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Capital

Este ano a cidade conheceu Nando, o maior serial killer do Estado

Assassino confesso de 17 pessoas se sentia o "justiceiro" do bairro Danúbio Azul

Luana Rodrigues | 28/12/2016 08:31
Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, é apontado pela polícia como autor da morte de 17 pessoas. (Foto: Marcos Ermínio)
Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, é apontado pela polícia como autor da morte de 17 pessoas. (Foto: Marcos Ermínio)

O homem que você vê na foto acima era um jardineiro adorado pelos vizinhos. De novembro para cá, também é considerado o principal serial killer já descoberto pela polícia em Mato Grosso do Sul.

Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, 49 anos, era morador conhecido Danúbio Azul, região norte de Campo Grande. Pessoa simples, de conversa fácil e boa vontade. Companheiro de todas as horas, de dar carona à grávida ao hospital, até para buscar compras no mercado para os idosos, segundo vizinhos.

Isso até o dia 10 de novembro de 2016, quando a polícia descobriu que ele era uma espécie de “justiceiro” no bairro. Para Nando, quem colocava em risco à “segurança” da comunidade deveria ser punido com a morte.

Nando diz que tem medo de sangue, depois que a mãe foi morta pelo padastro, quando ele tinha 11 anos. (Foto: Marcos Ermínio/ Arquivo )
Nando diz que tem medo de sangue, depois que a mãe foi morta pelo padastro, quando ele tinha 11 anos. (Foto: Marcos Ermínio/ Arquivo )

Infância traumática – Pouco se conhece sobre o que se passou com Nando em seus primeiros anos de vida. O que se sabe é o que ele conta.

Em entrevista ao Campo Grande News, em dezembro deste ano, Nando disse que quando tinha 11 anos, sua mãe, Izaura Barbosa Martins, foi assassinada a facadas pelo padrasto, na frente dele.
Por conta do trauma, ele afirma que desde então tem “medo de sangue".

Além da infância traumática, o serial killer também tem em seu histórico um caso de violência sexual.

Primeiro crime - O mês era dezembro. Nando tinha 29 anos, morava na Vila Almeida, em Campo Grande. Naquela época, o bairro era próximo de uma área de sítios. Não se sabe o dia certo, ele encontrou com um garoto, que na época tinha apenas 13 anos, em uma estrada.

Nando teria perguntado ao garoto se sabia de um local onde se vendia porco por ali. O menino disse que sabia e Nando, que estava de moto, pediu que ele o levasse até lá. Como já conhecia o homem de vista, o garoto topou ajudar.

Além da infância traumática, o serial killer também tem em seu histórico um caso de violência sexual. (Foto: Marcos Ermínio/ Arquivo)
Além da infância traumática, o serial killer também tem em seu histórico um caso de violência sexual. (Foto: Marcos Ermínio/ Arquivo)

No entanto, Nando não foi para o caminho indicado pelo menino. Levou a vítima para a casa dele. Lá, agarrou o garoto a força e, com uma faca, disse para ele abaixar as calças e o estuprou.

Somente em 2011, Nando foi a julgamento pelo crime. Acabou condenado a seis anos de prisão, mas entrou com recurso dizendo que não havia provas. O pedido foi negado e em fevereiro daquele ano, o estuprador acabou preso.

Não se sabe em que circunstâncias, nem quando, mas Nando perdeu a capacidade sexual antes de 1996. Quando foi preso pelo estupro, ele disse que era homossexual, mas não havia mantido relações com o menino, porque só tinha relacionamento com adultos.

Outra justificativa do acusado era justamente a de que ele tinha um problema no canal da urina e no pênis, inclusive usava sonda, e por esse motivo teria "dificuldade" de cometer o crime.

Descoberta das mortes - Apesar do passado sombrio, os crimes contra a vida de Nando só foram descobertos quatro anos após a primeira vítima sumir.

Conforme a polícia, as investigações começaram em setembro deste ano, após a morte de Leandro Aparecido Nunes Ferreira, o 'Leleco'.

O rapaz foi morto por um jovem que o acusava de sumir com o seu irmão. Esse garoto em questão foi encontrado morto dias depois.

