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Capital

Gestão de Bernal e Olarte fez 10 vezes menos asfalto que prefeito anterior

Luana Rodrigues, Ricardo Campos Jr. e Julia Kaifanny | 01/11/2016 09:53
Rua Judson Tadeu Ribas, uma das únicas a serem asfaltadas nesta gestão. (Foto: Fernando Antunes)
Rua Judson Tadeu Ribas, uma das únicas a serem asfaltadas nesta gestão. (Foto: Fernando Antunes)
Corredor paralelo a Avenida Consul Assaf Trad, no Nova Lima. (Foto: Fernando Antunes)
Corredor paralelo a Avenida Consul Assaf Trad, no Nova Lima. (Foto: Fernando Antunes)
Rua dos Pracinhas, sem asfalto, bairro Nova Lima. (Foto: Fernando Antunes)
Rua dos Pracinhas, sem asfalto, bairro Nova Lima. (Foto: Fernando Antunes)
Por causa da chuva, lagoa se forma em rua no jardim Carioca. (Foto: Direto das Ruas)
Por causa da chuva, lagoa se forma em rua no jardim Carioca. (Foto: Direto das Ruas)

A Prefeitura de Campo Grande implantou 26 quilômetros de asfalto na cidade de 2013 para cá, quando Alcides Bernal (PP) iniciou um mandato marcado por cassação do titular, ascenção e queda do vice, Gilmar Olarte (Pros). O número é 10 vezes menor que a média do prefeito anterior, Nelsinho Trad (PTB).

O dado mais recente é da assessoria de imprensa da Prefeitura e considera obras feitas de 2013 até agora. A média é de 6,5 quilômetros por ano.

Já a assessoria de Nelsinho informa que, nos oito anos de seus dois mandatos, de 2005 a 2012, foram feitos 540 quilômetros de asfalto na cidade. Ou seja, média de 67,5 km ao ano.

Espera sem fim – Uma espera que parece sem fim. Em alguns bairros de Campo Grande, moradores estão há pelo menos 30 anos aguardando a construção de asfalto nas ruas onde vivem. 

Para quem vive em ruas de terra,  realidade é conhecida: quando está sol o problema é a poeira e, se chove, lama e enxurrada impedem até que muita gente saia de casa.

Exemplo é o caso da empregada doméstica Alessandra Teodoro, de 42 anos. Morando há 38 anos em uma sem asfalto no Nova Lima, em dias de chuva ela não consegue guardar o carro em casa.

“As pedras que têm na rua de cima vêm descendo, daí não dá para entrar nem sair da minha casa. Promessa todo ano tem, mas parece que o Nova Lima nunca vai ter asfalto”, teme a moradora.

Em uma das avenidas mais conhecidas do bairro, a Cândido Garcia de Lima, quem vive há mais 30 anos esperando o asfalto é Irma Camargo, 68 anos.

“Fiquei sabendo que a avenida consta como asfaltada na prefeitura, e acho que é verdade, porque o IPTU vem bem alto. Acho que a gente paga a taxa de asfalto, mas como a rua não é linha de ônibus, apesar de ser uma avenida, eles vão deixando para lá, e os moradores precisam conviver com buracos e pedregulhos, que estão virando crateras”, conta.

No Jardim Carioca, a situação é a mesma. Uma leitora, que prefere não se identificar, procurou o Campo Grande News, pelo canal Direto das Ruas, para denunciar o que classifica como "descaso".

"Nós precisamos de ajuda, não tem como sair de casa, minha mãe tem câncer. Como eu faço para sair nessa situação?", descreveu.

Rua Sacadura Cabral. (Foto: Fernando Antunes)
Rua Sacadura Cabral. (Foto: Fernando Antunes)

Contemplados – Quem teve a sorte de sair desta vida e recebeu o asfalto entre ano passado e este ano, foram os moradores da região do Complexo Mata do Jacinto.

Segundo a prefeitura, 69 ruas da região, uma extensão de 26 quilômetros, foram as únicas a receber asfalto na atual gestão. Só para lembrar, nos últimos quatro anos Campo Grande foi governada por Alcides Bernal, de janeiro de 2013 a março de 2014, depois por Gilmar Olarte, até agosto de 2015, quando novamente Bernal voltou ao cargo, mantendo-se até o momento.

Moradora da Rua Sacadura Cabral, no Nova Lima, a funcionária pública Norma Lucia Vieira, de 50 anos, comemora a novidade, mas diz que esperou 20 anos pelas ruas mais limpas, sem poeira, lamas ou buracos.

“Passei muito tempo reivindicando asfalto, chegamos a fazer pedidos oficiais, até que começaram. Era muito feio, quando chovia era um transtorno, tinha muita lama. Cheguei a ficar presa em casa um dia. Agora é outra vida”, considera.

Tatuador, Alex Almeida, 41 anos, que mora na Rua Judson Tadeu Ribas, disse que chegou a perder clientes quando o bairro não tinha asfalto. “Era um barreiro, certo dia marquei com dois clientes e eles atolaram na rua. Por isso digo que melhorou até no sentido comercial. O asfalto é de qualidade, ficou bem diferente do que era”, comemora.

Segundo a Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação), as obras orçadas em R$ 36,1 milhões, contemplam os bairros Vila Nascente, Danúbio Azul, Vila Tayana, Futurista e Bosque da Esperança e são parte do do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) II.

Além do asfalto, nas ruas contempladas foram implantadas sinalização horizontal e vertical e calçamento com piso tátil em 100 calçadas.

Manhã de 25 de agosto de 2015, Gaeco na Câmara Municipal de Campo Grande: era a Operação Coffee Break (Foto: Arquivo / Fernando Antunes)
Manhã de 25 de agosto de 2015, Gaeco na Câmara Municipal de Campo Grande: era a Operação Coffee Break (Foto: Arquivo / Fernando Antunes)

Culpa de quem? - A Prefeitura de Campo Grande coloca a "culpa" da falta de investimentos e obras na instabilidade política no período da atual gestão. A principal justificativa é de que Bernal não ocupou o cargo exatamente por quatro anos. 

Após o prefeito ser cassado pela Câmara Municipal, em março de 2014, o vice Olarte é quem assumiu a prefeitura. Em agosto do ano seguinte, novo troca-troca, quando foi às ruas a Operação Coffee Break, investigação sobre compra de votos de vereadores para cassar Bernal.

Diante do cenário político conturbado, Campo Grande viu uma série de prisões e ainda vive com a Prefeitura sob disputa judicial. O que não chegou para muitos moradores ainda, e agora será responsabilidade da próxima gestão, é o tão esperado asfalto.

Corredor paralelo a Avenida Consul Assaf Trad, no Nova Lima. (Foto: Fernando Antunes)
Corredor paralelo a Avenida Consul Assaf Trad, no Nova Lima. (Foto: Fernando Antunes)
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