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Capital

Exames "milimétricos" vão definir destino de Maria Júlia e Luna Vitória

Gêmeas unidas pelo tórax e abdômen nasceram em Campo Grande e ainda não se sabe se será possível cirurgia de separação

Silvia Frias e Aline dos Santos | 08/01/2020 12:36
Gêmeas estão na UTI Neonatal da Santa Casa, entubadas, sedadas e sendo alimentadas por veia (Foto/Divulgação: Santa Casa)
Gêmeas estão na UTI Neonatal da Santa Casa, entubadas, sedadas e sendo alimentadas por veia (Foto/Divulgação: Santa Casa)

O caso das irmãs siamesas Maria Júlia e Luna Vitória é grave, delicado e exige investigação milimétrica, palavra citada diversas vezes pela equipe médica que expôs o quadro clínico das crianças nascidas dia 3 de janeiro, na Santa Casa de Campo Grande. Unidas pelo tórax e parte inferior do abdômen, as meninas estão internadas na UTI Neonatal, sedadas, entubadas, fazendo uso de antibiótico e sendo alimentadas pelas veias.

Preliminarmente, já se sabe que as meninas têm pulmões independentes e “indícios de dois corações”, mas é muito cedo para identificar a capacidade de funcionamento dos órgãos em caso de cirurgia de separação. Serão necessários exames e mais exames para definir se este procedimento será possível.

O quadro clínico das meninas foi divulgado em entrevista pelo neonatologista Walter Perez, chefe da UTI Neonatal; chefe da obstetrícia William Lemos e cirurgião torácico, Diogo Gomes.

A gravidade do caso é conhecida desde agosto, quando a mãe, Alice Aparecida da Silva, 25 anos, foi submetida ao primeiro ultrassom. Diogo Gomes explicou que havia plano de transferir a gestante para Hospital das Clínicas, em São Paulo, por conta da experiência de 20 casos de gêmeas xipófagas nos últimos 20 anos.

Porém, as meninas acabaram nascendo antes, com 35 semanas, o equivalente a oito meses, com 3,8 quilos. Os médicos não descartam colaboração dos colegas de São Paulo para definir os rumos de caso.

Os médicos William Lemos, Walter Perez e Diogo Gomes detalham o caso das irmãs (Foto: Henrique Kawaminami)
Os médicos William Lemos, Walter Perez e Diogo Gomes detalham o caso das irmãs (Foto: Henrique Kawaminami)

William Lemos diz que o maior desafio é avaliar a parte cardiorrespiratória. Já se sabe que as meninas tem pulmões separados, mas há dúvidas da capacidade de funcionamento dos órgãos. Elas estão na ventilação e o equipamento, que indica melhoria respiratória, é monitorado constantemente. “Se conseguissem maior autonomia, seria muito positivo, é sinal de melhora”.

Segundo Lemos, ainda há dúvidas se Maria Júlia e Luna Vitória compartilham fígado e intestino. Em relação ao coração, Diogo Gomes diz que há evidência de dois órgãos.

As meninas passam por diversos exames de imagem. Esta investigação é necessária para evitar surpresas em caso de separação, por ser comum se deparar com situação adversa durante a cirurgia.

“Os exames de imagem são sujeitos a interferências e interpretações; se você imaginar a extensão do intestino, milímetros fazem diferença. Muitas vezes, milímetros não são vistos em exames, mesmo que se repitam exaustivamente. Muitas conexões do nosso corpo são milimétricas ou são menores que milímetros”, disse. “É o caso mais desafiador que já lidei”, disse o médico.

A mãe recebe apoio psicológico e das assistentes sociais desde a descoberta. Os médicos dizem que o caso é grave, delicado e qualquer decisão no momento é prematura. As estatísticas evidenciam isso: segundo hospital, a maioria dos gêmeos xipofagos morre ainda no útero e em relação aos que nascem, a morte acontece ainda no primeiro mês de vida. A taxa de sobrevivência é de 18%.

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