, Beatriz Dobashi, e o diretor do Hospital Regional (HR), Ronaldo Queiroz, planejando como tratariam o assunto depois que o Ministério da Saúde solicitou informações sobre o interesse do Estado nos aceleradores.

Na ligação, a secretária detalha todo o processo, até a possível chegada do equipamento e comenta: “Então, acho que demora, né. Eu espero que demore”.

A conversa segue em outros momentos, com discussão sobre estratégias para convencer o Inca (Instituto Nacional do Câncer) a enviar os equipamentos apenas para o HR e para o Hospital do Câncer.

A secretária defende como argumento o fato da Santa Casa ter terceirizado o atendimento em contrato com a Neorad, da família Siufi, e de que o Hospital Universitário (HU), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, considerava que o setor de oncologia já funcionava bem no HR.

Antes do encontro com responsáveis pelo Inca, Ronaldo Queiroz combinou o que seria dito em conversa com o então diretor do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa, afastado depois da Operação Sangue Frio.

Ronaldo fala sobre a dificuldade de conseguir que o Hospital do Câncer fosse beneficiado e conta que o primeiro pedido da secretária de Saúde era para que o projeto de expansão do Ministério atingisse “Dourados, Corumbá, HU para substituir essa velha (aparelho antigo), barra Regional, e o Câncer (HC)”.

O diretor do HR segue com a orientação que ouviu de Beatriz Dobashi: “vamos assumir, dizer que nós queremos no Regional. É o projeto pra 2015. Que ainda vai demorar muito. E o HU abre mão também, fala não quero.”

De Dorsa, a reação é de total desinteresse: “É melhor não ter esse troço, né?

A secretária deixa claro que há uma relação próxima com Adalberto. “Eu estou esperando a sua posição, porque o Adalberto me ligou e perguntou se vale a pena mexer o doce”.

Ronaldo então detalha como foi a conversa com Inez Gadelha, da Secretaria Nacional de Atenção à Saúde, durante reunião sobre o assunto. “Chamei ela no cantinho e falei: olha, tá aqui esse histórico, foi assim e assim. O resumo da ópera: está aqui o que a Bia colocou na situação de Campo Grande. Diante disso, o que a Bia perguntou: não seria mais inteligente fazer, possível contemplar o Câncer?”

Mas a reação foi a pior possível, ressalta Ronaldo. “De jeito nenhum, onde é que já se viu? Conheço esse cara faz muito tempo. Para lá não vai sair. Ela não se mostrou nem um pouco acessível no sentido de liberar uma máquina para o Câncer. Eu falei exatamente o que você me pediu. Mas a reação não foi boa. E o problema do nosso amigo do Câncer passa a ser político”, relata Ronaldo sobre o resultado da conversa.

Para dar uma satisfação a Adalberto Siufi, Dobashi telefona novamente e o orienta a procurar outro caminho. “O que ficou combinado lá, dito pelo Inca, foi que vem equipamento para Corumbá, para Dourados e para o Regional. Realmente a Inez Gadelha falou que não está previsto no Hospital do Câncer. Se você quiser falar com seu amigo, acho que não tem nenhum problema. “

Adalberto pergunta então se pode deixar claro que tem o aval da secretária, que se prontifica a ajudar. “Não tem problema. Isso, inclusive o Ronaldo levou por escrito um resumo que eu fiz”.

O Campo Grande News solicitou entrevista com a secretária Beatriz Dobashi, mas a assessoria não deu retorno.

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