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Capital

Fim de convênio com entidades deixa sem-teto e sem creche pela cidade

Aline dos Santos, Rafael Ribeiro e Richelieu de Carlo | 19/12/2016 13:10
Maria viu quintal de casa encher de netos com antecipação de férias na creche. (Foto: Alcides Neto)
Maria viu quintal de casa encher de netos com antecipação de férias na creche. (Foto: Alcides Neto)
Maykeir teve que adiar os "bicos" para cuidar do filho.(Foto: Alcides Neto)
Maykeir teve que adiar os "bicos" para cuidar do filho.(Foto: Alcides Neto)

Criança sem creche, pessoas sem-teto e idosos sem espaço de convivência. Os efeitos da ordem da Justiça para a prefeitura de Campo Grande rescindir o convênio com a Omep (Organização Mundial para Educação Pré-Escolar) e Seleta (Sociedade Caritativa e Humanitária) se espalham pela cidade. Ao todo, a administração municipal deixa de contar com a mão de obra de 4 mil pessoas.

Nos Ceinfs (Centros de Educação Infantil), as férias foram antecipadas. O calendário previa aulas até o dia 22 (quinta-feira), mas hoje as portas já estão fechadas. No Jardim Noroeste, o Ceinf fechou e o quintal de Maria de Fátima Nascimento, 52 anos, se encheu de crianças. Ela cuida de 13 netos e dois bisnetos, sendo quatro alunos da creche.

“Minha neta de 19 anos trabalha como auxiliar administrativo no Centro e estou tomando conta da bisneta por conta do problema na creche. É uma preocupação a mais que nós temos, onde deixar as crianças”, afirma. Maria diz que a meninada traz alegria para a casa, mas avalia que a creche é melhor por contar com atividades direcionadas ao aprendizado.

Maykeir Queiroz, 30 anos, teve que adiar os “bicos”, serviços esporádicos que faz como açougueiro e na construção civil, para cuidar do filho de dois anos. A família veio há três meses de Marília, interior no São Paulo.

No Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante), no Parque dos Poderes, o atendimento foi suspenso desde sábado. O local foi criado para atender moradores de rua, mas, com o avanço das drogas, virou ponto de acolhida de usuários.

Para manter o atendimento ininterrupto, são necessários ao menos 25 funcionários, mas apenas seis são concursados. O fechamento do Cetremi colocou 90 pessoas na rua. Boa parte se abrigou embaixo de viaduto perto do bairro Maria Aparecida Pedrossian, na saída para Três Lagoas.

Com fechamento do Cetremi, solução foi dormir em viaduto. (Foto: Alcides Neto)
Com fechamento do Cetremi, solução foi dormir em viaduto. (Foto: Alcides Neto)
CCI Vovó Ziza foi fechado hoje. (Foto: Richelieu de Carlo)
CCI Vovó Ziza foi fechado hoje. (Foto: Richelieu de Carlo)

No CCI Vovó Ziza (Centro de Convivência do Idoso), na rua Joaquim Murtinho, já começou o período de recesso. Contudo, mesmo sem a programação regular, a reportagem foi informada de que o imóvel ficava aberto para os alunos que quisessem ir conversar com os colegas. Nesta segunda-feira, o local foi fechado.

Na semana passada, o juiz da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, David de Oliveira Gomes Filho, determinou a extinção dos contratos. A prefeitura divulgou comunicado na última sexta-feira (dia 16) informando que todos os funcionários contratados pelas duas entidades tiveram a atividade laboral interrompida e não podem ter acesso aos locais onde desempenhavam as suas funções.

O pedido de extinção dos convênios partiu do MPE (Ministério Público Estadual), que já vinha apurando irregularidades e, por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), realizou na terça-feira (13) a Operação Urutau, que resultou na prisão dos presidentes de ambas entidades conveniadas ao poder público. O Ministério Público classificou os convênios como “indústria de fantasmas”.

Para substituir os 4 mil funcionários, o MPE recomendou que a prefeitura faça contratos temporários com trabalhadores que ocupem cargos em unidades que oferecem serviços essenciais.

Protesto – Os funcionários das entidades fizeram protesto em frente à prefeitura e o Fórum nesta segunda-feira. O prefeito Alcides Bernal (PP) disse que vai entrar com recurso contra a decisão. Outra alternativa é fazer contratação emergencial.

Presidente do Senalba (Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional), Maria Joana Barreto Pereira disse que o sindicato vai entrar com ação coletiva para garantir os direitos dos trabalhadores.

Funcionários protestaram hoje na prefeitura. (Foto: Fernando Antunes)
Funcionários protestaram hoje na prefeitura. (Foto: Fernando Antunes)
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