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Capital

“Falta um pedacinho”, diz irmã de jovem morta há 1 ano no carro do namorado

Bruna Moraes, 22, foi assassinada na noite do dia 1º de setembro de 2021, e família cobra solução

Anahi Zurutuza | 02/09/2022 15:32
Rua Camaru, no Jardim Itamaracá, onde Bruna foi atingida pelos tiros. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Rua Camaru, no Jardim Itamaracá, onde Bruna foi atingida pelos tiros. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Há um ano, os encontros no fim da tarde, no fim de semana e os almoços de família já não são mais os mesmos. “É como se toda vez que a gente se reunisse, faltasse um pedacinho. Era a alegria da família, contaminava todo mundo com a alegria”, define a cuidadora de idosos, Joice Salazar, de 26 anos, sobre como foi passar os últimos 12 meses sem a irmã Bruna Moraes Aquino, jovem assassinada aos 22 anos, no Jardim Itamaracá, em Campo Grande.

A vítima estava no carro do namorado, o vendedor Ewerton Fernandes da Silva, de 34 anos, que também foi baleado, e levou dois tiros na região do pescoço, disparados por um homem que se aproximou pelo lado do passageiro. O crime, que aconteceu na noite do dia 1º de setembro de 2021, ainda é um mistério para a família de Bruna, que tem certeza que não haveria motivo para a jovem, mãe de uma menininha que hoje tem 3 anos, ser alvo de um atentado.

Além da saudade, a angústia também é companhia diária, segundo Joice. “Minha vó sofre muito, minha tia, minha mãe. Não só a falta dela, mas de olhar pra minha sobrinha e ver que ela vai crescer sem a mãe dela. O sentimento também é de revolta, porque a gente não tem uma resposta. Sabemos que a justiça de Deus não falha, mas queremos a justiça dos homens também”.

Bruna Moraes, que era a alegria nos encontros de família, segundo a irmã. (Foto: Reprodução das redes sociais)
Bruna Moraes, que era a alegria nos encontros de família, segundo a irmã. (Foto: Reprodução das redes sociais)

A cuidadora de idosos se lembra da irmã sempre tranquila, responsável por fazer a conciliação durante as discussões de família, sua companhia quase que diária. “Ela sempre estava na minha casa. Éramos muito próximas. Dois dias antes do que aconteceu, encontrei minha irmã, a gente conversou, a gente riu”.

Joice também não pôde deixar de recordar que a irmã era ótima mãe, uma jovem cheia de planos e estava prestes a ter a carteira assinada em loja de bijouterias no Centro, onde trabalhou por período em experiência. “Ela estava super feliz, empolgada, empenhada com o novo emprego. Morava sozinha com a filha, cuidava de tudo. A gente só quer que não esqueçam, que investiguem. Tem sido muito difícil, nunca pensei em passar por uma situação dessas. Eu sei que não vai trazer ela de volta, mas nós temos de descobrir quem fez isso com ela”.

Ewerton Fernandes da Silva, dez dias após o crime, quando prestou depoimento e ainda se recupera do tiro que levou. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Ewerton Fernandes da Silva, dez dias após o crime, quando prestou depoimento e ainda se recupera do tiro que levou. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

O crime – Era noite e Bruna estava com o namorado Ewerton em um VW Gol prata, em uma rua de chão, próxima ao macroanel rodoviário, quando o atirador, até hoje não identificado, usando roupas escuras e capacete, se aproximou do veículo a pé, parou do lado da porta do passageiro e disparou contra o casal. Em áudio entregue pelo namorado à polícia, é possível ouvir três disparos e o ronco de motor de motocicleta.

A gravação de 40 segundos, segundo Ewerton, é do momento em que ele falava ao telefone e foi surpreendido pelo atirador. "Uai, acabei de falar para você que eu já vou aí levar o dinheiro", diz Ewerton. A fala é interrompida por dois disparos.

"Ai, ai... eita porr...", grita o rapaz, pouco antes de um terceiro disparo. "Ah, meu Deus", encerra o áudio. Não é possível ouvir a voz de Bruna, mesmo ela estando sentada ao lado do namorado, dentro de um veículo Gol. À época, veracidade da gravação foi confirmada pelo advogado do vendedor, Raimundo Rodrigues Nunes Filho, e também por testemunhas indicadas pelo rapaz. Ouça:

Após o ataque, Ewerton acelerou o carro e foi para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Universitário, com a namorada inconsciente. No primeiro depoimento na delegacia, ele disse que não sabia quem seria o autor dos disparos, mas contou que três dias antes, entre 29 e 30 de agosto, ele e Bruna foram perseguidos por dois homens em uma moto, que atiraram contra o carro, depois de confusão em casa noturna na Ernesto Geisel com a Salgado Filho.

Daquele dia, Ewerton também disse se lembrar de ter feito o mesmo caminho de todos os dias. Acompanhado de Bruna, ele passou em casa para buscar uma muda de roupa, que usaria mais tarde, no aniversário de um amigo, e saiu em direção ao Bairro Tiradentes, onde ele e Bruna pagariam dívidas “de agiota” e também receberiam dinheiro de um cliente. Ele era vendedor de roupas e o atentado foi na rua de trás da casa do rapaz.

Sobre as supostas dívidas, Joice garante que não eram da irmã. “A gente foi atrás. Ela não devia nada”.

A polícia também apurava se o crime tinha ligação com a extensa ficha criminal de Ewerton e se teria sido motivado por vingança. O inquérito está sob a responsabilidade do delegado Christian Mollinedo, da 4ª DP (Delegacia de Polícia). Como ele assumiu o caso em julho, pediu mais prazo ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) para continuar as investigações.

De acordo com a Polícia Civil, já foram ouvidas várias testemunhas, mas ainda não há suspeitos e nem se chegou à conclusão se a vítima era o alvo do ataque ou o namorado dela.

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