Há anos no mesmo local, Lúcio é guardião de vaga exclusiva para idosos no Centro
Flanelinha quer ser fiscal oficial, com crachá e colete; ele cobra cartão obrigatório de estacionamento
Ele já é figura conhecida na região central e não é só pelo fato de trabalhar há mais de uma década no mesmo local, mas por atuar rigorosamente como fiscal de uma vaga exclusiva de estacionamento para idosos.
Trata-se de Lúcio Mauro de Oliveira Marques, de 46 anos, um cuidador informal de carros que, para ganhar uns trocados, sai para trabalhar todos os dias do Jardim Centenário, no sul de Campo Grande, e segue de ônibus até a Rua Dom Aquino, no cruzamento com a 14 de Julho, em Campo Grande.
Flanelinha, Lúcio auxilia os motoristas “da melhor idade” a manobrar seus veículos para ocupar as vagas de estacionamento reservadas. Ele defende com “unhas e dentes” a apresentação do cartão de autorização para parar ali. “Aqui ninguém para sem cartão porque é uma vaga para idosos. É proibido”, ressalta.
De acordo com Lúcio, normalmente, ele trabalha de segunda a sexta, das 8h às 18h, e folga somente aos domingos. Neste fim de ano, tem aproveitado o horário estendido do comércio para faturar um pouco mais. Com as gorjetas que recebe dos “clientes”, ele chega a ganhar de R$ 60 a R$ 80 ao dia.
As refeições também costumam contar com a colaboração dos comerciantes e clientes, como os da banca de revista transformada em cafeteria. “Ele está aqui todo dia e os clientes sempre compram alguma coisa para ele comer”, disse uma das atendentes que acabara de ofertar um café.
Com as economias, Lúcio pretende comprar uma boa cesta de Natal para passar a ceia com a tia, com quem mora, além de familiares. Para isso, tem feito “hora extra”. “Hoje vou até às 22h porque tem bastante gente comprando”, comentou no dia da entrevista.
Para muitos, ele é só o cara chato que se intromete na vaga alheia, o que muitas vezes lhe rende ofensas e xingamentos. “A pessoa fica brava comigo porque digo que aqui é lugar para idosos. Alguns dizem que idoso tem que ficar em casa”, lamentou.
Mas, para quem depende das vagas específicas e trafega em conformidade com as leis de trânsito, a função de Lúcio e sua atuação como guardião do espaço público é fundamental. Como ocorreu com o usuário cadastrado, Pedro Augusto de Souza, 67 anos, que contou com a ajuda do guardador para estacionar. “Essas vagas são fundamentais ao cidadão que já contribuiu a vida toda com sociedade e agora, deve ter ao menos uma retribuição e ele zela por isso”, disse o motorista, munido de seu cartão.
Lúcio lembra ainda que a vaga ao lado hoje está destinada a motos, mas que no passado era reservada a deficientes físicos. Ainda assim ele adotou o espaço e também cuida dos veículos de duas rodas, sempre salientando aos motociclistas para respeitarem o espaço dos idosos. Caso contrário, ele aciona o agente de trânsito mais próximo, para que a lei seja aplicada.
Trabalho seguro – Para contar com maior segurança e contribuir para sua visualização como “auxiliar oficial” do trânsito campo-grandense, Lúcio sonha em conseguir autorização da Prefeitura de Campo Grande para adquirir um colete refletivo e até mesmo uma carteira de identificação, que possa apresentar aos condutores.