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Capital

Fonoaudiólogo pedia segredo no final das consultas, denuncia mãe

Mais vítimas procuraram a delegacia na tarde de hoje e polícia intimou dono de clínica para prestar depoimento

Dayene Paz, Ana Beatriz Rodrigues e Bruna Marques | 15/03/2022 16:26
Fonoaudiólogo no momento em que foi levado para delegacia na semana passada. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fonoaudiólogo no momento em que foi levado para delegacia na semana passada. (Foto: Henrique Kawaminami)

Como se fosse um zíper, passando os dedos pela boca, o fonoaudiólogo Wilson Nonato Rabelo Sobrinho pedia segredo para seus pacientes após os abusos. É o que diz a denúncia de uma mãe, que procurou a delegacia de Polícia Civil na tarde desta terça-feira (15). O fonoaudiólogo foi preso em Campo Grande no último dia 9 de março por suspeita de estuprar crianças durante os atendimentos.

Depois da divulgação do primeiro caso pela mídia, vários pais começaram a procurar a polícia. São, até o momento, sete denúncias que chegaram para a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente). No entanto, ainda estão sob investigação.

A mãe de uma das vítimas, um menino de cinco anos, estava em estado de choque enquanto esperava atendimento na delegacia especializada nesta tarde. Ela decidiu procurar a polícia depois de ser alertada por uma amiga sobre a prisão do suspeito.

Ao Campo Grande News, contou que o filho começou a fazer tratamento com uma fonoaudióloga, quando tinha dois anos de idade, para investigar autismo. A profissional fazia o atendimento no mesmo local em que o suspeito atuava. Na época, a mãe descobriu que o filho tinha TDAH, uma doença crônica que inclui dificuldade de atenção, hiperatividade e impulsividade.

No entanto, após alguns meses, a fono deixou a clínica. "Ela não poderia atender mais, então perguntei na clínica se havia alguém para indicar. A menina da recepção falou que tinha um especialista que estava atendendo os casos da fono que foi embora", contou a mãe.

Início dos abusos - Então, em abril do ano passado, a criança começou a tratar com o suspeito. Sete meses depois, em novembro, a mãe notou comportamento diferente do filho ao sair de uma consulta. "Por volta das 10 horas, quando meu filho saiu do consultório e não olhou no meu rosto. Ele entrou no carro e ficou segurando o pirulito muito forte", lembra.

A mãe o questionou se havia ocorrido algo, mas o menino respondeu com a cabeça negativamente. "Fiquei incomodada e, por volta das 14 horas, mandei mensagem para o fonoaudiólogo. Ele mandou áudio com coisas que não davam para entender e num segundo áudio, repetia as mesmas coisas, dizendo que fez as atividades", relata.

"Aquele momento, eu fiquei com um sexto sentido, até que vieram as férias. Durante uma conversa nesse período, meu filho falou: 'Eu acho que ele é menina, porque sai leite dele'. Na hora, fiquei em choque, sem reação e perguntei: 'Me mostra por onde sai?', e ele respondeu que era brincadeira", lembra a mãe.

A mulher ficou preocupada e, ao mesmo tempo, com medo de acusá-lo, pois o filho falava palavras picadas. O menino voltou a fazer tratamento e no último domingo (13), uma amiga da mulher mandou mensagem com a notícia da prisão do fonoaudiólogo. "Abriu um buraco na minha frente e não sabia o que fazer, não sabia como abordar o meu filho", revela.

Foi então que ela arrumou uma maneira de abordá-lo. "Falei para meu filho que tinha arrumado outra fono, porque o atual não estava passando as atividades, então ele respondeu: 'É mesmo mamãe, ele só fica chacoalhando o pipi (sic)'".

Além disso, o menino relatou que, ao final das consultas, o homem pedia segredo. "Passava a mão na boca como se fosse um zíper, como se estivesse falando boca fechada, não conta para ninguém", descreve a mulher. Em choque e muito abalada, a mãe procurou a delegacia. "Eu não sei o que vai ser da minha vida daqui para frente", finalizou.

Casos - Com esse caso, três crianças já relataram ter sofrido o abuso. A delegada Fernanda Félix afirma que pais de outras vítimas, entre 2 a 5 anos, procuraram a delegacia, mas pelo fato de que já fazem tratamento da fala, não conseguiram relatar abuso. A orientação é que os pais procurem um tratamento psicológico continuado, a partir daí, as crianças podem dizer se houve algum tipo de abuso sexual.

A delegada intimou o proprietário da clínica para prestar depoimento na delegacia. Também pediu a relação de todos os pacientes infantis atendidos pelo fonoaudiólogo suspeito de estupro. As crianças passarão pelo atendimento no setor psicossocial da delegacia. O fonoaudiólogo permanece preso.

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