Por causa desta situação, a polícia descobriu que, além do menino, mais de dez pessoas, todas moradoras do Danúbio Azul, estavam desaparecidas. O primeiro caso havia ocorrido em 2012.

Nando foi preso, 10 de novembro. (Foto: Marcos Ermínio)
Nando foi preso, 10 de novembro. (Foto: Marcos Ermínio)

Durante as investigações, foi detectado que essas vítimas faziam parte do esquema que agia na região, sob o comando de Nando.

O bando aliciava adolescentes e jovens dependentes químicos para vender droga e se prostituir a troco de pasta base de cocaína. As vítimas desapareciam quando se desentendiam com algum integrante. 

No dia em que Nando foi preso, 10 de novembro, os investigadores encontraram na casa dele um revólver calibre, 38 com seis munições, uma caminhonete e ferramentas como pá, enxada e facão. Objetos que, segundo a polícia, foram fundamentais para a investigação.

Sexo e orgias – As vítimas eram atraídas para a emboscada que resultaria em sua morte com a promessa que iriam praticar sexo ou usar drogas.

Elas estavam acostumadas a usar drogas na companhia de membros do grupo de extermínio de Nando, ou participar de orgias no Jardim Veraneio, local que se tornaria sua cova.

Os primeiros registros de desaparecimento começaram em 2012 e Nando chegava a receber o “convite” dos outros membros do grupo de extermínio para “matar vagabundo”.

Polícia fez dezenas de escavações para localizar corpos de vítimas. (Foto: Arquivo)
Polícia fez dezenas de escavações para localizar corpos de vítimas. (Foto: Arquivo)

Cemitério do Nando – Durante pouco mais de um mês, a polícia fez mais de 10 seções de escavação numa área do jardim Veraneio, onde ‘Nando’ enterrava suas vítimas.

Com máquinas retroescavadeiras e até um equipamento que mede a condutividade dos solos, a polícia vasculhou a região.

No local, a polícia localizou dez ossadas. Quatro vítimas já tinha tido os corpos encontrados, mas outras três ainda não foram localizadas e segundo o serial killer, nunca serão, pois foram enterradas em “um lugar muito difícil”.

Os ossos encontrados estão no Imol (Instituto Médico Odontológico Legal), onde passarão por exames que confirmem as identificações.

Dez ossadas foram encontradas. (Foto: Divulgação/ Polícia Civil)
Dez ossadas foram encontradas. (Foto: Divulgação/ Polícia Civil)

Confissão e razões – Depois de preso, Nando acabou confessando todos os crimes pelos quais é acusado. Junto com a confissão vieram as justificativas às quais o serial killer imputava as mortes.

Morador do Danúbio Azul há 20 anos, ele acreditava que tinha o dever de proteger seu bairro. Em depoimento a polícia, disse várias vezes que todos os que foram mortos praticavam crimes na região, como pequenos furtos.

Segundo o serial killer, alguns até eram avisados para que deixassem de praticar os crimes, mas não conseguiam, pois furtavam para sustentar seu vício em drogas.

Em entrevista ao Campo Grande News, Nando disse que culpa pelas mortes, era das mães das vítimas. “Hoje a maior culpa dos filhos estarem mortos é das mães, que deixava roubar, sabia que o filho tava roubando a casa dos outros, noiado para cima e para baixo e não fazia nada”, conta.

Nando continua preso, e aguarda julgamento. (Foto: Marcos Ermínio)
Nando continua preso, e aguarda julgamento. (Foto: Marcos Ermínio)

Castigo – Até agora, desde que foi preso, em nenhum momento o criminoso cita arrependimento, Mas, em entrevista, falou em Deus.

“Tinha gente que falava no nome de Deus, aí eu fiquei com medo de cair preso. Quando nós enterrava alguém, eu olhava pro meu parceiro e ele falava: que só eu, você e Deus sabe. A mão de Deus pesa.”

Atualmente, o assassino confesso está preso, ainda sob custódia da Polícia Civil. As investigações continuam e a polícia acredita que pode localizar mais vítimas, mesmo que estas já estejam 'perdidas'.

Este ano a cidade conheceu Nando, o maior serial killer do Estado
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