Gestora sugere que falha em manipulação pode explicar "sumiço" de vacinas
A enfermeira que trabalha na coordenação dos quatro distritos de saúde de Campo Grande e foi prestar depoimento nesta sexta-feira (17) na investigação sobre o "sumiço" de doses de vacina contra a gripe A na rede pública de saúde afirmou que, caso a situação seja comprovada, ela pode ser explicada por possíveis falhas de manipulação durante a aplicação.
A servidora municipal, acompanhada do delegado Luiz Carlos Bueno, conversou com o delegado do 1º DP (Delegacia de Polícia Civil), Fabiano Nagata, por cerca de duas horas. A possível falha de manipulação seria ocasionada durante a "correria do dia a dia dos postos", fazendo com que frascos seguem quebrados, por exemplo.
"Uma coisa que eu não sabia e a testemunha também explicou é que, quando as doses são aspiradas pela seringa, elas tem que ser na quantidade exata. Se pegar a mais, não pode devolver o líquido, então ele é descartado. Isso pode dar diferença na quantidade de doses que são aplicadas com um frasco", diz o delegado.
Logo quando a questão da falta de vacinas foi exposta na imprensa, a prefeitura alegou que os frascos, ao invés de 10, continham apenas oito doses. O fornecedor, o Instituto Butantan, negou tal fato e ainda indicou que a diferença seria explicada por erros cometidos no momento da aplicação, tal como a enfermeira disse hoje.
"Ela é a encarregada de distribuir essas vacinas e também medicamentos dos distritos para os postos. Não faz aplicações, mas como tem formação em Enfermagem, explicou que eventualmente esse erro pode acontecer. Ela também disse desconhecer os fatos denunciados [desvio de vacinas e aplicação em pessoas fora do grupo de risco]", frisa Bueno.
Sem indícios e esclarecedor - Além disso, Luiz Carlos Bueno conta que o depoimento da enfermeira, como testemunha, corrobora com a dito por outra cliente dele, a técnica do Serviço de Imunização da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Cássia Kanoaka. A fala do delegado Nagata vai de encontro com a afirmação do advogado.
"O depoimento hoje trouxe vários esclarecimentos e também não deixou indícios. As informações obtidas aqui podem ser muito úteis para o futuro. As falas não deixaram indícios de nenhuma irregularidade cometida, por enquanto", revela Nagata, que segue com as investigações. "Muitas coisas podem aparecer ainda, não há como cravar nada".
Questionado sobre como tais falhas de manipulação poderiam ter ocasionado o "sumiço" de mais de 30 mil doses (como apura CPI aberta na Câmara), o delegado foi cauteloso ao dizer que ainda não há como falar em número de vacinas, já que a situação não foi comprovada e há apenas denúncias, sem materialização.
A possibilidade de usar exames, como o de sangue, para tentar provar se os suspeitos foram vacinados, foi descartadas pelo delegado. "Não sei nem se é possível. Se for, não pretendo chegar a esse ponto. Acho que expõe às pessoas a uma situação vexatória. É desnecessário", comenta.