Estudantes e autoridades traçam propostas para reduzir violência escolar
Cerca de 200 alunos do ensino médio da escola estadual Teotônio Vilela, em Campo Grande, participaram na manhã de hoje (21), na Assembleia Legislativa, de uma audiência pública que discutiu a violência nas escolas.
O tema reuniu autoridades e representantes de órgãos competentes na segurança escolar como a Polícia Militar (PM), o Bptran (Batalhão de Policiamento de Trânsito), o MPE (Ministério Público Estadual), entre outras entidades.
A intenção é traçar propostas que ajudem a minimizar os índices de violência. O proponente da ação, o deputado Cabo Almi (PT), sugeriu a criação de uma Companhia de Policiamento Escolar, que segundo ele, poderia diminuir os os casos de agressão entre estudantes.
Porém, para tornar viável a companhia, o efetivo e o número de viaturas da PM deveriam ser ampliados, segundo o deputado. “Outra medida seria dar aos agentes patrimoniais a função de auxiliar na segurança em torno das escolas”, frisou.
Já o policiamento permanente seria inviável na atual situação, conforme Cabo Almi. Mas ele defende a fiscalização nos horários de entrada e saída dos alunos. “Esse policiamento poderia ser feito nos horários de pico”.
A estudante Isabella Cristina Fernandes de Souza, 17 anos, conta que no ambiente escolar a opção foi discutir abertamente entre os alunos as causas para tanta intransigência, o que motiva os casos de violência.
“Ninguém quer entender a necessidade do outro. A gente percebe muita divergência de opiniões e muita intolerância. Discutimos essas situações porque é importante falar sobre isso”.
Há 16 anos trabalhando com o ensino, o professor da escola Teotônio Vilela Francisco Moura, 43 anos, diz que hoje é impossível se limitar a apenas ensinar o conteúdo.
“Temos que adotar uma nova metodologia, nova didática. É muito importante trabalhar a afetividade dos alunos. Só conteúdo não dá certo. Além disso, é de extrema importância ouvi-los (alunos)”.
Ao fim da audiência, um documento será elaborado e encaminhado aos órgãos competentes envolvidos na segurança escolar.
Depois de casos como a morte da estudante Luana Vieira Gregório, 15 anos, morta a facadas durante uma briga em frente a uma escola estadual de Campo Grande, no dia 11 de setembro, a intenção da audiência é, justamente, traçar propostas para solucionar o problema.
Mesmo abrangendo bairros com histórico de violência, a escola Teotônio Vilela se mantém livre de episódios negativos entre os alunos, segundo a diretora Nicolassa Marina Maldonado.
“Desde 2009, quando assumi, temos trabalhado amplamente o respeito entre os estudantes. Já percebemos a atitude diferenciada deles. Para vir hoje à Assembleia, fizemos o convite aos alunos e trabalhamos com eles o tema em sala de aula. Nada foi imposto e eles se interessaram. Mas eu disse que não basta criticar, é preciso levar uma proposta de melhoria”, frisou Nicolassa.
A escola está localizada no bairro Universitária 2, na Cohab, mas segundo a diretora, atende moradores dos bairros Campo Nobre, Dom Antonio, Moreninhas, Colibri, entre outros.
“Precisamos de medidas urgentes para reverter este quadro. Em 10 anos, de acordo com o Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), houve um retrocesso na educação. Temos que reconhecer que erramos. As crianças estão brincando de matar e de fazer filhos. Para isso, precisamos nos posicionar e a orientação é respeito”, explicou o promotor da Infância, Adolescência e Juventude, Sergio Harfouche.
Ele criticou ainda as divergências da sociedade e do modelo cultural existente oferecido atualmente. “Hoje o dono de uma rinha de galo vai para cadeia, mas aquele que coloca no octógono dois homens se batendo, tirando sangue um do outro, é bacana e é transmitido pela televisão, e todo mundo acha ótimo. A formação da pessoa humana passa pela ética”, disse.
Também presente na audiência, a Secretária Adjunta de Educação, Sheila Cristina Vandrami, afirmou que o trabalho tem sido constantemente focado na prevenção. “A violência vem sendo discutida com frequência, mas é claro que quando acontece algum fato como esse tudo vem à tona”.
O presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Roberto Botareli, afirmou que existem seis mil funcionários nas escolas estaduais, mas a defasagem é de quatro mil profissionais.
Membro do Fórum Municipal Da Juventude, Walques Vargas afirmou durante a audiência que os estudantes são mais vítimas do que culpados. “Segundo o mapa da violência de 2011 e 2012,os estudantes são vítimas da violência na maioria das vezes”.
Ele frisou ainda que a escola é para maioria um “lugar chato”. “Precisamos debater como transformar esse ambiente em algo atrativo para os jovens”.
O deputado Rinaldo Modesto (PSDB) reforçou o estudo integral e disse que reduzir a maioridade penal “é um engano”. "Não vai adiantar".