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Capital

Famílias reconstroem barracos na beira do rio Anhanduí menos de 12h após despejo

Moradores de rua passaram a noite ao relento e improvisam novas "casas" neste sábado

Ana Oshiro e Bruna Marques | 11/09/2021 13:22
Horas após despejo, moradores de rua começaram a reerguer barracos (Foto: Henrique Kawaminami)
Horas após despejo, moradores de rua começaram a reerguer barracos (Foto: Henrique Kawaminami)

Neste sábado (11), menos de 12h após serem despejados pela prefeitura de Campo Grande, cerca de 20 famílias estão reerguendo e refazendo os barracos onde moravam debaixo do viaduto, às margens do Rio Anhanduí, no cruzamento das avenidas Ernesto Geisel e Manoel da Costa Lima.

"Se me tirarem 10 mil vezes, vou voltar todas elas. Se não derem casa não vou sair, estou aqui porque preciso", disse a vendedora ambulante Rodislene Santos de Barros, de 36 anos, que mora há 22 anos no local e passou a noite ao relento junto com o marido.

De acordo com os moradores, os funcionários da prefeitura não deram tempo suficiente para que eles retirassem os pertences. "Eles destruíram tudo, meu barraco era de madeira, estava construindo ainda. Perdi tudo, até alimentos, ração dos animais, roupa, tudo que eu tinha", contou Leila Coelho, de 45 anos, que trabalha como cozinheira rural e morava sozinha com os dois cachorros debaixo do viaduto.

Leila perdeu até alimentos e ração dos cachorros que moram com ela (Foto: Henrique Kawaminami)
Leila perdeu até alimentos e ração dos cachorros que moram com ela (Foto: Henrique Kawaminami)

Leila ainda reforçou que não tem onde morar e que vai reerguer o barraco todas as vezes que for preciso. "Se derrubar, eu ergo de novo ou eles me dão uma casa. Assistência social vem aqui, faz cadastro pra ganhar casa e nunca vi resultado nenhum. Trazer uma cesta básica não trazem, mas vem destruir tudo", disse a cozinheira.

Vivendo às margens do rio há um ano, Roneverson Franca dos Santos, de 31 anos, vende artesanato e doces no sinaleiro, junto com a esposa, e contou à reportagem que perdeu até os documentos. "Deram 10 minutos pra tirar as coisas, não deu tempo de salvar nem os documentos, a única coisa que achei foi meu cartão do SUS", disse o vendedor ambulante.

Roneverson conta que passou a noite no frio junto com a esposa, ao relento (Foto: Henrique Kawaminami)
Roneverson conta que passou a noite no frio junto com a esposa, ao relento (Foto: Henrique Kawaminami)

Assim como os outros entrevistados, eles também disseram que vão construir tudo de novo. "Porque não podemos morar aqui? Dá casa pra nós então, simples. A gente trabalha, não estamos roubando. Se tirar de novo, nós faz de novo", disse Roneverson, contando ainda que passaram a noite com frio, sem lugar para dormir.

Poucas horas depois da destruição já teve quem reerguesse o "teto" para passar a noite, foi o caso de Reginaldo Rodrigues da Rocha, de 47 anos, que trabalha com serviços gerais e mora baixo do viaduto com a esposa há dois meses.

"Eles destruíram tudo, não conseguimos pegar nada, perdemos cobertor, roupa, colchão. Quando eles foram embora nós voltamos e erguemos uma lona, um cercado de tábua e dormimos. Se voltarem, a gente sai e depois volta de novo", desabafou Reginaldo.

A prefeitura informou que a ação faz parte do Seas (Serviço Especializado de Abordagem Social), que consiste em busca ativa e abordagem social nas ruas, ofertando os serviços do Centro Pop durante o dia e do Centro de Triagem do Migrante (Cetremi) durante a noite, que é uma casa de acolhimento, onde são ofertados pernoite, alimentação e higiene pessoal.

Segundo a prefeitura, muitos moradores de rua são usuários de álcool e outras drogas e negam atendimento, porque sabem que sendo encaminhados ao Centro Pop, irão ficar sem os entorpecentes.

Local onde moradores de rua viviam foi "limpo" com ajuda de tratores (Foto: Henrique Kawaminami)
Local onde moradores de rua viviam foi "limpo" com ajuda de tratores (Foto: Henrique Kawaminami)


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