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Capital

Fake news fala em câncer no cérebro e coloca clientes em guerra com termômetro

“É desesperador ver que existem pessoas disseminando esse tipo de informação”, afirma neurologista

Aline dos Santos e Raul Delvizio | 07/09/2020 12:02
O termômetro digital não emite radiação infravermelha e a onda do laser não tem comprimento para chegar ao cérebro. (Foto: Henrique Kawaminami)
O termômetro digital não emite radiação infravermelha e a onda do laser não tem comprimento para chegar ao cérebro. (Foto: Henrique Kawaminami)

Circulado como um vírus, de pessoa em pessoa, vídeo em redes sociais inventa perigos ao cérebro provocados pelo termômetro digital e, no mundo real, já tem muita gente pedindo para que o aparelho não seja direcionado para a testa, mas para o punho, o que compromete a exatidão da temperatura aferida.

As informações falsas afirmam que o dispositivo, que se popularizou na entrada de shoppings durante a pandemia do novo coronavírus, pode provocar distúrbios e câncer por atingir a glândula pineal. E como é comum nas fake news, quem grava o vídeo pede que ele seja compartilhado com familiares e amigos.

De acordo com o neurologista Gustavo Leopold Pereira, não há nada de real. “Primeiro, porque o aparelho não emite radiação infravermelha, somente capta o que o nosso corpo emite. O laser é usado somente para mirar o aparelho e, mesmo assim, não é de comprimento de onda capaz de penetrar o crânio”, explica o médico.

A questão é numérica. O comprimento da onda do laser é de 600 micrômetros e para chegar ao cérebro deveria ser acima de 800. Sem contar que a glândula pineal fica localizada na parte posterior da cabeça.

Já aferir a temperatura no pulso pode resultar em diferença três graus para menos. “É desesperador ver que existem pessoas disseminando esse tipo de informação. Não sei se querem espalhar o caos ou, se na ignorância, elas acreditam que é real”, diz o neurologista.



Brigas  – No supermercado Carioca, localizado em bairro de mesmo nome, o termômetro que lembra pistola foi desativado há dois dias diante da quantidade de reclamações.

“O cliente começa a brigar, criticar que não temos direito a fazer isso. Eles não entendem que é para o próprio bem da pessoa”, afirma o gerente Flávio Aranda, de 42 anos, em busca de uma situação correspondente à raiva que as pessoas externam diante do aparelho.

Cliente do supermercado, o vigilante Ricardo Martins, 31 anos, afirma que o campo-grandense é teimoso. “Acha que nada vai acontecer”, diz.  No caso do supemercados, o uso do termômetro é recomendado.

Medição no pulso é pedida por clientes, mas termômetro foi feito para aferir temperatura na testa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Medição no pulso é pedida por clientes, mas termômetro foi feito para aferir temperatura na testa. (Foto: Henrique Kawaminami)

Notas técnicas e QR code - No Shopping Norte Sul, foi preciso divulgar laudos técnicos, acessíveis pela tecnologia em que celulares fazem a leitura do QR Code, para esclarecer os clientes sobre a fake news, pois houve rejeição ao termômetro. Até supostos médicos alegaram objeção.

Cartaz detalha que é utilizado o termômetro infravermelho, de precisão temporo-frontal (aferição na testa), e que a utilização do equipamento não causa dano à saúde.

De acordo com o titular da Semadur (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana ), Luís Eduardo Costa, a Vigilância Sanitária vai divulgar nota técnica.

No Shopping Norte Sul, foi preciso divulgar nota técnica sobre termômetros diante do medo dos clientes. 
No Shopping Norte Sul, foi preciso divulgar nota técnica sobre termômetros diante do medo dos clientes.


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