Furto a banco na Afonso Pena revela quadrilha treinada por ladrões de SP
Bandidos usam técnica chamada "pescador" para furtar envelopes e tem ligação com motoristas de aplicativo.
Quatro homens estão presos e 3 são procurados por furtar 11 caixas eletrônicos usando técnica conhecida como “pescador”. A quadrilha começou a ser descoberta na última sexta-feira (3), com a prisão em flagrante de dois irmãos que tentavam tirar envelopes com dinheiro de depósitos em caixa do Santander, na Avenida Afonso Pena. Um deles, de 22 anos, é estudante de Direito e trabalha como Uber.
O esquema foi detalhado em coletiva de imprensa no Garras (Grupo de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), que ligou os dois a outra série de crimes desvendados nesta semana, de roubo de veículos com participação de motoristas de aplicativo.
Segundo as investigações, o plano foi traçado por Juan Cappuzelo, de 33 anos, que já estava preso com a esposa pelo mesmo tipo de furto, mas continuava a comandar os comparsas de dentro Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande.
Interceptações mostraram que ele convocou o irmão por parte de mãe, ErickMatheus da Silva Ferreira, que vive em São Paulo, para vir até Campo Grande e treinar novos membros da quadrilha. Ele chegou em 14 abril e participou de, pelo menos, 6 ações na Capital, mas só retirou R$ 2 mil dos caixas.
Erick foi identificado porque em vídeos de circuito interno das agências aparece com uma tatuagem de diamante no branço e manca, por usar protese em uma das pernas. Antes de ser preso, ele voltou para São Paulo, mas o restante da quadrilha continuou agindo.
Segundo o Garras, no total o grupo foi responsáveis por 11 furtos em Campo Grande, Sidrolândia, São Gabriel do Oeste e Rio Verde. Mas o resultado não foi o esperado. No último furto, ao Santander, levaram apenas R$ 14,00. "Furtaram mixaria. Tinham de fazer até 5 ações por dia para ter retorno", comenta o delegado Fábio Peró.
Na sexta-feira passada, foram presos os irmãos Luis Fernando, de 22, e Luis Gustavo da Silva Cavalheiro, de 23 anos. O primeiro, estudante de Direito e motorista de aplicativo, disse à polícia que não integrava mais a quadrilha, porque na segunda ação "percebeu que a história era errada" e desistiu. A Luis Fernando, cabia transportar os ladrões, por ser Uber e não despertar suspeitas.
O primeiro contato com a quadrilha foi por transportar esposas de presos em dias de visita ao complexo penal. Depois, foi procurado via Whatsapp por Juan, que o contratou para transportar o irmão Erick da Rodoviária de Campo Grande até Rio Verde.
Ainda na Capital, o motorista teve de pegar outro membro do grupo, identificado apenas como "Nego Joia". Os três seguiram para Rio Verde, mas em Bandeirantes os dois passageiros pararam para a primeira ação, em agência bancária. Luis diz que depois da viagem, desistiu do trabalho e repassou os contatos para o irmão.
Nos vídeos de agências, analisados pela polícia, o irmão dele, Luis Gustavo aparece escondendo as "réguas" em uma capa de violão, as varas inseridas nos caixas para puxar os envelopes. Uma, de fórmica quebrou e a partir dai o grupo desenvolveu uma nova ferramenta mais resistente, em material de alumínio. A régua quebrada e retida por um dos caixas eletrônicos também serviu como pista para ligar o grupo a Juan, que já usava varas de fórmica em ações no interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Aplicativos - Durante a investigação, a polícia também descobriu a participação de Atilano Batista da Costa, 36 anos, o Gordão, já preso por comandar roubos de veículos de motoristas de aplicativos de Campo Grande. Ele entrou para a quadrilha depois da desistência de Luis Fernando e passou a fazer os transportes.
O Garras busca outros dois envolvidos nos furtos em Campo Grande, que fugiram na sexta-feira passada após a prisão dos irmão. Também tem mandado contra Erick, que ainda não foi localizado em São Paulo. Segundo a Polícia, ele fugiu depois de ser avisado pelo motorista de aplicativo.
Juan foi o único a falar com a imprensa hoje e negou a participação nos furtos. "Quero ver provar que eu dei a ordem. Estou há dois meses sem falar com a minha família. O que eu fiz há 3 meses eu vou pagar, o resto não".