Pais relatam abusos de fonoaudiólogo: "Colocava a mão por dentro do short"
Duas crianças conseguiram relatar abusos para a polícia; delegada orienta que pacientes procurem a delegacia
Pais procuraram a polícia, nesta terça-feira (15), para relatar os abusos sofridos pelo filho, de 8 anos, que fazia tratamento com o fonoaudiólogo preso na última quarta-feira (9), em Campo Grande, suspeito de abusar de um menino durante atendimento. A criança é a segunda vítima que conseguiu relatar o abuso. Outras quatro possíveis vítimas procuraram a delegacia, mas as crianças são pequenas e não conseguiram relatar qualquer situação.
Na sala da delegada Fernanda Félix, titular da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), os pais do menino conversaram com a reportagem do Campo Grande News. A mãe, de 39 anos, contou que não desconfiou de alguma mudança de comportamento, pois o filho já tinha dificuldade na fala e fazia terapia.
O que alertou foi a própria divulgação do caso pela mídia. "Eu vi a notícia, comentei com meu marido e, em seguida, recebi a foto do fonoaudiólogo. Assim que cheguei em casa, chamei meu filho para conversar", explica.
A mãe então perguntou para a criança como foram as sessões e os exercícios que o fonoaudiólogo fazia. "Ele perguntou por que eu queria saber", lembra. "Respondi: 'Filho, ele fez uma coisa muito feia, passava a mão nos meninos'". A criança então, aos poucos, conseguiu relatar para os pais o que havia ocorrido dentro do consultório. "Meu filho falou que o fono mandava deitar, então, perguntei o que ele falava no momento, disse que falava que não queria e ele [fonoaudiólogo] parou".
Após o breve relato, o menino não quis mais falar sobre o assunto com a mãe, afirmando que não se lembrava. "Eu disse: 'Filho, você tem que se lembrar e me contar'. Ele respondeu que tentaria e me falava", lembra a mãe. "Depois, perguntei se tinha lembrado e disse que sim. Falou que o fono só tentava e ele falava que não", conta. A criança então foi questionada sobre o porquê não contou aos pais do abuso. O menino respondeu que como o fonoaudiólogo parava ao se negar, então, não contou.
Depois de conversar com a mãe, o pai, homem de 40 anos, também tentou descobrir mais sobre o crime. Durante uma conversa, a criança revelou o que ocorria. "Perguntei se tirava a roupa e ele disse que não. Contou que deitava na maca e o fono colocava a mão por dentro do short para mexer no pênis, momento em que meu filho falava não."
Sessões - Segundo o pai, a orientação era não acompanhar as sessões de aproximadamente 30 minutos. "Ficava na recepção, às vezes, esperava dentro do carro no estacionamento com as nossas outras duas filhas", explica.
Por algumas vezes, a criança foi até o consultório levada pela avó materna. Nestas ocasiões, o fonoaudiólogo mostrava como eram os exercícios para fazer em casa, o que parecia normal. "Nos últimos dias de sessões, ele deu um ataque com a minha mãe, porque disse que a criança não estava fazendo os exercícios e que se fosse assim, não iria jogar o nome dele no lixo, pois era profissional", lembra a mãe da criança.
As sessões do menino duraram quatro meses e finalizaram quando ele retornou para as aulas, ainda em janeiro deste ano. Ao responder a reportagem sobre o que sentiu no momento em que soube do abuso, a mãe chorou. "Parece que você não cuidou direito do seu filho."
A delegada afirma que pais de outras vítimas, entre 2 a 5 anos, procuraram a delegacia, mas pelo fato de que já fazem tratamento da fala, não conseguiram relatar abuso. A orientação é que os pais procurem um tratamento psicológico continuado, a partir daí, as crianças podem dizer se houve algum tipo de abuso sexual.
A delegada Fernanda Félix explica que a criança citada foi ouvida pelo setor psicossocial da delegacia, assim como as outras vítimas, todos meninos. "A prática criminosa relatada pela vítima se assemelha à prática relatada com a vítima anterior", revelou.
Fernanda Félix afirma que é importante a divulgação do caso, para que os pais das crianças já atendidas pelo fonoaudiólogo procurem a delegacia. "Quanto mais crianças identificarmos, mais tempo ele vai ficar preso, por isso, a importância da mídia nesse caso, um chamamento das crianças que foram atendidas por esse profissional pedófilo", disse. "Acredito que você cuidou muito bem do seu filho", finalizou a delegada.